RABISCOS SEMANAIS: Ressoar a voz juvenil!

 30/11/2021 - 11:19hrs
Compartilhe


 

A experiência sinodal latino americana constrói-se processualmente na participação, articulação e engajamento de diversas pessoas, em seus variados ministérios e carismas. A caminhada eclesial e sócio transformadora da Igreja na América Latina e Caribe edifica-se a base de lutas e esperanças desde outrora. Neste árduo caminho missionário peregrina o protagonismo juvenil banhado de memórias, história, ação, mística e espiritualidade libertadora rumo à Civilização do Amor.

A primeira Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe realizou-se entre os dias 21 e 28 de novembro de 2021, na Cidade do México, junto a Sede da Conferência Episcopal Mexicana, sob a guarida de Nossa Senhora de Guadalupe, padroeira da América Latina. O tema gerador para Assembleia Eclesial fora: “Todos somos discípulos missionários em saída!” Reuniram-se de forma híbrida (virtual e presencial) mil participantes, sendo 82 pessoas leigas com idade inferior aos 35 anos; portanto, jovens.

É preciso considerar a importância pastoral deste processo eclesial para a América Latina e o Caribe. Lideranças eclesiais e sociais leigas, religiosas e do clero, durante os meses de abril à agosto (2021) realizaram encontros, partilhas e diálogos no processo de “Escuta ao Povo de Deus” em preparação à Assembleia Eclesial. As sínteses encaminhadas à equipe responsável, como base de discernimento sinodal, foram apresentadas aos participantes do encontro, na Cidade do México, para inspirar, sob a condução do Espírito Santo, passos e planos de evangelização no atual contexto social, político econômico, cultural e eclesial.

No peregrinar desta Assembleia Eclesial, em construto, faz-se memória da caminhada eclesial nas últimas décadas, com ênfase especial à V Conferência Geral do Episcopado Latino-americano e Caribenho, em Aparecida (2007), e em comunhão com o coração profético pastoral do Papa Francisco, à medida em que aproxima-se o 500º aniversário de Guadalupe (2031) e o 2000º aniversário da ressurreição de Jesus Cristo (2033).

À conclusão do encontro híbrido redigiu-se uma “Mensagem ao povo da América e do Caribe” destacando a alegria de viver a Assembleia Eclesial como uma verdadeira experiência de sinodalidade, na escuta mútua e no discernimento comunitário daquilo que o Espírito Santo quer decidir em sua Igreja. Considera-se que “o caminho sinodal é um significativo espaço de encontro e abertura para a transformação das estruturas eclesiais e sociais que permitem renovar o impulso missionário e a proximidade com os mais pobres e excluídos”. Ademais, observou-se a assembleia como “um tempo propício à escuta e ao discernimento que nos liga de forma renovada às orientações pastorais de Aparecida e ao magistério do Papa Francisco, e nos encoraja a abrir novos caminhos missionários às periferias geográficas e existenciais e aos lugares característicos de uma Igreja em Saída”. 

A síntese da Assembleia Eclesial propôs um questionamento: “Quais são os desafios e orientações pastorais que Deus nos chama a assumir com maior urgência?” Elencaram-se 12 desafios. Optamos mencionar o desafio referente a juventude: “Reconhecer e valorizar o papel dos jovens na comunidade eclesial e na sociedade como agentes de transformação”. É salutar questionar, então, qual orientação pastoral propiciará a ação junto as juventudes? A Assembleia Eclesial sugere “estruturar com os jovens um processo integral de encontro com a pessoa de Jesus, que desperta um compromisso ativo na missão evangelizadora da Igreja. Promover o protagonismo e a liderança dos jovens nos diversos processos eclesiais e comunidades juvenis. Acompanhar os jovens nas suas pesquisas pessoais e em seus compromissos pastorais, políticos e sociais”.

Cristãos(ãs) leigos(as) partícipes no processo, oportunamente, apresentaram uma carta à coordenação da Primeira Assembleia Eclesial, manifestando a consciência de que este “é o primeiro passo de um longo processo que teve início nas escutas e que visa, como deseja nosso Papa Francisco, introduzir a sinodalidade eclesial como forma habitual de tomar decisões e repensar estruturas de organização, indo além da colegialidade episcopal”. Na carta apresentam-se gafes e acertos oriundos do caminho sinodal desta primeira assembleia eclesial: “sentimos falta do método ver, julgar e agir, muito utilizado nas Conferências do CELAM [...]. Sentimos de modo especial a ausência dos seguintes temas, que nos são muito caros: as Comunidades Eclesiais de Base, as Pastorais Sociais...”; por exemplo.

