Na semana dos povos indígenas, assinalamos a data de 19 de
abril como referência na luta dos diferentes povos que habitaram e habitam o
Brasil. Os povos originários, com suas
lutas, desafios e resistências nos deixaram um rico exemplo de cuidado com a
vida em todas as suas dimensões. Papa Francisco afirmou na ocasião do Sínodo
sobre Amazônia: que o mundo deve respeitar as populações indígenas, deixando
que elas planejem seu próprio futuro, e condenou imposições culturais e
ideológicas sobre os povos originais.
Mesmo após um longo processo de expropriação, violência e injustiças, hoje os indígenas do Brasil permanecem firmes em diferentes espaços da sociedade, defendendo o direito à sobrevivência e manutenção do seu legado cultural. Testemunham e ensinam a cultura do bem viver, concepção de vida esta, que vai na contracorrente do chamado desenvolvimento capitalista, porque na concepção indígena, o bem viver contempla a vida em primeiro lugar, prima pela convivência harmoniosa com a natureza e todos os demais seres que habitam a Casa Comum, superando a tentação do ter e da ganância e comprometendo-se com o Bem viver.
A palavra Índio, comumente usada, não expressa a plenitude da vida dos povos indígenas. Nos países próximos ao Brasil, Peru, Bolívia e Argentina, se utiliza a palavra indígena, pois se refere à cultura indígena, ou seja, uma perspectiva mais ampla, que tem como significado “aquele que está ali antes dos outros”.
Neste contexto é que precisamos compreender e nos aproximar da cultura com o objetivo da preservação da memória; denunciar os males praticados sobre estes povos e sermos elos de resistência, junto aos primeiros habitantes da América. A ocupação do Brasil e do continente trouxe muitas tensões e conflitos que perduram até nossos dias, cuja a face mais perniciosa é o extermínio físico e cultural. Lembramos um fato conhecido e impactante no mundo todo, ocorrido no dia 20 de abril de 1997, no Brasil com o indígena Galdino, da Etnia Pataxó Hã-Hã- Hãe. Galdino foi assassinado por jovens estudantes em Brasília e teve 95% do seu corpo queimado, comprovando assim, o quanto a sociedade brasileira ainda é preconceituosa e brutal com relação aos indígenas. Desde, então, este dia ficou como um dia para recordar e fazer memória do Cacique Galdino e desta memória, a de tantos indígenas que foram assassinados no Brasil.
Tornou comum e costumeiro, que nas escolas, sejam realizadas atividades com o objetivo de retomada da cultura indígena por ocasião da semana dos povos indígenas. As crianças são vestidas de indígenas, pintam o rosto e refazem aspectos da cultura dos povos originários. Contudo, não se pode esquecer que por trás destes sinais encontra-se revelada uma visão cultural reduzida e, não poucas vezes, é a manifestação de preconceitos evidentes.
A ressignificação e retomada desta cultura milenar precisa ser acompanhada de reflexões críticas para não estarem desconexas com a realidade. As mudanças passam pela formação crítica das pessoas, e para tanto é necessário que se busque conhecer cada vez mais as diversas culturas existentes em nosso País, valorizando-as nas suas peculiaridades e nas suas diferenças, da mesma forma com as culturas alemã, italiana, portuguesa, africana e tantas outras, que estão presentes em nosso querido Brasil.
Os povos originários se fazem presente não apenas no nosso DNA, mas também na língua, na arte, na comida, na história e nas estórias contadas pelos nossos pais e professores. Rememorar a história e cultura destes povos, é tornar presente e honrar as tantas etnias que foram extintas e seus saberes. Lembramos que na perspectiva da fé Cristo redimiu todas as pessoas sem distinção algum. “Não há judeu nem grego, não há escravo nem livre, não há homem nem mulher; pois todos vós sois um só em Cristo Jesus” (Gl 3,28). Ou nas palavras do Papa Francisco:
Cristo redimiu o ser humano inteiro e deseja recompor em cada um a sua capacidade de se relacionar com os outros. O Evangelho propõe a caridade divina que brota do Coração de Cristo e gera uma busca da justiça que é inseparavelmente um canto de fraternidade e solidariedade, um estímulo à cultura do encontro. A sabedoria do estilo de vida dos povos nativos – mesmo com todos os limites que possa ter – estimula-nos a aprofundar tal anseio (exortação apostólica: querida Amazônia, n 22).
Pe. Ari Antonio dos Reis
Claudia Souza Soares*
*Irmã Cláudia Sousa Soares, das Irmãs Ursulinas Filhas de Maria Imaculada; Pedagoga, bacharelanda em Teologia. Coordenadora do setor dos movimentos sociais popular da Itepa Faculdades e integrante do Grupo de Pesquisa - “Teologia e Negritude”.
O artigo completo está no site da Itepa Faculdades.