RABISCOS SEMANAIS: Qual é seu trabalho?

 22/04/2021 - 10:03hrs
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Trabalhar! É verbo e indica ação! No presente, conjugado, se diz: Eu trabalho, tu trabalhas, ele(a) trabalha, nós trabalhamos, vós trabalhais e eles(as) trabalham. No ano passado, 2020, houve trabalho? Sim, na conjugação do pretérito perfeito: Eu trabalhei, tu trabalhaste, ele(a) trabalhou, nós trabalhamos, vós trabalhastes e eles(as) trabalharam. Correto?

Na realidade brasileira, atual, considerando a experiência da população, especialmente juvenil, como conjugar o verbo trabalhar? No Brasil, em 2020, cerca de 18 milhões de pessoas foram subtraídas do direito ao trabalho; aproximadamente 19 milhões de brasileiros(as) foram afastados(as) de suas atividades e o trabalho informal alcançou 34 milhões de pessoas, conforme dados estatísticos. Muitos jovens, hoje, chegam registrar 76 horas semanais trabalhadas, sem banco de horas ou remuneração extra, ao passo que a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) autoriza somente 44 horas de trabalho semanal. Gabriel, O Pensador, escreveu uma canção na qual expressa: “Quem trabalha e mata a fome não come o pão de ninguém. Mas quem come e não trabalha tá comendo o pão de alguém. É, pra ganhar o pão, tem que trabalhar” (Supertrabalhador). E trabalhar é suficiente?

Não raramente recebemos a interrogação: Qual é seu trabalho? São diversas as possíveis respostas, não é verdade? “Sem trabalho eu não sou nada. Não tenho dignidade. Não sinto o meu valor. Não tenho identidade”, canta Legião Urbana (Música de Trabalho). Refletir acerca do verbo trabalhar compreende um exercício que ultrapassa a dimensão gramatical. Tra – ba – lhar traduz maior significado que a comunhão de letras e sílabas para compor a expressão verbal. Tens conjugado, à vida, o verbo trabalhar?

A Semana da Cidadania (SdC) 2021, por exemplo, propõe discutir, observar e construir, coletivamente, questões referentes à precarização do trabalho dos(as) jovens brasileiros(as) ao verbalizar o tema: “Juventude e a luta pela não precarização do trabalho, em defesa de uma vida digna”. Trabalho é também um dos eixos de reflexão da 6ª Semana Social Brasileira que apresenta a temática: “Mutirão pela Vida: por Terra, Teto e Trabalho”.

A Doutrina Social da Igreja ensina que “o trabalho não deve ser entendido somente em sentido objetivo e material, mas há que se levar em conta a sua dimensão subjetiva, enquanto atividade que exprime sempre a pessoa. Além de ser o paradigma decisivo da vida social, o trabalho tem toda a dignidade de um âmbito no qual deve encontrar realização a vocação natural e sobrenatural da pessoa” (CDSI, n. 101).

João Paulo II, dedicou a Encíclica “Laborem exercens” ao trabalho, delineando um caminho de espiritualidade e ética do trabalho, por refleti-lo como bem fundamental à pessoa. O Catecismo da Igreja Católica, ademais, orienta que “as exigências do bem comum derivam das condições sociais de cada época e estão estreitamente conexas com o respeito e com a promoção integral da pessoa e dos seus direitos fundamentais” (CIC, n. 1907). Ora, trabalhar é direito essencial à dignidade humana, bem como são direitos a habitação, a alimentação, a educação, o acesso à cultura, à saúde, à liberdade religiosa, etc.

Evangelizar, a saber, também é verbo e missão, enquanto trabalho apostólico de cada cristão(ã). Quando a pergunta – “qual é seu trabalho?” – chega-me aos ouvidos reporto-me à Doutrina Social que reverbera: “é um direito seu evangelizar o social, ou seja, fazer ressoar a palavra libertadora do Evangelho no complexo mundo da produção, do trabalho, do empresariado, das finanças, do comércio, da política, do direito, da cultura, das comunicações sociais, em que vive” (CDSI, n. 70).

Portanto, para que cada pessoa, cada jovem, enquanto partícipe cidadão na construção de uma comunidade social, justa e fraterna, possa conjugar de forma integral à vida, direitos e deveres, desejo trabalhar, hoje e sempre, à luz da sagrada escritura que diz: “não ficamos sem fazer nada enquanto estivemos entre vocês, nem recebemos de graça o pão que comemos. Ao contrário, com esforço e cansaço, trabalhamos dia e noite para não sermos peso para nenhum de vocês. E não porque não tivéssemos direito a isso, mas porque quisemos dar-lhes o exemplo” (2 Ts 3,8-9). Trabalhar agora, no presente da história, com esperança de que haverá o amanhã, isto é, o trabalho no futuro do presente que se traduz em: Eu trabalharei, tu trabalharás, ele(a) trabalhara, nós trabalharemos, vós trabalhareis e eles(as) trabalharão, dignamente, para que todos tenham vida em abundância (Jo 10,10). 

 

Padre Leandro de Mello - @padreleojuventude. Passo Fundo, 20 04 2021.

 

 

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