Cuidar, proteger e defender a vida!

Postado por: Ari Antônio dos Reis

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Os dois primeiros capítulos do Livro do Gênesis apresentam de formas diferenciadas o relato da criação de todos os seres vivos e o ser humano como parte dessa obra magnifica, fruto do amor e da bondade de Deus. A criação é interpretada como a proposta de um diálogo amoroso do Pai com a humanidade. “Ele viu que tudo o que havia feito, e tudo era muito bom” (Gn 1,31) e delegou a cada pessoa humana a tarefa de cultivar e guardar a obra criada (Gn 2,15).

A Encíclica Laudato Si, publicada em maio de 2015, reitera o compromisso de toda a humanidade em seus diferentes papéis com o cuidado daquilo que Deus criou e que era muito bom. 

Sem romper com este compromisso universal a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil vem há alguns anos propondo uma campanha de atenção especial à vida humana na primeira semana do mês de outubro: a Semana Nacional da Vida. A travessia marcada pela pandemia da Covid-19 nos levou a darmos conta da fragilidade da vida: a enfermidade, as perdas e o luto certamente têm nos provocado a olhar a vida sob outra ótica, na qual o ser humano não é tudo e não pode tudo.  Realmente ele é um sopro (Sl 144,4) que pode se apagar a qualquer momento. Todavia, estamos vivos e essa graça sugere a renovação do compromisso do cuidado da vida. 

Em 2021 a Semana Nacional da Vida terá como tema: Família: Santuário da Vida e dialoga com a Encíclica Evangelium Vitae, publicada pelo Papa São João Paulo II, em março de 1995.   Se nos reportamos ao contexto da publicação da referida Encíclica veremos reais situações de ameaça à vida humana. Escreveu o Papa: “hoje, esse anúncio torna-se particularmente urgente pela impressionante multiplicação e agravamento das ameaças à vida das pessoas e do povo, sobretudo quando ela é débil e indefesa. Às antigas e dolorosas chagas da miséria, da fome, das epidemias, da violência e das guerras, vêm-se juntar outras com modalidades inéditas e dimensões inquietantes” (EV, 3).

Na época o Papa buscou responder, a partir do magistério da Igreja, às situações de desvalorização da vida humana. Seguiu a tradição eclesial de amor e preservação da vida do ser humano, dádiva divina e primeiro direito. Daí decorrem outros direitos, também voltados a preservar este dom de Deus. A vida não pode ser negligenciada ou instrumentalizada, porque possui em si mesmo um valor fundamental, incomparável.

A referida Encíclica foi uma resposta às situações de descuido e desvalorização da vida perpetuadas  no homicídio, aborto, eutanásia e suicídio voluntário, violações à integridade da pessoa humana como as mutilações, os tormentos corporais e mentais e as tentativas de violentar as próprias consciências e o que ofende a dignidade da pessoa humana, como as condições de vida infra-humanas, as prisões arbitrárias, as deportações, a escravidão, a prostituição, o comércio de mulheres e jovens e também as condições degradantes de trabalho (cf. EV, 3). Foi uma palavra firme e profética do Papa Santo diante do cenário que se apresentava e já denunciado durante o Concílio Vaticano II (1962-1965) e posteriormente nas Conferências do Episcopado latino-americano, especialmente Medellín (1968) e Puebla (1979). Ficaram, entre outras, estas referências significativas para a Igreja e para toda a humanidade.

A centralidade da vida humana descrita no texto do Gênesis não pode ficar esquecida.  A proposta da Semana Nacional da Vida permite que revisitemos esta valiosa tradição renovando o compromisso de cuidado, proteção e defesa da vida em todas as suas dimensões, desde seu início até o fim natural. Sustenta essa opção a convicção de que para os cristãos a defesa da vida deve ser feita a partir dos critérios estabelecidos por Jesus e que estão presentes nos Evangelhos e também explicitados na Doutrina Social da Igreja (CNBB, 2008, p. 7).

A proposta tem como objeto de atenção a família, lugar especial de cuidado da vida e, como diz o tema, santuário de vida. A expressão santuário diz respeito a algo sagrado, importante e necessário. A família sofre com as transformações do mundo e faz-se necessário a proteção desse santuário valioso, para o ser humano, para a Igreja e para a sociedade.

A Semana Nacional da Vida encerra-se com a celebração do dia do nascituro, a criança que ainda está no ventre de sua mãe, muito frágil e dependente, contudo um sopro divino, uma vida a ser cuidada, amada e protegida.

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