O Papa Francisco propôs que o dia 1º de setembro fosse
dedicado como o dia mundial de oração e cuidado da criação. Disse o Papa ao
lançar a proposta: “como cristãos,
queremos oferecer a nossa contribuição à superação da crise ecológica que a
humanidade está vivendo. Por isso, devemos, antes de tudo, buscar no nosso rico
patrimônio espiritual as motivações que alimentam a paixão pelo cuidado da
criação”.
Ao fazer esta proposta o Pontífice aprofunda a tradição cristã de tematizar a questão ecológica como preocupação da Igreja, a qual ele quer dar continuidade, segundo expresso na Encíclica Laudato Si nos parágrafos 3-6. A preocupação ecológica tem adquirido um significado especial para toda a humanidade. Ao lançar em maio de 2015 a referida Encíclica, o Papa Francisco apresentou a toda a humanidade a necessidade de um compromisso amplo de respeito e cuidado da criação pois, na sua leitura, irmã terra estava profundamente enferma e clama contra o mal irreparável que lhe causamos (cf. LS 2). Tal preocupação tem marcado a atuação da Igreja. Desde 1979, quando apresentou a Campanha da Fraternidade com o lema “preserve o que é de todos”, a Igreja do Brasil tem reiteradas vezes, alertado para a necessidade da preservação e cuidado ambiental, proposta que tem amplo alcance social pela capilaridade de uma campanha dessa envergadura.
A proposta do Papa Francisco, o dia dedicado à oração e cuidado da criação, assumida desde 2015, agrega prece e atitude de cuidar, que não são isoladas, pois, a separação é meramente didática. Quem reza cuida. O cuidado é uma forma especial de oração. A oração pela criação convida a emprestar a nossa voz, os nossos lábios, para rezar por um ente que é parte da nossa vida, porque somos terra e nosso corpo é constituído pelos diversos elementos do Planeta (cf. Ls 2). A criação passa por dificuldades. Está ameaçada pelo agir humano que se desprendeu, que rompeu com ela, assumindo uma condução de vida dissociada dos princípios do zelo e do cuidado da obra divina, como o Criador pedia (Gn 2,15).
Quantas vezes familiares e amigos nos pediram preces e orações. A oração cria um laço místico entre a pessoa por quem se intercede e o grupo orante e o Deus de amor e bondade acolhe a oração, porque se interessa pelos seus. Poderíamos dizer que o coração de Deus se deixa comover pela intercessão, mas na realidade Ele sempre nos antecipa, pelo que, com nossa intercessão, apenas possibilitamos que o seu poder, o seu amore a sua lealdade se manifestem mais claramente (cf. EG 283).
A criação também necessita de oração. A oração pelo outro ente criado por Deus aprofunda o compromisso com ele, pois rezar é comprometer-se com o outro e expressa uma mística de alteridade, porque quem reza coloca-se no lugar do outro nas suas alegrias e dificuldades. Rezar pelo outro é um ato também de caridade. É força missionária da intercessão (EG 281) que chega ao criador e fortalece os laços entre os entres criados dos quais o ser humano destaca-se pela sua consciência.
O pedido do Papa Francisco expressa uma segunda intenção. Junto com a oração está o compromisso com o cuidado. Retomamos o texto do Gênesis 2,15. Afirma que “Deus colocou o ser humano no jardim do Éden com o compromisso de cultivar e guardar”. Tal necessidade é urgente e compromisso de toda a humanidade, porque o equilíbrio ecológico é crucial para a sobrevivência da humanidade e a garantia de vida para as gerações futuras. O pedido de oração e ação pela criação dialogam com o pensamento espiritual do Papa Francisco. Na Exortação Evagnelli Gaudium o Papa menciona os que rezam e trabalham (cf. EG 262) porque trás da oração está o compromisso social. Neste caso o compromisso é majoritariamente com o cuidado da criação.
As notícias dos últimos dias, sobretudo no que diz respeito ao aquecimento global, não são alvissareiras e daí a necessidade de ecoarmos este alerta. Rezar e cuidar da criação são uma forma de profecia. E precisamos de profecia nesses tempos.