Há, certamente, na vida cristã muito mais elementos que congregam para unidade que para cismas, mesmo na diversidade de carismas, doutrinas e dons. A unidade é um exercício da vivência do amor cristão à luz do Evangelho, sob o referencial da Santíssima Trindade. Deus é amor. É Uno e Trino, isto é, um Deus revelado em três pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo.
Aos cristãos e às cristãs, protagonizar a unidade no cotidiano da vida e da práxis sócio eclesial implica, como sugere a sagrada escritura: “permanecer no amor!” (Jo 15,9). Como sinal vivo e eficaz desta construção, desde 1968, propõe-se a “Semana de Oração pela Unidade Cristã - (SOUC)” que, neste 2021, reflete o tema: “Permanecei no meu amor e produzireis muitos frutos” (Jo 15,5-9).
As Igrejas Cristãs do Hemisfério Sul, no qual inclui-se o Brasil, organizam-se para a SOUC considerando a semana que une as solenidades da Ascensão do Senhor e o Pentecostes; 16 a 23 de maio, portanto. Celebrar a unidade através da oração abre caminho ao diálogo entre pessoas partícipes nas diversas Igrejas Cristãs que compõem o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (Conic) e demais pessoas de boa vontade que se disponham para a relação dialógica inter-religiosa e ecumênica.
A alteridade vívida entre as Igrejas Cristãs propicia, para além da espiritualidade orante, a mística da acolhida, da fraternidade, da partilha e a cultura do encontro que se traduz em pontes de proximidade à unidade na diversidade. O Concílio Ecumênico Vaticano II, a saber, bem recorda a relevância do “estar consciente de que este santo propósito de reconciliar todos os cristãos na unidade de uma só e única Igreja de Cristo ultrapassa as forças e os dotes humanos” (UR 24).
Carmelino Antonio Ramires Neto, jovem, estudante de Filosofia, é responsável pela arte escolhida para simbolizar a SOUC, expressando elementos amazônicos através de cores, da diversidade cultural e religiosa, de traços referentes aos povos originários, a fauna, a flora, as águas, elementos folclóricos e, em especial, o rosto personificado de duas pessoas jovens.
Neto explica o significado dos rostos: “Liza Guidicelly, uma jovem mãe, mulher, marajoara, traços indígenas, congregante em uma igreja evangélica, considerada por sua igreja como missionária. Ao lado dela temos o Tarcísio, jovem, negro, com traços africanos, católico, com grande apreço pelas religiões de matriz afro, conhecido nas redes sociais pelo orgulho de sua cor e suas raízes. Com esses dois rostos, represento todo o povo amazônico, homens, mulheres, jovens, anciãos, negros, pardos, indígenas, brancos”.
Permanecer no amor e produzir frutos, a partir da inspiração juvenil manifesta na arte visual da SOUC desafia-nos à sensibilidade dos sentidos: o olhar, o escutar, o toque, o perfume da esperança e o sabor de ousadia profética própria dos jovens e das jovens comprometidos com a edificação da Civilização do Amor. Como exorta-nos o salmo: “vejam como é bom e agradável morar entre irmãos, viver todos unidos!” (Sl 133,1). Permitamo-nos viver e construir unidade, tocados(as) no amor, frutificando relações amistosas e solidárias, capazes de identificar-nos como irmãs e irmãos, em Deus, habitantes da Casa Comum, marcada por tantas divisões.
Padre Leandro de Mello - @padreleojuventude. Passo Fundo, 18 05 2021.