RABISCOS SEMANAIS: Como ousam?

 23/03/2021 - 17:45hrs
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Malala Yousafzai, em 2014, devido ao seu engajamento e a busca por garantir o direito à educação das mulheres, tornou-se aos 17 anos, a pessoa mais jovem a ganhar o Prêmio Nobel da Paz. Atualmente, Malala, vive na Inglaterra com sua família. Há artigos, documentário na Netflix e um livro – Eu Sou Malala – escrito na companhia de Cristina Lamb, jornalista britânica, reverberando o protagonismo da jovem paquistanesa na luta pela educação e o empoderamento feminino.  

Greta Thunberg, ativista sueca, vocalizou indignação durante o encontro de líderes das nações unidas, em Nova York: “As pessoas estão sofrendo. As pessoas estão morrendo. Estamos no início de uma extinção em massa e tudo o que vocês falam gira em torno de dinheiro e um conto de fadas de crescimento econômico eterno. Como ousam?”  

António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas, convocara a reunião sob forte pressão da juventude mundial a solicitar redução das emissões de gases com efeito estufa. Papa Francisco, na carta encíclica “Laudato Si: sobre o cuidado da casa comum”, expressa que “as mudanças climáticas são um problema global com graves implicações ambientais, sociais, econômicas, distributivas e políticas, constituindo atualmente um dos principais desafios para a humanidade” (LS, n. 25).

A voz juvenil ecoou aos líderes das 60 nações reunidas, em 2019, durante a Cúpula do Clima na ONU: “Isso está errado, eu não deveria estar aqui. Eu deveria estar na escola, do outro lado do oceano [...]. Vocês ainda se aproximam de nós, jovens, para ter esperança. Como ousam? [...]. Vocês não são maduros o suficiente para dizer que estão falhando. Mas os jovens estão começando a entender a traição. Os olhos das gerações futuras estão virados para vocês. E se vocês decidirem nos ignorar, eu te digo: nós nunca vamos perdoá-los” (Greta, 16 anos).

Greta, porta-voz de milhares de outras vozes, chegara para reunião pela organização e protagonismo articulado. Com ela, discursou a brasileira Paloma Costa, 28 anos, estudante de direito e ciências sociais, que compõe o Grupo Consultivo da Juventude sobre Mudança Climática: “A única forma de libertar nosso futuro é começar a entender todas as questões que fazem a gente estar nesse estado de emergência climática. As crises são fruto da nossa relação com o meio ambiente. O mais impressionante é que todas elas foram multiplicadas por cem nos últimos 11 anos. Desde 1970 a gente produz dados, faz análises sobre desmatamento nos limites florestais, uso sustentável de energia e parece que nada disso é escutado [...]. Cara, não adianta você botar #prayforamazonia no Instagram e continuar consumindo carne que vem do desmatamento”.

Escutar e acompanhar o protagonismo juvenil é tarefa ímpar à sociedade contemporânea. A participação dos(as) jovens é real e indispensável no presente e para o tempo futuro, pós pandemia. Bem evocou Paloma: “É uma questão de escolha, você vai garantir uma humanidade, a nossa existência ou vai escolher fazer parte desse projeto de morte? Acho que é por aí a nossa prioridade”. Mais! “Na base, estamos fazendo o trabalho necessário. Temos muito claro entre nós sete consultores, que se for só para gente compor foto para convencer a juventude [de que estão participando das decisões da ONU na luta climática], preferimos fazer outras coisas”. 

O Compêndio da Doutrina Social da Igreja recorda: “a orientação que se dá à existência, à convivência social e à história dependem, em grande parte, das respostas dadas a estas questões sobre o lugar do homem [e da mulher] na natureza e na sociedade [...]. O significado profundo do existir humano, com efeito, se revela na livre busca da verdade, capaz de oferecer direção e plenitude à vida” (CDSI, n. 15). Hoje, “a humanidade é chamada a tomar consciência da necessidade de mudanças de estilos de vida, de produção e de consumo” (LS, n. 23).

Recentemente, jovens franceses, reuniram-se com Francisco para dialogar sobre questões climáticas, transição ecológica e para compartilhar sonhos possíveis. Eva Sadoun, empreendedora, Cyril Dion, ativista ambiental e Samuel Grzybowski, fundador da Coexister, movimento juvenil inter-religioso com intuito de promover a coexistência pacífica. O encontro entre o Sumo Pontífice e os(as) jovens, noticiado via Vatican News e IHU, entre os dias 15 e 16 de março, 2021, traduz sinais concretos de proximidade, escuta e incentivo. “Nosso objetivo era mostrar que a justiça social estava ligada com a justiça ambiental, e que a democracia e a transição ecológica andam de mãos dadas” disse Sadoun.

Nas comunidades, bairros, no campo e/ou cidade, há grupos de jovens organizados, celeiros de protagonismo. Há, também, organizações (Ong’s) e entidades diversas trabalhando projetos, os quais, há jovens atuantes e corajosos(as) em busca do bem comum, do bem viver. Concluo com as palavras de Francisco: “Iniciem a revolução, chacoalhem as coisas para cima. O mundo se faz de surdo; vocês devem abrir seu ouvido. Vocês são a juventude, somente vocês podem fazer isso, vocês entendem a mudança. Vocês não têm experiência, mas isso é uma boa notícia, porque isso faz de vocês criativos”. Caminhamos juntos(as) nesta construção. Ousamos sonhar e agir!

 

Padre Leandro de Mello - @padreleojuventude. Passo Fundo, 23 03 2021.

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