Os ritos na vida cotidiana

Postado por: Ari Antônio dos Reis

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A vida humana é marcada por diferentes ritos e cada pessoa, desde o nascimento, participa, com maior ou menor consciência, desses momentos necessários e que dão um sentido diferenciado a sua vida. Os ritos estão disseminados no cotidiano pessoal, familiar ou comunitário. Eles vão se sucedendo desde que
levanta até o repouso, no final da jornada. Desde que a pessoa nasce até o seu sono
derradeiro.
As diferentes tradições religiosas também se embasam em rituais para operarem o contato com o Sagrado. No texto do Êxodo está o relato do encontro de
Moisés com Javé, quando subia a montanha para dialogar com o libertador (Ex 19,3;8; 17). O povo de Deus participava a distância, mas era uma forma de ser presença no
rito (Ex 19,21). Jesus também costumava se retirar para rezar. Era um rito individual (Mc 1,35; Lc 4,42; Lc 6,12) ou realizado na companhia dos discípulos (Mt 17 1-13; Mc 9,
2-13; Lc 9, 28-36), importante na vida do Filho de Deus.
Os povos tradicionais também fazem uso dos ritos nos cultos e alguns nem sempre são perceptíveis como ritos religiosos a quem não os conhece. São ritos que demarcam os momentos fundamentais na vida do grupo cultural e dão a eles a eles um caráter sagrado. O cotidiano se reveste de sagrado. Uma criança quando chega à adolescência começa a passar por diferentes ritos que lhe dão as condições de adentrar no grupo dos adultos. As passagens de fase da vida é são ritualizadas e, muitas vezes, revestidas de um caráter sagrado pela importância para o grupo cultural.
A tradição cristã se embasa também em muitos ritos. Estes têm um acento maior ou menor dependo da denominação cristã.
Na Igreja Católica a celebração eucarística é um rito muito valioso, sustentado por outros ritos, também extremamente significativos. A boa participação requer a
compreensão do rito realizado. E esta participação vai além da racionalidade. É um momento profundo de mística e espiritualidade que envolve a pessoa em sua
integralidade.
Uma pessoa quando se dispõe a assumir um serviço na sua comunidade terá um processo de preparação para compreender a função que vai assumir. Depois de
preparada vai passar por um rito que a colocará em condições de levar adiante a missão.
Uma experiência muito bonita está sendo recuperada na catequese de iniciação  à vida cristã. As quatro etapas da catequese são demarcadas por vários ritos que vão
preparando o catecúmeno para acolher em sua vida o sacramento para o qual está sendo preparado. Tais ritos são vistos como muito importantes e exigem preparação
para que se viva plenamente eles. A boa experiência nos ritos dará ao cristão, em processo de iniciação, um novo ânimo na sua vida de fé.

A vida humana no seu cotidiano também é marcada pelos ritos. Alguns têm grande importância. Outros nem tanto. Neste verão vê-se muitos casais, famílias,
amigos que vão para as praças no final da tarde tomar chimarrão e conversar. A pandemia limitou bastante este rito, mas ele ainda acontece e por ele se cultiva o
amor conjugal, o afeto familiar e a amizade. A criança que aguarda ansiosamente o retorno dos pais do trabalho para pular no seu colo e contar o que fez. É um rito
importante para aquela criança, mesmo que seus pais nem sempre percebam. Amigos de longa data costumam se encontrar eventualmente para conversar e confraternizar.
Este momento, mesmo que espaçado, é necessário para fortalecer a relação de amizade.
Os ritos vão demarcando momentos importantes, seja na vida cotidiano seja nos eventos considerados sagrados. Em ambas experiências não existe a repetição,
mas cada rito realizado é uma novidade, desde da sua constituição, como na sua efetivação.
De todos os ritos cotidianos, considero o mais importante sentar-se à mesa para partilhar a refeição com a família. Envolve várias dimensões: primeiro a
oportunidade de ter alimento na mesa; também o valor de partilhar os alimentos com a família e amigos; compreende também o sentar-se juntos, e além de se alimentar, se
conversar, fazer planos e renovar os laços familiares. Jesus fazia da mesa um momento forte de convivência e evangelização.
Dois desafios: compreender os ritos religiosos dos quais participamos; viver de forma plena e não abandonar os ritos do nosso cotidiano que tornam mais leve e dão
sentido à vida.

Pe. Ari Antonio dos Reis

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