És responsável? Não? Sim? Estás em processo de construção? Cada pessoa, desde o nascer, é chamada à responsabilidade do existir, do conviver, à alteridade social, humana e com a natureza, em todo planeta, a Casa Comum. Antoine de Saint-Exupéry sugere, na obra “O Pequeno Príncipe”, que a responsabilidade transcende quando se é capaz de cativar, isto é, criar laços – “Te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas!”
Construir-se responsável na sociedade contemporânea é exigente, porém, salutar à vida, à fraternidade humana e planetária. Que laços criamos neste construto societário? Que relações são estabelecidas, em prol do bem comum, angariando responsabilidades múltiplas ao bem viver? Diferente da literatua das fábulas, com diálogos profícuos entre pequenos príncipes e raposas, a realidade histórica suscita compromissos éticos e morais para a edificação sustentável e digna do viver humano, da fauna e da flora.
Diálogos responsáveis edificam compromissos sólidos e atitudes verdadeiras às pessoas de boa vontade. A sagrada escritura recorda, por exemplo, que o grupo de discípulos(as) de Jesus Cristo assume a coparticipação missionária na efetivação do Reino de Deus. “Chamo vocês de amigos porque comuniquei a vocês tudo aquilo que escutei do Pai [...]. Os escolhi e orientei para que possam ir e frutificar e o fruto de vocês permaneça” (Jo 15,15-16). Aposteriori relata-se que “a multidão dos que acreditavam era um só coração e uma só alma. Ninguém dizia que eram seus os bens que possuía, mas tudo entre eles(as) era posto em comum” (At 4,32) e, desta forma, “não existia necessitados(as)” na comunidade fraterna e apostólica (At 4,34).
A corresponsabilidade é caminho viável e fundamental no cuidado da vida, seja ela pessoal, familiar, societária ou planetária. Papa Francisco, em mensagem à cúpula do clima, ressaltou: “Sabemos que de uma crise não se sai igual: ou saímos melhor ou pior. E nossa preocupação é ver o meio ambiente mais limpo, puro e preservado. Precisamos cuidar da natureza para que ela cuide de nós”. Tornar-se responsável, para além dos princípios relacionados à fé, imprime caráter humanitário e cidadão.
Torno-me responsável? Te tornas responsável? Na alteridade construímo-nos responsáveis e, consequentemente, é-nos salvaguardado o compromisso de honrar tal missão. Líderes responsáveis inspiram seguidores(as) dotados(as) de responsabilidade e princípios éticos relevantes para o bem societário. Vede o exemplo de Jesus! Hoje, faz-se urgente o discernimento, consciente, relacionado às lideranças locais, nacionais e mundiais. São passíveis à cofiança responsável? Criam vínculos comprometidos à história salvífica da população e do planeta? Educar-se à responsabilidade da cultura do cuidado é tarefa elementar para o futuro, mas principalmente para o presente.
Portanto, hoje, como diz a canção: “você também é responsável”. Torna-te responsável e cative outros(as). “Eu venho de campos, subúrbios e vilas. Sonhando e cantando, chorando nas filas. Seguindo a corrente sem participar. Me falta a semente do ler e contar [...]. Eu venho de campos, tão ricos, tão lindos. Cantando e chamando. São todos bem-vindos. A nação merece maior dimensão. Marchemos pra luta de lápis na mão. Eu sou brasileiro, anseio um lugar. Suplico que parem pra ouvir meu cantar. Você também é responsável. Então me ensine a escrever. Eu tenho a minha mão domável, eu sinto a sede do saber” (Você também é responsável - Dom e Havel).
Padre Leandro de Mello - @padreleojuventude. Passo Fundo, 27 04 2021.