Francisco, Papa, em 2015, durante o terceiro ano de seu pontificado, assina a carta encíclica Laudato Si’, sobre o cuidado da Casa Comum, que inicia dizendo: ‘“LAUDATO SI’, mi’ Signore – Louvado sejas, meu Senhor’, cantava São Francisco de Assis. Neste gracioso cântico, recordava-nos que a nossa casa comum se pode comparar ora a uma irmã, com quem partilhamos a existência, ora a uma boa mãe, que nos acolhe nos seus braços: ‘Louvado sejas, meu Senhor, pela nossa irmã, a mãe terra, que nos sustenta e governa e produz variados frutos com flores coloridas e verduras”’ (LS, n.1). “Esta irmã clama contra o mal que lhe provocamos por causa do uso irresponsável e do abuso dos bens que Deus nela colocou. Crescemos a pensar que éramos seus proprietários e dominadores, autorizados a saqueá-la. [...] O nosso corpo é constituído pelos elementos do planeta; o seu ar permite-nos respirar, e a sua água vivifica-nos e restaura-nos” (LS, n.2).
O cuidado com o Planeta, a Casa Comum, ultrapassa responsabilidades ético morais e pastorais da Igreja Católica, pois, é compromisso de cada pessoa e de todas as nações, organizações e instituições presentes na sociedade. Realiza-se, entre 31 de outubro e 12 de novembro de 2021, a 26ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP-26), sob a presidência de Alok Sharma. A COP-26 acontece em Glasgow, Escócia, Reino Unido sendo considerada a principal cúpula da ONU a propiciar um responsável diálogo acerca das questões climáticas mundiais. António Guterres, secretário-geral da ONU, compreende a COP-26 como “um marco crítico nos esforços para evitar uma catástrofe climática”. Que reflexos climáticos, hoje, são perceptíveis?
A sustentabilidade da comunidade humana e a relação com o Planeta exigem de cada pessoa, grupo, instituição ou país uma "ação urgente, radical e responsável", recorda o Papa Francisco. Pelo acordo de Paris e o Protocolo de Quioto estabeleceram-se regras para redução de emissões. As metas obrigatórias para redução de emissões foram assinadas por 36 países industrializados e a União Europeia. É mister salientar que, alguns países, articularam rupturas ao acordo; Estados Unidos, por exemplo. Por outro lado, lideranças partícipes na cúpula do G20, em Roma, firmaram compromisso em “limitar o aquecimento global a +1,5°C com relação aos níveis pré-industriais”.
O cuidado com as pessoas, a fauna, a flora, o Planeta como um todo, revela-se evidente e extremamente essencial se não quisermos chegar a completa extinção nas próximas décadas. A Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional (CREDN) da Câmara dos Deputados, em 21 de junho de 2021, realizou uma audiência pública propondo refletir temas pertinentes à COP-26. Natalie Unterstell (Instituto Talanoa), na oportunidade, explicou aos participantes que o aumento na temperatura do planeta, em 2 graus, representa 4 meses a mais de seca, duplicação aos riscos de inundações, e possibilita que 50% da população, ou mais, exponha-se a calor letal por mais de 20 dias ao longo de cada ano. Durante a audiência pública, ademais, especialistas apontaram a necessidade em adotar políticas mais ambiciosas referentes ao cuidado com a Casa Comum e, também, discutiram quão significativas são as oportunidades para o Brasil na COP-26. Diversas nações, incluso o Brasil, propõem-se alcançar, em 2050/60, a neutralidade climática.
Compreende-se estar vivendo, nesta década (2021/2031), a experiência de maior relevância para toda humanidade. Neste âmbito é deveras importante a discussão sobre as mudanças climáticas e o cuidado com o Planeta, o qual somos habitantes. Quais ações são essenciais? Frear o desmatamento e reflorestar, adotar políticas de redução de emissão de gás de efeito estufa, investir em políticas de baixo carbono e energias renováveis, apesar da inexistência de imposição legal, são alternativas viáveis e salutares à digna sustentabilidade, somadas a projetos de recuperação ambiental, gestão de resíduos, metas capazes de zerar subsídios para combustíveis fósseis, conservação florestal, incentivo às energias renováveis, etc. Faz-se urgente ressignificar a compreensão e aplicação de ações e recursos econômicos dentre as nações. A Economia de Francisco e Clara apresenta-se como alternativa neste contexto, bem como a participação de jovens no processo de educação climática, político econômica e sócio cultural.
Francisco, pondera que “os tomadores de decisões políticas que vão se reunir na COP-26, em Glasgow, são chamados com urgência para fornecer respostas eficazes à crise ecológica atual”. Cabe-nos fazer o que? Espera-se de cada pessoa de boa vontade, e de todos(as) juntos(as), portanto, é missão societária, a “mudança da nossa resposta coletiva à ameaça sem precedentes da mudança climática e da degradação da nossa casa comum”, reverbera o Papa. Mais! “Há uma crise ecológica, representada pelo 'grito da terra', e uma crise social, representada pelo 'grito dos pobres', que se tornaram mortais por uma crise sanitária: a pandemia de Covid-19 [...]. No entanto, não esqueçamos que as crises também são janelas de oportunidades: são ocasiões para reconhecer e aprender com os erros do passado [...]. É hora de pensar grande, de repensar nossas prioridades e de reprogramar nosso futuro. É hora de agir, de agir juntos, é hora” (Papa Francisco). Façamo-nos partícipes, o Planeta é nossa Casa Comum!
Padre Leandro de Mello - @padreleojuventude. Passo Fundo, 02 11 2021.