RABISCOS SEMANAIS: Qual fileira estamos?

 15/03/2022 - 07:00hrs
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Orlando G. de Pinho, na obra “Nas Pegadas dos Homens”, compartilha a experiência de Hugo, um amigo que fora convocado para o serviço militar. Tratava-se de um rapaz de princípios, afeito ao trabalho e de bom coração. O jovem soldado, para suas horas livres, solicitara a seu superior autorização para cuidar do jardim. O pedido de Hugo, ao capitão, trouxera surpresa, pois, não havia precedentes para tal atitude. Todavia, o oficial consentiu e forneceu-lhe as ferramentas necessárias para executar a nobre tarefa. Em poucos dias, apesar da zombaria dos demais companheiros de serviço militar, um belo jardim surgira aos olhos de todos, perfumando campos e corredores.

A sagrada escritura, no segundo testamento, compartilha a experiência de Maria Madalena, fiel discípula, seguidora das pegadas de Jesus. Na manhã do primeiro dia da semana, o domingo, Maria Madalena fora ao túmulo, bem cedo, pois, ainda era escuro (Jo 20,1). Percebera que a pedra que protegia o sepulcro havia sido removida; por isso, buscou encontrar-se com os demais discípulos, e dizer: “tiraram do túmulo o Senhor e não sabemos onde o colocaram” (Jo 20,2). No local foram encontrados os lençóis e o sudário, apenas. Permanecendo neste lugar Maria Madalena, inclinando-se, chorava sem respostas para o questionamento acerca do Mestre. João evangelista, a seguir, sugere que Maria, ao ver Jesus ressuscitado, primeiramente, pensou estar dialogando com o jardineiro. Porém, quando este chamou-a pelo nome – Maria – ela, em hebraico, exclamou: “Rabuni” que significa Mestre. E, a partir de então, testemunhou a ressurreição (Jo 20, 3-18). 

Há, na caminhada cristã, incontáveis testemunhos de pessoas, grupos e instituições que debruçaram-se em prol do cuidado da vida e do bem viver, observando, como sugere o Pacto Educativo Global, colocar no centro de cada processo educativo a pessoa e sua formação integral que conduz à plena dignidade. Quando, ainda no Gênesis, fora confiada ao ser humano cuidar o jardim do Éden, transmite-se um ensinamento de corresponsabilidade com o bem comum, os seres vivos e o meio ambiente. O ser humano, no Éden, assume o compromisso de cultivar e guardar (Gn 2,15) a Casa Comum.

Na realidade contemporânea, crianças, jovens e adultos, carecem de bons referenciais, capazes de ultrapassar a fronteira do óbvio em seu exercício de construção humana e transcendental. Há pais exemplares à prole, educadores(as) magníficos aos educandos, líderes religiosos a vestir as sandálias do Mestre Jesus, trilhando seus caminhos, é verdade. E, ademais, não o fazem apenas no tempo livre! Se tomarmos o pontificado de Francisco como exemplo, nestes 9 anos (2013 – 2022), certamente colher-se-á múltiplas flores, cores e perfumes, a contar pelas cartas, encíclicas, exortações, testemunhos e gestos. Por fim, ter-se-á que questionar: dentre as pessoas que cultivam jardins e as promoters de escárnio, que fileira estamos?

 

Padre Leandro de Mello - @padreleojuventude. Passo Fundo, 15 03 2022.

 

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