Ao buscar no dicionário
de língua portuguesa o vocábulo “processo” encontra-se por significado: ação
contínua, curso, segmento, decurso. Há uma sútil e significante sensação de
peregrinar ou caminho a percorrer, não é verdade? Se refletirmos a dinâmica do
desenvolvimento humano, a cada período temporal, a pessoa descobre-se em seu
construto, experimentando uma nova etapa e diz-se, a saber, estar realizando
seu processo de amadurecimento e ou crescimento, seja físico, psíquico,
espiritual, etc. O processo humano, neste ínterim, sob a ótica do caminho,
constitui-se pela articulação de elementos diversos aos quais a pessoa
experimenta.
Descobrir-se incorporado a vida relacional é parte integrante do processo de desenvolvimento social de cada ser humano. Construir-se humano exige alteridade relacional, isto é, para existir humanização integral é essencial a dimensão coletiva comunitária, o estar em grupo, em relação com outras pessoas, com outros seres vivos. Compõem a mística do tornar-se sujeito a inter-relação com outros sujeitos, com a natureza e o transcendente. Na compreensão da religiosidade, poder-se-á dizer, tratar-se do processo de amadurecimento na fé. “Quando criança, falava como criança, pensava como criança, raciocinava como criança. Quando tornei-me adulto, abandonei as coisas de criança” (1Cor 13,11), diz Paulo Apóstolo à comunidade de Corinto.
Reconhecer-se humano e partícipe social, ou seja, membro de um corpo comunitário, coletivo compõe um caminho pedagógico de educação integral. O que significa tal percurso pedagógico integral? Diz respeito a formação – pessoal e comunitária – referente a personalização, a socialização, a capacitação técnica, metodológica, política e teológico pastoral, as quais os sujeitos estão imbricados na alteridade dialógica e vivencial. No dizer do Papa Francisco: “como é bom estar com os outros, descobrir as novidades do outro; cultivar a mística do todo, a alegria de compartilhar, o ardor de servir!”
Fazer uma experiência de alteridade social implica na opção, geográfica ou não, de encontrar-se aconchegado(a). O pássaro, por exemplo, faz a experiência do ninho para gestar vida. Enquanto humanos, provavelmente, criamos espaços (“ninhos”) de sentido profundo e estes nos auxiliam a criar corpo social, afetivo, um lugar repleto de significado, não? São lugares casa, lugares berço, lugares colo, lugares descanso e vigor, lugares memória e utopia. Para muitos sujeitos este lugar de significados múltiplos e experiências profícuas é a vida em grupo, o espaço comunitário do Grupo de Jovens.
A contemporaneidade, e seu complexo contexto, impulsiona ao não comunitário. Antes, sim, gesta redes difusoras de consumo desenfreado, imediatismo, pseudovínculo virtual, etc. Há tantas pessoas que alimentam-se daquilo que é muito “social”, ao passo que encontram-se enfermas para realidades e experiências sociais. Qual atitude possível? Francisco, ao dialogar com jovens, durante sua viagem Apostólica, em Atenas, ponderou: “escolher é um desafio: é enfrentar o medo do desconhecido, sair do pântano da homogeneização, decidir tomar as rédeas da própria vida. Para fazer opções corretas, vocês devem se lembrar de uma coisa: as boas decisões têm a ver sempre com os outros, e não apenas conosco. Eis as opções pelas quais vale a pena arriscar, os sonhos que se devem realizar: aqueles que exigem coragem e envolvem os outros. É o que lhes desejo: com a ajuda de Deus, Pai que os ama, tenham a coragem da esperança”.
O Advento, tempo oportuno de preparação para o Natal, isto é, o nascimento de Jesus, propicia-nos caminhar em processual desenvolvimento humano e divino, pois, conduz-nos à compreensão teológico pastoral de filiação a Deus que faz a opção, por amor, de assumir a condição humana, ao nascer criança, e estabelecer-se totalmente humano e plenamente divino, na alteridade comunitária do lar, a família de Nazaré. O lugar/ninho primeiro fora Belém, pela manjedoura. Maria e José, personificam a memória e a utopia concreta de um projeto de vida, à luz do Evangelho.
À vida humana societária em construto caberá, hoje, “a coragem da esperança” por qual caminho? Loanna, jovem estudante na Escola das Irmãs Ursulinas São Dionísio, em Maroussi, exorta para a “alegria de olhar a vida como um serviço, pois servir os outros é o caminho para conquistar a alegria. É o caminho para se fazer algo de realmente novo na história. O serviço é a novidade de Jesus; o serviço, o dedicar-se aos outros é a novidade que torna a vida sempre jovem” (Vatican News). Viver comunitariamente, pelo viés do Grupo de Jovens, permite caminhar e servir, sabe?
E se houver dúvidas, fragilidades de fé? Ao parafrasear Francisco, concluo instigando a caminhar sempre e a “não ter medo das dúvidas, porque não são faltas de fé. Pelo contrário, as dúvidas são ‘vitaminas da fé’: ajudam a robustecê-la, tornando-a mais forte, ou seja, mais consciente, mais livre, mais madura. Tornam-na mais disposta a pôr-se a caminho, a seguir em frente com humildade, dia após dia” (Papa Francisco). Ousamos caminhar e servir na alteridade socioeclesial pelo construto do protagonismo juvenil aonde o presépio, em sua manjedoura, aconchega o Grupo de Jovens.
Padre Leandro de Mello - @padreleojuventude. Passo Fundo, 07 12 2021.