Conta uma fábula africana que, numa determinada época, Deus vivia perto
das pessoas. Não propriamente junto, mas bastante perto. Escolhera por morada
uma árvore altíssima e dali podia ver como iam as coisas no mundo.
No começo, as pessoas exclamavam impressionadas: “Temos Deus tão perto! Que coisa extraordinária!” E manifestavam muito respeito por Ele.
Cada vez que passavam diante da árvore, olhavam para cima e faziam uma reverência. As mulheres varriam cada dia, com cuidado, o terreno debaixo da árvore, de modo que não se encontrava uma casca, uma pedrinha, uma folha seca.
Com o passar do tempo, as pessoas se acostumaram com a presença de Deus e foram esquecendo que Ele estava lá naquela árvore.
Alguém, sem pedir licença, construiu a sua cabana perto da planta.
Outra pessoa fez até mesmo uma casinha debaixo dela. Cada vez que acendia o fogo, a fumaça subia e chegava aos olhos de Deus, fazendo-o lacrimejar e obrigando-o a subir mais para cima. Como a ponta de sua veste balançava ainda perto da terra, essa pessoa, quando tinha as mãos sujas, a usava para limpá-las. Sendo roupa de boa qualidade, um dia decidiu: Corto um pedaço para fazer uma camisa. E assim fez. Era uma costureira a pessoa, e de noite cortou um bom retalho da veste do Senhor. E Deus subiu para um galho ainda mais alto.
Passando o tempo, a costureira, já com idade bem avançada, perdeu a memória. Não lembrava mais a quem pertencia aquele pé que, de vez em quando, via pender do alto. Um dia, estava fazendo um caldo. Tinha colocado todas as ervas, mas faltava a carne. Para enriquecer o caldo, cortou o dedo minguinho de Deus.
Deus não sentiu nenhuma dor, não podia, porque era Deus, mas ficou aborrecido e resolveu subir ainda mais para cima, além do topo da árvore gigantesca, lá onde os homens não poderiam mandar-lhe fumaça nos olhos, cortar-lhe a roupa ou mutilar seu corpo.
Desde então, apesar de o procurarem intensamente, as pessoas têm dificuldade em encontrá-lo. Também, pudera! Todos só querem tirar vantagem de Deus.