Ouvimos as pessoas dizerem que a pandemia servirá para revelar o melhor do ser humano: a solidariedade, os valores de cuidar do outro, de realizar consumo consciente, de se importar com o meio ambiente, dentre outras tantas menções reiteradas nas redes sociais e canais de comunicação.
Mas, me pergunto: será?
Quem me conhece sabe quão otimista sou. Motivada sempre em ver o melhor do ser humano e acreditar que é possível fazer a diferença.
Pois bem! Temos a certeza das mais de 441.000 mortes no Brasil e o Município de Passo Fundo recebeu na última terça-feira o comunicado de alerta (novo Sistema 3As de Monitoramento implantado pelo governador Eduardo Leite), tendo o prazo de 48 horas para apresentar o plano de Ação.
Em síntese, o novo ciclo de gestão da pandemia tende a ser mais simplificado e colaborativo, com compartilhamento de protocolos das atividades de prefeituras e associações regionais, com celeridade e constante monitoramento para adoção de medidas que compõe os 3As: Aviso – Alerta – Ação. Diante do recebimento do Alerta a prefeitura necessita apresentar o plano de ação condizente para a contenção da situação epidemiológica apontada. Caso ocorra a verificação de que o plano de Ação não esteja compatível poderá o Gabinete de Crise deliberar por uma intervenção, como explicou o governador.
Pois bem, o que se observa em Passo Fundo é o aumento nos últimos sete dias em 25% dos casos, o retorno de fila de espera para leitos de UTI-COVID e, as medidas de conscientização não pararam um único dia de 2020 para cá. O que mais se fala, e se tenta fazer, é que as pessoas compreendam que o vírus se propaga onde ocorre o contato, a aproximação das pessoas, o descumprimento das regras sanitárias e de distanciamento.
De fato, mais de 365 dias se passaram desde o início dessa pandemia. Sempre há aprendizados, novos ciclos, legados. A tecnologia avançou em muito. As novas formas de consumo, de comunicação, de relacionamentos familiares, de comemorações, a nostalgia tomando conta dos sentimentos e, a pergunta que fica: você se colocou no lugar do outro? Daquele que não possui renda fixa e precisa prover a família dia-a-dia? Daquela criança que está com fome e o acesso à escola lhe garantia uma alimentação minimamente digna? Da mãe que perdeu o emprego e não possui condições de garantir o acesso tecnológico de sua filha às aulas, tendo que buscar o material didático arduamente confeccionado pelos professores, tendo que auxiliar os filhos nas atividades educacionais sem, por vezes (e na maioria das vezes), ter preparo para tanto?
Os conflitos políticos envolvendo as temáticas da ciência e da retomada da economia e, que ainda geram tanto desconforto e instabilidade em nosso meio, não parecem minimizar, polarizando-se para uma futura disputa eleitoral e, a que custo?
Na verdade, acreditamos na esperança que a vacina possa minimizar os danosos efeitos desse vírus, mas ninguém sabe ainda o que está por vir. Se a vacina chegará a tempo para seu familiar? Quais os efeitos danosos para as lacunas educacionais? Quanto tempo levará para a economia reaquecer? Os empresários que se obrigaram a fechar as portas irão conseguir se reestabelecer?
De fato, precisamos ter lições seguras do valor humano daqueles que nos são próximos. Por vezes, nos deparamos com o pensamento de solidão, mas aprendizados como valorizar a família, o resgate da efetiva presença no convívio familiar, nas refeições, no cuidar da casa, no contribuir com as rotinas domésticas, no cuidado com quem está efetivamente contigo, pois aprendemos a viver as ausências de pessoas que, talvez, não nos eram presentes de verdade.
Eu acredito na lição da pandemia: cuide-se e importe-se. Ao cuidar de você estará cuidando do outro. É pouco? Para mim não é!
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Janaína Leite Portella
Advogada, Professora universitária,
Empresária e Vereadora
janaina@leiteportellaadvogados.com.br