Se ocorre algum consenso entre os pais e responsáveis por estudantes em fase escolar é o de que as aulas remotas, e/ou em modelo híbrido, não foram eficazes para garantir o aprendizado. Essa informação pode ser constatada no site da Assembleia Legislativa do Estado, que informa relatório sobre a educação na pandemia.
O governo do Estado anunciou a retomada obrigatória do ensino presencial, em todas as redes de ensino (pública e privada) para os estudantes da Educação Básica, que inclui a educação infantil, o ensino fundamental e o ensino médio.
Se há uma constatação que não gera discordâncias é a de que a pandemia evidenciou, ainda mais, a desigualdade sócioeducacional. Apesar de uma simetria no posicionamento contrário ou a favor quanto ao retorno das aulas no sistema híbrido, sendo que, no geral (rede pública e privada) 47,8% autorizaria, 47,4% não autorizaria e 4,7% talvez autorizaria; a constatação quanto à dificuldade no acompanhamento das aulas remotas (70,8%) e, quanto à aprendizagem dos conteúdos nas aulas remotas (67,7%) foi da maioria dos entrevistados.
A dificuldade no acompanhamento das aulas remotas refletiu diretamente na dificuldade de aprendizado. O processo de ensino-aprendizagem restou comprometido pela falta de adequação e formação dos professores para o novo formato de ensino.
Fatores emocionais relacionados aos traumas pelo momento pandêmico e adaptação a uma nova rotina, dificuldades para concentração nos estudos e falta de socialização lideraram os pontos percentuais, atingindo a margem de 36,9%. A fragilidade emocional causada pelo distanciamento social, pelas vivências negativas causadas pela pandemia e pela falta de concentração dos alunos que restaram assediados por muitas distrações em suas casas, e, ainda, pelo compartilhamento de espaços não adequados aos estudos com outros componentes do grupo familiar reforçaram essas dificuldades.
As questões técnicas e acesso aos meios tecnológicos e plataformas digitais, onde, por vezes, a família não dispunha de mais de um equipamento com acesso à internet e, tendo mais de um filho em fase escolar, ou, ainda, tendo que utilizar o único equipamento para o trabalho home office, compartilhando com os filhos, também foi uma das causas das dificuldades apresentas, ficando com 29,7%. Já, fatores cognitivos, como dificuldades do estudante no processo ensino-aprendizagem, havendo uma percepção de não aprendizado e não compreensão dos conteúdos apresentou a marca de 28,9%. Neste quesito, a constatação de que o professor não consegue dar conta de conferir a atenção aos alunos como desejado, havendo uma limitação de atendimento pelo próprio uso do meio digital também foi fator desencadeante para o déficit de aprendizagem.
A COVID-19 marcou toda uma geração que está em fase escolar. As distintas realidades sócioeconômicas distanciaram ainda mais os alunos da rede privada de ensino e da rede pública. O modelo híbrido de ensino com aulas presenciais e remotas, logo que ampliadas as faixas cronológicas de vacinação foram retomando, na rede privada, as aulas presenciais frente ao atendimento às normas de vigilância sanitária e adequação de estruturas físicas e de pessoal para recepcionar a comunidade escolar. Já na rede pública, ainda vigente o modelo híbrido, com escalonamento de atividades entre os alunos, ocorre a constatação da falta de estruturas adequadas, funcionários em numerário suficiente ao atendimento e a manutenção da entrega dos necessários EPIs para toda a equipe educacional, apresentam-se como obstáculos e configuram uma realidade frustrante ao se observar o tamanho prejuízo causado à educação de nossas crianças e adolescentes.
Agora, é hora de posicionar a necessidade de reforço escolar, de buscar por meios pedagógicos adequados garantir o aprendizado perdido, sob pena dessas lacunas se tornarem abismos intransponíveis em toda uma geração.
Janaína Leite Portella
Advogada, Professora universitária,
Empresária e Vereadora
janaina@leiteportellaadvogados.com.br