Dentre os utensílios mais comuns à vida infantojuvenil está a mochila. Não raro encontramos adolescentes e jovens com mochilas aos ombros, a tira colo, recheadas de variados objetos. Em um passado não muito distante, portar uma mochila revelava significados diversos: estudos, viagens, acampamentos, peregrinações, atividades esportivas, etc. A clausura social, por deveras importante, restringiu por enquanto, tais atividades e outras semelhantes.
Na árdua e nobre missão de assessorar jovens, nos mais plurais encontros juvenis, ligados a vida sócio eclesial e acadêmica, vez que outra, é possível surpreender-se com preciosas histórias guardadas às bolsas de memórias. Houve quem escutasse de seus pais e/ou responsáveis: “O que tens na mochila?”
Às crianças, organizar bagagens escolares, turísticas e afins é tão pedagógico à responsável capacidade de organização à vida social e comunitária, quanto aos adolescentes e jovens. Na construção da alteridade social e amistosa é prudente acompanhar processos e elaborações periódicas, ou permanentes, das pessoas em desenvolvimento cidadão e autônomo. Colaborar com a formação humana integral da criança, adolescente e jovem, perpassa, pode acreditar, pelo simples e importante gesto de aprender dinamizar e discernir que objetos são necessários portar na mochila para determinada atividade a ser executada, em um curto, médio ou longo período.
Zelar pelo bem estar pessoal, em vista do bem comum, implica, a saber, ter condições mínimas de coparticipar nos processos de construção de autonomia e protagonismo juvenil. Pessoas adultas, diga-se, têm responsabilidade ímpar e salutar no desenvolvimento saudável de adolescentes e jovens. São referenciais à vivência familiar, comunitária, política, econômica, cultural e social. Furtar-se deste compromisso implica fragilizar o presente e o futuro geracional.
A realidade contemporânea desvela complexidade, riscos e subsequente velocidade aos processos vividos por adolescentes e jovens, causando-lhes inúmeras reações, tais como: insegurança, medo, apreensão, ansiedade, frustração, etc. Dialogar, com acolhida, atenção e desejo de integrar, corrobora à confecção de uma rede de confiabilidade e promoção humana aos jovens e adolescentes.
Há infinitos espaços, saudáveis, aptos à sociabilidade humana. O grupo de jovens, consta dentre eles. Sabe-se que existem diversas metodologias de trabalho e acompanhamento para grupos juvenis. Na bagagem histórica da Igreja Católica a experiência de evangelização, envolvendo jovens, articula-se há décadas. Quais experiências são conhecidas? Que âmbito de organização alcançam? Local? Regional? Nacional? Latino-americano? Mundial? Quem responde pelos processos de acompanhamento e assessoria destas experiências grupais?
Registrar experiências e compartilha-las reverbera, às gerações, quão significativo é o testamento histórico construído em cada período, em cada processo capaz de gestar sujeitos autônomos e livres à digna vida socioplanetária. Hoje, torna a questão: “o que tens na mochila?” A canção “Sonhos e Pandorgas”, à vida, sugere: “Leve nesta mala de garupa, toda a coragem que couber. A missão é grande e o desafio é bem maior! [...]. O grupo de jovens é o lugar de felicidade, resistência e de paz. De fugir do individualismo, nestes pagos vida nova vai brotar!”
Padre Leandro de Mello - @padreleojuventude. Passo Fundo, 22 06 2021.