A convicção e o testemunho da Ressurreição

Postado por: Ari Antônio dos Reis

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Nós vimos o Senhor! (Jo 20,25)

Estamos vivenciando através das celebrações litúrgicas do Tempo Pascal os momentos posteriores à crucificação e ressurreição de Jesus e a necessidade do Filho de Deus convencer os seguidores da sua vitória sobre a morte. Os quatro evangelistas relatam esse caminho descrevendo-o de diferentes maneiras.

Um indicativo dessa dificuldade está no texto de Mateus 28, 16-20. Jesus Ressuscitado encontrou-se com os onze discípulos na Galileia e o autor do texto expressa que: “no entanto alguns duvidaram” (Mt 28,17). A dúvida era se o homem à frente deles era Jesus Ressuscitado. No texto de Marcos 16 9-19 está o relato das aparições do Ressuscitado à Maria Madalena (Mc 16, 10s), a dois do grupo (Mc 16,12) e, finalmente, aos onze quando os repreendeu pela falta de fé. Lucas relata o exemplo de dois discípulos que fugiam de Jerusalém para Emaús e a aproximação de Jesus dialogando até que retomassem o caminho de volta (Lc 24, 23-34) e, posteriormente, o encontro com onze discípulos remanescentes, quando estavam reunidos, desejando a paz e questionando o motivo das dúvidas no coração. Mostrou ao grupo seu corpo machucado pelo flagelo da cruz e partilhou com eles da refeição (Lc 24, 38-40).

João relata a aparição à Maria Madalena (Jo 20, 11-18) e ao grupo que estava reunido em uma casa com as portas fechadas por medo dos judeus (Jo 20,19ss). Esta última referência apresenta também a incredulidade de Tomé que não vira o ressuscitado e não acreditara no testemunho dos demais (Jo 20, 25) e Jesus o admoestando a ter fé (Jo 20,27).

Estas diferentes referências revelam a dificuldade dos discípulos em migrarem da realidade da morte de cruz para a ressurreição, fato que deveriam acreditar. Da morte de Jesus tinham certeza, uma certeza dolorida e envergonhada, pois muitos fugiram e não acompanharam o Mestre até o calvário, exceto João, e as mulheres (Jo 19,25; Mc 15,40; Mt 27,55-56; Lc 23,49).  É comum esta dispersão do discipulado. Humanamente não havia muito o que fazer. O sonho do Reino Deus estava seriamente comprometido. Os que tramaram a morte de Jesus aparentemente saíram vitoriosos. Os discípulos não haviam compreendido que ele devia ressuscitar dos mortos, de acordo com a Escritura (cf. Jo 20,9). Foi necessário um processo de convencimento que exigiu paciência e firmeza de Jesus Cristo.

Quando ficaram convencidos de que a Ressurreição era um fato, manifestavam grande alegria (Lc 24,41). Contudo, para Jesus havia a necessidade de algo mais. Ele queria que o grupo testemunhasse o seu projeto para outras pessoas começando por Jerusalém e estendendo-se a todos os cantos do mundo (Mt 28,19; Mc 16,15; Lc 24,47; Jo 20,21).

 Quando Jesus estava com o discipulado enviou-os em missão diante da constatação da necessidade de ampliar o trabalho (Mt 10,1-15; Mc 6, 6-13; Lc 9,1-6). No entanto, naquele momento ainda estava com eles. Eles partiram na certeza da presença do Mestre. Na tradução de Lucas foram primeiramente os doze e posteriormente setenta e dois (Lc 10, 1-9).  Lucas também descreve o retorno, quando partilharam alegremente todo o bem que haviam feito (Lc 10, 17-20).

 No tempo pós ressurreição não havia mais a presença física de Jesus. O Ressuscitado ascendido aos céus, deixando ao grupo dos discípulos a missão de continuar a sua obra (Mc 16,19; Lc 24,51). Havia um impulso para aquele novo desafio a ser assumido por causa do projeto. Eles estavam testemunhando um projeto vitorioso que não ficara preso às amarras da morte.

A ressurreição de Jesus sustentava esta convicção, como manifestou Pedro na cidade de Jerusalém (At 2,15). A certeza da vida pós morte e a força do Espírito Santo sustentaram a convicção dos discípulos ao ponto de retomarem a proposta de Jesus, justamente na cidade que havia o condenado à morte. A vida dos cristãos se funda nessa convicção. O Apóstolo Paulo afirma que se Cristo não houvesse ressuscitado, a pregação seria vazia e vã seria a fé (cf. 1Cor 15,17). A convicção sustentou a missão posterior ao ponto dos seguidores de Jesus não fugirem do martírio pela fé. Para eles a morte não seria definitiva. Havia algo mais pelo qual valia a pena lutar.

Possamos nestes tempos de enfermidade e luto buscar na fé a coragem e a esperança de continuarmos na missão. Jesus aponta para a humanidade que crê um horizonte para além do muro da morte. Este horizonte não acomoda mas impulsiona a lutar e cuidar da vida desde sua concepção até o seu ocaso.  E, diante da morte, saibamos que tem algo mais. 

Por isso cantamos: “o Ressuscitado vive entre nós. Amém. Aleluia”.

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