Migrar? Migrar é trocar de país, estado, região ou
domicílio. Na Casa Comum, devido aos ciclos naturais de sobrevivência, diversas
espécies de animais migram em
busca de água, alimento e ambiente favorável à reprodução. Espécies múltiplas
de pássaros, mamíferos, insetos e peixes migram a procura de condições ambientais favoráveis, clima ameno e
alimentos em abundância.
Pessoas migram? Mover-se é uma característica antropológica. Desde a antiguidade sabe-se que os seres humanos, em sua evolução, migram à sobrevivência. Na dimensão humana a migração constitui o deslocamento de sujeitos dentro de um espaço geográfico, de forma temporária ou permanente. As motivações à migração e seus fluxos são desencadeadas por razões econômicas, políticas, culturais, religiosas e naturais (estiagens, enchentes, terremotos e maremotos, erupções vulcânicas, etc).
O processo migratório faz da pessoa, imigrante ou emigrante. De maneira branda, emigrante é o indivíduo que sai de seu local de origem com destino a outro lugar. Ao passo que imigrante sugere-se à pessoa que se estabelece em país estrangeiro. Neste 2021, entre os dias 13 e 20 de junho, registra-se a 36ª Semana do Migrante, com o tema: “Migração e Diálogo” e o lema: “Quem bate à nossa porta?”
Por que dialogar via Semana do Migrante? As atividades propostas expressam o desejo e compromisso em prosseguir ações e reflexões elencadas a partir da Campanha da Fraternidade Ecumênica – “Fraternidade e Diálogo: Compromisso de Amor! Objetiva-se pautar a temática da migração e, ademais, conduzir ao “compromisso sociopastoral diante dessa multidão, não raro, sem raiz e sem rumo”.
Resgatar memórias familiares, amistosas, históricas, culturais e eclesiais torna-se salutar à reflexão contemporânea. Desde outrora, animais e humanos peregrinam, além fronteiras, à plena dignidade que se constrói árdua e processual. Há fábulas infantis, inclusive, propícias à pedagogia do migrar e cuidar da vida. Para exemplificar, basta referendar a “história dos três porquinhos”.
Segundo a narrativa infantil, três irmãos (os porquinhos), em determinado tempo da vida, precisaram sair de casa e desbravar o mundo para edificar seus projetos de vida. No construto dos sonhos, três casas os abrigaram a partir de suas condições e convicções. A primeira fora construída com palhas, a segunda com madeiras e a terceira com tijolos e pedras. Quando as adversidades da vida surgem, personificadas pela figura do “lobo mau”, é possível observar com clareza as severas consequências causadas às habitações. Para salvar-se e viver, justa e dignamente, os irmãos uniram-se, a habitar, sob a casa de tijolos e pedras (Mt 7, 25).
A Semana do Migrante, no contexto 2021, questiona: “Quem bate à nossa porta?” Um primeira resposta conduz-nos às pessoas migrantes. Dentre estas pessoas, há inúmeros jovens. Segundo o texto base, em 2019, havia “271,6 milhões de migrantes internacionais, o que equivale a 3,5% da população mundial, hoje ao redor de 7,8 bilhões”. O Brasil, em referência à migração interna, ocupa os primeiros lugares, ao lado da Rússia, Índia, África do Sul e China.
O contexto migratório estende-se por vários continentes. A realidade latino e norte-americana, europeia, africana e asiática descobre-se marcada por grandes rotas migratórias. As intempéries naturais, político econômicas e sócio culturais sopram fortes ventos às realidades das frágeis populações que “naufragam”, a singrar pelos mares do mundo, em inseguros barcos de “papel” e/ou casas de palafita.
Quer-se discernir, à luz do evangelho, alternativas salvíficas às pessoas, especialmente, mais vulneráveis, pois, “não se trata apenas de migrantes, se trata de humanidade”, recorda o Papa Francisco. É pertinente dizer que as “circunstâncias adversas podem fazer, sim, com que as migrações sejam causa de maior intolerância, discriminação ou xenofobia”. O respeito, a acolhida, o cuidar, a empatia e a responsabilidade social, na fraternidade, movem-nos todos(as) à dialogar e compartir caminhos e processos em prol da vida, e vida em abundância (Jo 10,10). A sagrada escritura exorta à missão cristã de encontrar Jesus Cristo nas pessoas: “eu estava com fome, e vocês me deram de comer; eu era estrangeiro e me receberam em sua casa” (Mt 25, 34-36).
Há, na Casa Comum, inúmeras “casas” fatigadas por imensuráveis desigualdades culturais, econômicas, políticas, sociais e religiosas, é verdade. Os “lobos maus” da vida real, na realidade, sopram ventos impetuosos muito mais destrutíveis que as ilustrações das fábulas infanto-juvenis e desafiam-nos à unidade, à fraternidade, à amizade social e a dizer, com esperança, às pessoas migrantes, especialmente jovens, como disseram os peregrinos, em Emaús: “Fica conosco, Senhor, pois já se faz tarde e o dia declina” (Lc 24, 13-35).
Salvaguardar vidas, na fraternidade humana, pela cultura do encontro, traduz-se em abertura, para além das portas e fronteiras, de coração. A alteridade humana propicia-nos ampliar e compartilhar experiências, pois, sabe-se que “os que se movem pela face do planeta levam consigo visões de mundo que podem fecundar novos povos, experiências e civilizações” (João B. Scalabrini). Quer-se, outrossim, o compromisso de realizar atividades centradas na causa dos migrantes e refugiados com ações sociopastorais gestoras de protagonismo aos atores.
Nesta construção processual, portanto, dar continuidade às iniciativas já em curso, tais como “acolhida; serviços de documentação; assistência social, jurídica e psicológica; empenho pela inserção na sociedade; incentivo no sentido de acesso ao trabalho, à moradia, à saúde; e à outras políticas públicas”, é caminhar “rumo a um ‘nós’ cada vez maior”, como propõe o 107º Dia Mundial do Migrante e Refugiado, programado para o dia 26 de setembro, 2021. Vamos, juntos(as), dialogar e migrar à dignidade!
Padre Leandro de Mello - @padreleojuventude. Passo Fundo, 15 06 2021.