RABISCOS SEMANAIS: Mínimo do mínimo é questionar-nos!

 14/12/2021 - 08:41hrs
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Neotéfilo(a) caracteriza aquele(a) que ama as juventudes. Tal expressão fora significativamente reverberada em escritos, diálogos e na práxis pastoral de Hilário Dick SJ (in memoriam), por exemplo. Há vasta bibliografia decorrente de suas contribuições à evangelização juvenil no Rio Grande do sul, pelo Brasil, bem como na América Latina e Caribe. Dentre as características marcantes de seu testemunho missionário, a saber, estava o ardor por encontrar-se com a juventude, caminhar junto e instigar ao protagonismo profético e libertador.

Papa Francisco na obra “Vamos Sonhar Juntos: o caminho para um futuro melhor” exorta que “aquilo que nos salva não é uma ideia, mas um encontro. Somente o rosto do outro é capaz de despertar o melhor em nós. Ao servir ao povo, salvamos a nós mesmos” (2020, p.117). Encontrar para encontrar-se, em alteridade, parece ser algo ínfimo à práxis pastoral libertadora, não? Ora, “para o cristão e para quem trabalha com juventude, o mínimo não acaba. É como o horizonte que não serve para nada; simplesmente serve para nos fazer caminhar” escrevera Hilário Dick, em 2013, no livro “Mínimo do mínimo para anunciar a boa-nova à juventude”.

À experiência vivencial societária revela-se salutar “encontrar alguém” e não qualquer alguém. Jota Quest canta ser essencial “encontrar alguém” que dê amor! Amar compõe a raiz apostólica cristã. Fé, esperança e caridade são virtudes teologais cristãs caras à evangelização (1 Cor 13,1-13). E “evangelizar é tornar o Reino de Deus presente no mundo” (EG, n. 176). Neste ínterim, “o querigma possui um conteúdo inevitavelmente social: no próprio coração do Evangelho, aparecem a vida comunitária e o compromisso com os outros. O conteúdo do primeiro anúncio tem uma repercussão moral imediata, cujo centro é a caridade” (EG, n. 177). 

A Doutrina Social da Igreja ensina que “ao descobrir-se amador por Deus, o homem compreende a própria dignidade transcendente, aprende a não se contentar de si e a encontrar o outro, em uma rede de relações cada vez mais autenticamente humanas. Feitos novos pelo amor de Deus, os homens são capacitados a transformar as regras e as qualidades das relações, inclusive as estruturas sociais [...]. Somente o amor é capaz de transformar de modo radical as relações que os seres humanos têm entre si” (CDSI, n. 4). Francisco através da Exortação Apostólica Evangelli Gaudium (A Alegria do Evangelho), salienta que “só pode ser missionário quem se sente bem procurando o bem do próximo, desejando a felicidade do outro” (EG, n. 272), pois, “cada pessoa é digna de nossa dedicação” (EG, n. 274). Amor gratuito, sabe?

Compõe a missão da Igreja corroborar para que seus membros, sejam estes partícipes do clero, da vida religiosa ou leiga, nutram passos e abracem a opção pedagógica fundamental de amar a juventude pela “arte do acompanhamento, para que todos aprendam a descalçar sempre as sandálias diante da terra sagrada do outro” (EG, n. 169). O ministério da assessoria juvenil constrói-se na alteridade do encontro e da práxis pastoral sócio transformadora da realidade contextual emergente.  

Causa estranhamento, porém, vislumbrar situações de repulsa às práticas juvenis, sejam estas ad intra ou ad extra Igreja. Haverá algum temor velado?  Flávio Sofiati, sociólogo da religião e juventude, pondera haver certo contexto fóbico referente ao empoderamento da juventude. Sofiati nomina como “adultocentrismo” as reações das Instituições que resistem às novidades das juventudes ao não permitir a presença de jovens nos espaços de poder. Segundo Flávio existe determinado medo do que a participação juvenil pode trazer de mudanças e, por isso, há a preocupação das Instituições, controladas por adultos, de reger a ação juvenil. Naquilo que tange as Pastorais da Juventude, ademais, soma-se o elemento da opção social, fator significante de torpor para algumas lideranças clericais e laicais.

A sociedade contemporânea, outrossim, que insistentemente condiciona à jovialidade e ao estético, primando por padrões que supõem certo prolongamento da vida – “eterna juventude” – apesar da longevidade etária, desvela-se contraditória, não? Cabe perguntar, no âmago da práxis, por que gesta-se tamanha anemia pastoral quando se trata da seguridade à participação juvenil, gerando velada “repulsa” ao protagonismo dos(as) jovens? Seria uma ação estratégico opcional preferencial às instituições? 

            A cultura grega antiga munia-se do vocábulo “phobos” para significar medo ou horror. Provém daí a expressão “fobia” que se traduz em medo mórbido de certos objetos, lugares, situações, etc. Aversão e repugnância são sinônimos de fobia. Outro vocábulo grego interessante é “éphebos” que significa adolescente. Na Grécia Clássica chamavam-se “Efebos” os moços entre 18 e 20 anos instruídos na efebeia (semelhante ao serviço militar). A união destes vocábulos resulta no termo “Efebofobia” que designa medo/aversão irracional de adolescentes/jovens e seus comportamentos naturais. Todavia, seria este o termo apropriado para discorrer sobre o assunto ao tratar-se de juventude?

Permito-me, portanto, reformular a inquietação: Considerando que Neotéfilo(a) é aquele(a) que ama as juventudes, como nominar a quem tem aversão/medo de jovens? Qual seria a expressão apropriada para dissertar a respeito da anêmica e estratégica opção pastoral adversa à práxis sócio transformadora juvenil? Interrogo nutrido de amabilidade e zelo apostólico missionário, no ardoroso desejo de encontrar interlocutores(as) propensos a dialogar, com vistas à digna evangelização. Consciente que “a amabilidade é uma libertação da crueldade que às vezes penetra nas relações humanas, da ansiedade que não nos deixa pensar nos outros, da urgência distraída que ignora que os outros também têm direito de ser felizes” (FrT, n. 224). Padre Leandro de Mello - @padreleojuventude. Passo Fundo, 10 12 2021.

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