“Vos sois o sal da terra e a luz do mundo” (cf. Mt 5, 13s)
O mês de agosto é ocasião para refletir a dimensão
vocacional da nossa vida de fé. A Igreja na missão evangelizadora conta com
vários servidores, os vocacionados que a partir de uma condição específica,
colaboram na obra de Deus, pois é Ele quem toma a iniciativa de convocar
pessoas para contribuírem na construção da salvação humana (cf. EG 14). A dimensão vocacional da vida eclesial se
constitui a partir da compreensão do Batismo como porta de entrada na vida
cristã e como compromisso de fé. Pelo batismo o ser humano se torna membro do
povo de Deus (LG 31), um povo sacerdotal, vocacionado à santidade, realizando a
missão cristã no mundo. Segundo o Papa Francisco, o Batismo é uma graça que vai
além do merecimento, não sendo negado a ninguém. Mas o Batismo é também compromisso
assumido entre a pessoa que crê e a comunidade de fé. Dá-se, então, a troca de
dons entre a comunidade cristã e o batizado.
O chamado ao Batismo, a mergulhar na morte com Cristo e com Ele ressuscitar, nos faz mergulhar também na proposta de Jesus, que embasa outras opções oriundas dessa opção de fé, isto porque o Batismo permite que Cristo viva na pessoa e a pessoa viva unida a Ele. Cada fiel, de acordo com seu estado de vida, é convidado a colaborar com a Igreja, a fim de promover a transformação do mundo (cf. Arquidiocese de Passo Fundo, catequese batismal, p. 12), que diz respeito ao aspecto vocacional da vida humana, sendo colocadas lado a lado as expressões “chamado e opção”.
Alguém que é chamado pode optar em atender ou recusar a proposta feita, dependendo das suas motivações. Nesta 20ª Semana do Tempo Comum a liturgia motivou-nos refletir a passagem do jovem rico que queria garantir a vida eterna (cf. Mt 19, 16). No momento derradeiro de fazer a opção determinante na sua vida e despojar-se de tudo, afastou-se triste porque era muito rico (cf. Mt 19,22), não foi capaz de dar o passo, o “algo a mais” além da própria obrigação. Ainda não estava maduro ou preparado para aquele passo. A opção é importante porque determina o agir da pessoa. No passo dado, a pessoa vai se realizando existencialmente e na sua vida de fé.
Compreendendo a dimensão vocacional como chamado/opção rezaremos neste quarto domingo (22 de agosto) a vocação aos diferentes ministérios e serviços assumidos pelos leigos presentes na Igreja, sobretudo através das comunidades locais. Segundo o Decreto do Concílio Vaticano II sobre o apostolado dos leigos Apostolicam Actuositatem: “sua responsabilidade específica é absolutamente necessária na missão da Igreja (cf. AA 1).
Não é possível mensurar o número de pessoas que dedicam tempo e esforços, contribuindo na missão evangelizadora. Estão em sintonia com a tradição da Igreja que sempre acolheu a pluralidade de ministérios (cf. 1 Cor 12,5). São os diferentes ministérios leigos constituídos por membros do Povo de Deus, pessoas que procuram viver a condição de batizados de forma consciente e consequente, pessoas que respondem à diretriz do Documento de Aparecida, para a qual “os leigos são também chamados a participar na ação pastoral da Igreja, primeiro com o testemunho de vida, e em segundo lugar, com ações no campo da evangelização, da vida litúrgica e outras formas de apostolado, segundo as necessidades locais sob a guia de seus pastores” (DAp, 211). Os leigos são chamados a testemunhar o Evangelho de Cristo com sua vida na família e no trabalho, santificando-os.
Os leigos atuam também de forma singular nas realidades do mundo. Ali é exigido um compromisso profundo de fé, como expressa São João Paulo II na Exortação Apostólica Christifideles Laici: “quanto mais leigos houver impregnados do Evangelho, responsáveis em relação a tais realidades e comprometidos claramente nas mesmas, competentes para as promover e conscientes de que é necessário fazer desabrochar a sua capacidade cristã, muitas vezes escondida e asfixiada, tanto mais essas realidades, sem nada perderem ou sacrificarem do próprio coeficiente humano, mas patenteando uma dimensão transcendente para o além, não raro desconhecida, se virão a encontrar ao serviço da edificação do Reino de Deus e, por conseguinte, da salvação em Jesus Cristo” (ChL 23).
Sem o testemunho e a atuação dos leigos a Igreja seria imensamente pobre e fragilizada frente ao compromisso evangelizador. O apostolado dos leigos, exercido através dos diferentes serviços e ministérios dá dinamicidade e enriquece a missão eclesial, emprestando a ela os tantos dons e carismas em nome da causa do Reino. “No interior das comunidades da Igreja sua ação é tão necessária que sem ela o próprio apostolado dos pastores não poderia muitas vezes alcançar seu pleno efeito” (AA 10).
A celebração da vocação expressa nos ministérios e serviços dos leigos é um convite ao agradecimento por tantos dons colocados a serviço e também o compromisso do cuidado e formação desses santos e santas que militam incansavelmente em nossas comunidades.