Aos cristãos(ãs) leigos(as) a juventude reverbera esperança. A carta diz: “a participação das juventudes é de importância fundamental numa Igreja que envelhece a olhos vistos. Não se trata de incluir os jovens nessa Igreja, mas de abrir as estruturas da Igreja à contribuição do protagonismo juvenil. Que os e as jovens nos tragam – por meio de suas Pastorais específicas – a vitalidade missionária que sentimos hoje enfraquecida”.

Jovens da Pastoral Juvenil Latino americana, presentes na Primeira Assembleia Eclesial, ressoaram a voz, também, ao redigir sua carta, expressando ser este um tempo de “Kairós da Igreja na América Latina e no Caribe, um momento histórico para conhecer nossos passos, nossos caminhos, um tempo de despertar da Igreja o qual percebemos a presença da unidade cultural e religiosa que temos”. As juventudes, partícipes no processo da Assembleia Eclesial, sentiram-se acolhidas, ouvidas e chamadas, na esperança, a uma maior incidência pastoral e sócio transformadora, pois, compreende-se ser esta uma experiência profunda, forte e de trabalho conjunto que almeja confirmar a santidade da Igreja, em todas as pessoas e pequenos grupos que caminham, à luz do Evangelho, sonhando e edificando uma Igreja Sinodal, isto é, capaz de caminhar na unidade, com as diversidades – caminhar juntos(as).

Escutar as vozes juvenis neste caminho em construção faz-se ímpar à oxigenação da evangelização na América Latina e Caribe, quiçá, para outros espaços de ação pastoral, além mar. Na carta, a Pastoral Juvenil ressoa a voz juvenil de muitas comunidades e grupos, ao dizer: “estamos passando por um momento muito difícil, a vida dos jovens da América Latina e do Caribe tem sido afetada pela realidade do desemprego, da pobreza, da migração, da exclusão, da violência, do acesso e da qualidade da educação, da falta de oportunidades, da crise socioambiental, da falta de políticas públicas e da pandemia que agravou ainda mais essas situações”.

É interessante, a saber, considerar a consciência crítica e de autocrítica reverberada pelos(as) jovens: “notamos que muitas pessoas mais velhas querem liderar e não nos deixam sonhar. Dos 1000 assembleístas, é inaceitável que apenas 82 sejam leigos jovens (menores de 35 anos). Entendemos que falta uma maior ação juvenil, houve falta de envolvimento dos jovens nos espaços de planejamento e tomada de decisão desta Assembleia, bem como alguma reflexão a partir do ponto de vista da juventude. Não há conversão pastoral sem pensar em trabalho intensivo junto com os jovens”. Dentre outras pertinentes questões elencadas pelos(as) jovens, considerou-se que “o percentual de jovens é baixo e há dificuldades de participação como: a incompatibilidade de horários para trabalho e estudos; a anulação da voz jovem em alguns grupos de discernimento e; as dificuldades de integração plena nos grupos de trabalho devido à linguagem”. À plenos pulmões ecoa a voz juvenil a dizer: “não somos uma parte isolada da comunidade, somos membros da comunidade!”

Ao concluir ouso, ao parafrasear a Pastoral Juvenil Latino americana, dizer: “os jovens estão presentes com uma visão crítica e construtiva para exigir e trabalhar por espaços, para processos reais e concizados, mas acima de tudo para que sejamos protagonistas e geradores de dignidade e inclusão”. Outrossim, a juventude protagonista e articulada aponta luzes à práxis pastoral quando elenca ser essencial “um verdadeiro acompanhamento por parte da Igreja aos jovens na esfera espiritual e vocacional, criando espaços de acolhimento para todos os jovens. Este acompanhamento inclui um autêntico diálogo intergeracional, intercultural e inter-religioso”. Dentre as inúmeras ponderações juvenis ressoadas em carta, há esta solicitação: “pedimos às Conferências Episcopais que coloquem em prática o que o Papa Francisco propôs, nas últimas encíclicas, especialmente Fratelli Tutti, Caritas in Veritate e Christus Vivit”.

 

Padre Leandro de Mello - @padreleojuventude. Passo Fundo, 30 11 2021.

 

Leia Também Viver à altura do Evangelho A Palavra de Deus O menino e as uvas Ciência: aprender com o passado e olhar para o futuro