No próximo domingo inicia-se o Tempo Litúrgico do Advento cuja a característica principal é a vigilância esperançosa em vista da vinda do Senhor. Tem uma duração de quatro semanas, as primeiras do ano litúrgico, encerrando-se na celebração do Natal do Senhor. “O tempo do Advento possui dupla característica: sendo um tempo de preparação para as solenidades do Natal, em que se comemora a primeira vinda do Filho de Deus entre os homens. É também um tempo em que, por meio desta lembrança, voltam-se os corações para a expectativa da segunda vinda do Cristo no fim dos tempos. Por este duplo motivo, o tempo do Advento se apresenta como um tempo de piedosa e alegre expectativa” (NALC 39). Considera-se também um tempo de graça, porque o Filho de Deus, nascido na gruta em Belém, foi a boa notícia para toda a humanidade (cf. Lc 2,10s). A preparação compreende também acentuar, que nenhum outro homem se sobrepõe ao filho de Maria e José. Não existe Advento ou Natal desconectados da pessoa de Jesus.
A espiritualidade do tempo do Advento compreende a preparação pessoal, familiar e também comunitária, salvaguardando o seu sentido cristão. Os subsídios propostos pela Igreja ajudam nessa preparação. Destacam-se os materiais voltados para os Encontros de Família. São textos simples que ajudam a rezar em família a preparação para o Natal. O acompanhamento das celebrações dominicais também ajuda a viver este tempo de preparação como um tempo de graça. Aos poucos vão colocando a pessoa em comunhão com a espiritualidade natalina, porque Advento e Natal são tempos litúrgicos que se complementam.
Mesmo tendo como foco a preparação para o Natal, o Advento apresenta características especiais, próprias da sua índole. Elas estão explicitas nas liturgias, sobretudo as dominicais.
No primeiro domingo, sustentados pelo Evangelho de Lucas, reza-se o tema da vigilância que implica em ajustar o agir na fé em vista do encontro com o Senhor. É o tempo da espera-esperançosa, não medrosa ou insegura. É espera sincera e atenta, porque vale a pena esperar. Convida a estar “em pé” para o encontro com o Filho do Homem (cf. Lc 21,36). A expressão chave do primeiro domingo é “vigilância esperançosa”.
O segundo domingo do Advento reflete a graça de Deus agindo através de João Batista, o filho de Zacarias e Isabel. Ele veio do deserto pregando batismo de conversão para o perdão dos pecados (cf. Lc 3,3) em nome de um grande compromisso: preparar-se para acolher o Senhor e ver a salvação de Deus (cf. Lc 3,6). Destaca-se a expressão “preparai o caminho do Senhor” (Lc 3,4).
O terceiro domingo convida a pessoa para acolher as orientações de João Batista, o maior de todos os profetas, convidando a humanidade a preparar o caminho do Senhor. A presença de João gerou inquietação e muitas pessoas de boa vontade o procuravam com a pergunta: “o que devemos fazer? ” (Lc 3,10). João orienta a partir da realidade de cada um, ou seja, a partir do cotidiano de suas vidas. Também faz questão de afirmar que não era o Messias, mas alguém enviado para preparar o seu caminho. O que viria batizaria as pessoas no Espírito Santo e no fogo (cf. Lc 3,16). O acento desse terceiro domingo é a “preparação pessoal para acolher o Senhor”. Assim como os interlocutores de João Batista, coloca-se hoje a pergunta: o que é possível fazer?
O quarto domingo do advento convida a olhar para duas mulheres, Maria e Isabel, ambas grávidas pela graça de Deus. Logo que o anjo a deixou Maria foi até a casa de sua prima Isabel (cf. Lc 1,39). Mesmo com o sim dado ao anjo do Senhor, Maria precisava compreender o que estava acontecendo. E, nas inquietações e dúvidas, procura-se quem pode ajudar, aconselhar, entender. Foi o que Maria fez. Aquela viagem valeria a pena. A saudação de Isabel tirou qualquer dúvida de Maria. Pelos lábios da prima idosa, agraciada pela maternidade tardia (cf. Lc 2, 41-45), Maria ouviu a confirmação de que um grande projeto estava (sob) sobre a sua responsabilidade. Em Maria Deus havia feito maravilhas. Destaca-se, nesse domingo, a “colaboração humana na obra salvadora de Deus”.
Lembremos também o presépio, muito importante na preparação para o Natal. O presépio, ainda com a manjedoura vazia, explicita o nosso coração aberto, disposto a acolher Jesus. O Papa Francisco na Carta Apostólica Admirabile Signum afirma: Ao mesmo tempo que contemplamos a representação do Natal, somos convidados a colocar-nos espiritualmente a caminho, atraídos pela humildade d’Aquele que Se fez homem a fim de Se encontrar com todo o homem, e a descobrir que nos ama tanto, que Se uniu a nós para podermos, também nós, unir-nos a Ele (AS1).
Também lembra o compromisso de cada cristão e cada família no tempo de preparação para o Natal: o Presépio é um convite a “sentir”, a “tocar” a pobreza que escolheu, para Si mesmo, o Filho de Deus na sua encarnação, tornando-se assim, implicitamente, um apelo para O seguirmos pelo caminho da humildade, da pobreza, do despojamento, que parte da manjedoura de Belém e leva até à Cruz, e um apelo ainda a encontrá-Lo e servi-Lo, com misericórdia, nos irmãos e irmãs mais necessitados (AS 3).
O tempo do Advento é um tempo de graça, porque é um convite à preparação do Natal do Senhor. Mas também é tempo de esperança renovada que está amparada no amor de Deus menino que nasceu na humilde gruta para enriquecer toda a humanidade.
Pe. Ari Antonio dos Reis