O mistério da Semana Santa

Postado por: Ari Antônio dos Reis

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No próximo domingo celebraremos a entrada de Jesus Cristo em Jerusalém e sua acolhida por parte da população que clamava que Ele era o “Bendito vindo em nome do Senhor” (Lc 19,38). A celebração do Domingo de Ramos demarca o início da Semana Santa, de especial significado para os cristãos e que também assinala de forma significativa a trajetória da humanidade.

 Esta semana tem seu desfecho final na Celebração da Páscoa, a festa da Ressurreição do Senhor. É um período de memória profundamente significativo. Os diferentes ritos convidam os cristãos a olharem para Jesus Cristo, a proposta do Reino anunciada para toda a humanidade, o ensinamento e prática sintonizados com o anúncio feito no início da sua missão.

A chegada de Jesus à cidade de Jerusalém decorreu da sua missão e das opções feitas. Havia estado na cidade na infância e adolescência na companhia de seus pais (Lc 2,22. 41) . Agora chegava na companhia dos discípulos já sabendo que ali teria muitas dificuldades (Mt 20, 17-19; Mc 10, 32-34; Lc 18, 31-34). Depois que chegou na cidade Jesus concentrou seus esforços no ensino nas proximidades do Templo. Nesse meio tempo seus adversários foram se articulando porque o viam como ameaça. Do simples enfrentamento com argumentos religiosos passaram tramar a sua morte, considerada por eles como a única solução como forma de silenciar o homem que vinha da Galileia. Diante das ameaças nos primeiros dias ele ficava nos arredores do Templo, mas dormia na periferia porque estava com sua vida ameaçada. Todavia, a tensão aumentou e Jesus foi compreendendo o agravamento do conflito. A sua prisão não demoraria. O Tríduo Pascal faz a memória dos três momentos marcantes na vida de Jesus e estruturantes da fé cristã.   

Na quinta feira Jesus reuniu-se com o grupo dos discípulos para celebrar a festa da Páscoa, tradição judaica (Mt 26, 26-29). Na ceia com o grupo deixou o memorial da Eucaristia, seu corpo e sangue derramados por todos em vista da salvação da humanidade (1Cor 11, 23-26). O pedido “façam em memória de mim” (1Cor 11,25) ficou como herança sagrada para toda a Igreja e, na quinta-feira santa, é celebrado como mistério da fé. O Filho de Deus, mesmo sabendo da traição dos companheiros não deixou de doar-se e que fizessem o gesto em sua memória até a sua vinda definitiva (1 Cor 11,27). Os cristãos se nutrem da Eucaristia que é o alimento da vida de fé.   

Depois de uma noite de oração e agonia no Getsemani, na madrugada de sexta feira, ele entregou-se às autoridades (Jo 18,20). Aparentemente as forças contrárias ao projeto do Reino estavam vencendo. Os discípulos estavam confusos porque o homem que equivocadamente imaginavam chegaria a Jerusalém para tomar o poder fora preso. Muitos se dispersaram. Para Jesus foram horas de humilhação, dor e sofrimento caracterizadas por um julgamento injusto e uma condenação rápida, coroada pela peregrinação ao Monte Calvário seguida da morte de cruz, pena própria do Império Romano, atribuída aos que lhe ameaçavam. Jesus morreu como um subversivo político e como um pecador religioso. Para os cristãos morreu para salvar e na sexta-feira santa assinala-se pela oração contrita a memória da doação extrema de Jesus de Nazaré. Na cruz Ele entregou a humanidade para sua mãe e entregou a sua mãe para a humanidade (Jo 19,26-27).     Seguiu-se o silêncio e o vazio e da morte. Para o discipulado ficou a desilusão de um sonho não realizado, a esperança que não se concretizou (Lc 24, 18-21).

 O dia de sábado é marcado pelo silêncio, primeiramente respeitoso ao doador da vida pela salvação da humanidade e, posteriormente, para os cristãos, a expectativa de algo novo e totalmente inusitado. O silêncio cede lugar à alegria da proclamação da Ressurreição. Jesus ressuscitou, venceu a morte e as forças contrárias ao projeto do Reino. A celebração da Vigília Pascal apresenta alguns símbolos. O fogo que representa a manifestação de Deus, a nova criação realizada na ressurreição de Jesus. A luz que emerge do fogo e que vai aos poucos iluminando o espaço celebrativo. É a luz de Cristo que ilumina memorial da Páscoa marcado pela alegria do ressuscitado, porque as trevas não venceram a luz. A água, dom de Deus disposto ao ser humano para matar a sede e purificar. Será usada no rito batismal pois a pessoa é mergulhada em Jesus fazendo-se uma nova criatura. Tudo é costurado pela narrativa da história da salvação, a Palavra de Deus dirigida ao povo e plenificada no anúncio da Ressurreição.

 Aos poucos e de diferentes formas Jesus ressuscitado foi se manifestando aos seguidores primeiramente para convencê-los da ressurreição (Mt 28, 1-10; Mc 16, 1-8; Lc 24, 1-12; Jo 20, 1-10) e também pedindo que continuassem a sua obra (Mt 28, 1-20; Mc 16 9, 20; Lc 24, 44-50; Jo 20, 19-23). No Domingo de Páscoa e nos dias seguintes a Igreja celebra a oitava da Páscoa segundo a compreensão que é o único dia, o dia da ressurreição do Senhor. Seguem-se os cinquenta dias do Tempo Pascal encerrados com a Solenidade da Assunção e a Solenidade de Pentecostes a acolhida do Espírito Santo prometido pelo filho de Deus (Jo 16,13-15).

Vivamos a próxima semana na comunhão da mesma fé que que nos faz discípulos de Jesus. O mistério da sua vida, morte e ressurreição celebrado na comunidade cristã e meditado individualmente coloca cada pessoa em sintonia com o Filho de Deus. A semana santa tem esta marca de mistério, contudo um mistério que não nos repele ou anula, mas convida a plena participação. Como ele entrou em Jerusalém entremos também nesse mistério e vivamos o Tríduo Pascal para ressuscitarmos com o Senhor.

Pe. Ari Antonio dos Reis 

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