Espiritualidade Quaresmal

Postado por: Ari Antônio dos Reis

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Convertei-vos e crede no evangelho (cf. Mc 1,15)

 

Na quarta-feira de cinzas iniciamos a caminhada quaresmal de 2022. O tempo litúrgico da quaresma, quarenta dias, é um tempo de graça que motiva todos os cristãos mergulharem confiantemente no amor misericordioso de Deus em vista da conversão. O tempo quaresmal segue um itinerário espiritual próprio e sugere algumas atitudes para os cristãos viver este tempo de forma mais consistente realmente como uma experiência transformadora de fé. Optamos por destacar quatro atitudes que poderão ajudar em uma boa caminhada quaresmal, certamente uma trajetória espiritual fértil e transformadora das nossas vidas.

A primeira atitude, já proposta na celebração da quarta-feira de cinzas, a conversão. No rito de imposição das cinzas ouvia-se a proposta: “convertei-vos e crede no evangelho. Nesse tempo são entoados cantos que lembram da necessidade de conversão, convite aberto a todo o ser humano. A palavra conversão é oriunda do termo grego metanóia que significa mudança de mentalidade, mudança do modo de pensar. Tal mudança se expressará na prática cotidiana. O fruto de uma mente e coração convertidos é uma prática modificada. João Batista já fazia esse convite ao indicar a necessidade de preparar-se para acolher o enviado de Deus (cf. Mt 3,2; Mc 4,1). Jesus, em vários momentos da sua missão, reiterava a necessidade de conversão (Mc 1,15; Mt 18,13; Lc 13,5). Esta proposta ainda está aberta e, nesse tempo santo da quaresma, cabe fazer-se a pergunta: o que significa a conversão? Que atitudes assumidas indicam que se está no caminho da conversão?

A segunda atitude diz respeito à humildade em buscar misericórdia de Deus. Esta atitude, enquanto convite, se expressa em muitos cantos quaresmais. Indica que não somos tudo e não podemos tudo. Somos pó e ao pó voltaremos (cf. Gn 3,19). Diante do erro e do pecado é necessário buscar e sentir a misericórdia de Deus. Da sua iniciativa misericordiosa não se tem dúvidas. Entretanto, muitas vezes, o ser humano não dispõe a fazer esta busca. Cabe colocar-se no lugar do jovem que teve a coragem de assumir o caminho de volta, depois do erro, para encontrar-se com seu pai que lá estava o esperando (cf. Lc 15,18-20). É tempo de experimentar intensamente a misericórdia de Deus. Fará um bem enorme para cada pessoa que faz tal experiência.

Uma terceira atitude ganha intensidade na caminhada quaresmal. É a busca de uma proximidade maior com Jesus Cristo e sua proposta. É importante essa busca porque corre-se o risco de assumir uma caminhada quaresmal meramente devocionista, contudo sem voltar-se à centralidade do Filho de Deus e o mistério da sua paixão e ressurreição. Na quaresma Jesus não é um detalhe ou um acessório dispensável. Ele é o centro do período quaresmal. Tudo se volta a Ele. A proximidade com Jesus acontece com a reflexão sobre os evangelhos diários e dominicais. Também pela meditação da via-sacra e outros instrumentos dispostos pela Igreja Ali está um roteiro da vida do Filho de Deus significativo e sustentador da vida de oração pessoal, familiar e comunitária.

Uma quarta atitude compreende a dimensão social da nossa fé. A quaresma não é um projeto de fé intimista. É um projeto cristão eclesial com acento pessoal de repercussão comunitária e social. A Campanha da Fraternidade que trata sobre a educação a partir do lema “fala com sabedoria, ensina com amor (cf. Pr 31,26), é oportunidade de olharmos ao nosso redor buscando as implicações da nossa fé em Jesus ressuscitado na vida em sociedade. Estamos imbricados e somos também responsáveis por esta realidade a ser transformada segundo os critérios do Reino anunciado por Jesus.   Não nos esquivemos desse compromisso intrínseco à fé cristã.

Façamos da caminhada quaresmal um tempo de graça e conversão. Não desperdicemos esta chance que o Pai nos oferece em seu amor misericordioso. Compreendamos que a quaresma nos levará à Pascoa, a festa da alegria, a vitória do ressuscitado sobre as forças da morte. Somos parte dessa linda caminhada.   

Pe. Ari Antonio dos Reis

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