RABISCOS SEMANAIS: Reencontrar-se!

 21/12/2021 - 08:30hrs
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A América Latina acolhe em seu ventre, segundo a Unesco, aquele que é considerado o maior festival de arte amadora: O ENART. O Encontro de Arte e Tradição (ENART) realiza-se anualmente no Rio Grande do Sul, articulado pelo Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG), objetivando promover o tradicionalismo gaúcho através da arte e da cultura sul brasileira, expressa especialmente, através dos Centros de Tradições do Rio Grande do Sul. As competições propiciam aos partícipes, verdadeiras experiências culturais, amistosas, artísticas, organizacionais e despertam o protagonismo integral de muitos jovens. Para maior e melhor organização o Estado gaúcho subdivide-se em 30 regiões e suas coordenações. Passo Fundo, a saber, sedia e coordena a composição da 7ª Região Tradicionalista do Rio Grande do Sul.

Paixão Côrtes e Barbosa Lessa folcloristas comprometidos com a cultura tradicionalista rio-grandense, a seu tempo, detiveram significativo trabalho em prol do ensino e da divulgação de danças gaúchas, salvaguardando três dimensões: a) incentivo à formação de invernadas artísticas nos Centros de Tradições Gaúchas (CTG’s); b) cursos em escolas primárias; c) formação de grupos artísticos com enfoque para músicas e danças gaúchas. Há obras diversas referente ao tema, das quais recordamos: Danças e Andanças da Tradição Gaúcha (1975), Manual de danças gaúchas (1997) e Folclore Gaúcho: festas, bailes, música e religiosidade rural (2006).

Alexandre Ourique, na obra “Danças Tradicionais Gaúchas”, lista 25 danças pertencentes à tradição gaúcha: “O Anu, Balaio, Cana Verde, Caranguejo, Chico Sapateado ou Chiquinho, Chimarrita, Chimarrita Balão, Chote Carreirinho, Chote de Sete Voltas, Chote de Duas Damas, Chote de Quatro Passi, Chote Inglês, Havaneira Marcada, Maçanico, Meia Canha, Pau de Fitas, Pezinho, Queromana, Rancheira de Carreirinha, Rilo, Roseira, Sarrabalho, Tatu, Tatu com Volta no Meio e Tirana do Lenço” (Porto Alegre, 2010). Executadas por prendas e peões, sejam crianças, jovens ou adultos, cada uma das danças possui características próprias, dialogando arte e cultura pelo viés de sarandeios e sapateios entre pares independentes ou entrelaçados. Existem, é verdade, outras danças tradicionais, não mencionadas por Ourique, que traduzem as manifestações culturais de povo gaúcho em suas múltiplas expressões.

Passo Fundo, Capital Internacional do Folclore e Capital Nacional da Literatura, ademais, guardiã da 7ª Região Tradicionalista (7ªRT) registra diversas atividades culturais e artísticas no construto de sua história, muitas destas citadas na obra “De Sonhos e Realizações” organizada, em 2019, por Luiza Salete Picoli Monteiro. Em seu Hino a 7ªRT canta: “em cada cidade desse chão, trovas, versos, livros, harmonia. Vão unindo suas estrelas, espalhando alegria [...]. Peões e prendas buscando seus sonhos. E campeiros lançando desejos. São bailarinos, cantores, poetas. A levar segredos por entre rincões [...]. De mãos dadas em defesa da cultura do gaúcho, a tradição é o seu maior tesouro”.

Jovens, crianças, adultos e anciãos compartilham experiências salutares à formação integral humana nestes espaços de alteridade artística e cultural, também repletos de espiritualidade, esperança, fé e caridade. A presença transcendental revela-se no respirar alegre, no pulsar de corações e nas ações em prol do bem comum. Como compreender? A sagrada escritura compartilha uma expressão de Jesus Cristo: “onde dois ou três estiveram reunidos em meu nome, aí estou no meio deles” (Mt 18,20). Sim, o Emanuel, Deus Conosco, é perceptível dentre as expressões culturais, artísticas e laborais gaúchas. Neste tempo de Advento, ousaria expressar que a juventude gaúcha, assim como Maria de Nazaré, a jovem Cheia de Graça, está grávida de vida esperançosa. O aproximar-se das festividades natalinas, o nascimento de Jesus Menino, encanta-nos outra vez para cantar, poetizar, dançar e reencontrar-se.

 A Gruta Nossa Senhora de Lourdes, no Município de Água Santa, nos primeiros dias de dezembro, por exemplo, aconchegou a 18ª Ciranda de Brinquedos e Brincadeiras Folclóricas organizada por Prendas Mirins e Piás Farroupilhas da 7ªRT, com apoio do Piquete de Laçadores Pai João. Esta atividade objetiva resgatar brinquedos e brincadeiras típicas da cultura regional, oportunizando às famílias e entidades, verdadeiro encontro, memória e a proposição de ações sociais. Neste 2021, a Ciranda de Brinquedos e Brincadeiras Folclóricas propôs-se, pela ação social “SuperAção com o Coração”, arrecadar materiais infantis, destinados para maternidades e às famílias/mães em situação de vulnerabilidade social.

A vida cristã chama à alegria. O IV domingo do Advento convida-nos refletir quão alegre fora o encontro de Isabel e Maria, ambas grávidas, repletas do Espírito Santo, dom de Deus. A narrativa bíblica ressoa que Isabel, ouvindo a saudação de Maria, percebe vibrar seu íntimo: “o bebê pulou de alegria em seu ventre” (Lc 1,41). “Maria doa a Isabel a alegria de Jesus, a alegria que ela carregava em seu coração e no ventre. Vai até ela e proclama os seus sentimentos, e esta proclamação dos sentimentos passou depois a ser uma oração, o Magnificat que todos nós conhecemos” recorda Papa Francisco. A 7ªRT, neste tempo de Advento, proporciona às juventudes, generosa oportunidade de encontro e alegria ao realizar, diga-se, o “Festival Gaúcho de Danças Tradicionais: O Reencontro!” O Festival, às vésperas do Natal, traduz-se em oportunidade ímpar para danças tradicionais e de salão, declamação, interpretação solista vocal e instrumental, gestando esperança e germinando vida à cultura regional juvenil. Marau, ao sediar o Reencontro, faz-se manjedoura cultural e artística à espera de Boas Novas. Feliz Natal!

 

Padre Leandro de Mello - @padreleojuventude. Passo Fundo, 21 12 2021.

 


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