Encerramos a caminhada quaresmal com a celebração da Páscoa do Senhor. Segundo o calendário litúrgico, o tempo da quaresma assentado no convite à conversão, na prática da caridade, no jejum e na intensificação da oração, cede lugar ao tempo da Páscoa, embasado na certeza da Ressurreição de Jesus. O filho de Deus venceu a morte e também aqueles que desejavam o fim da sua vida como sinal do término do projeto do Reino por Ele mesmo anunciado (Mt 4,17).
A itinerância iniciada na região da Galileia na companhia dos discípulos deixou muitos grupos religiosos e políticos inquietos. A princípio o debate era em nível de ideias e compreensões diferenciadas da sagrada escritura e também do Reino anunciado. Entretanto, estes grupos não conseguiam, por mais que tentassem, se sobrepor a Jesus em conhecimento. Nas vezes que tentavam Jesus os deixava sem argumentos (Mt 19, 1-9; 22, 15-22).
O povo, por sua vez, sentia-se maravilhado com o ensinamento (Mc, 1,27) e as curas (Mc 2, 12; Lc 5,26) operadas por Jesus. As palavras e gestos do Filho de Deus renova a esperança de todos porque compreendiam que Deus estava os visitando e proclamavam a notícia por toda a redondeza (Lc 7,16-17).
A proposta do Reino anunciado por Jesus (Lc 4,1-21) vinha ao encontro das esperanças do povo. Por outro lado, atiçou ira dos adversários. Ele mesmo previa grandes dificuldades (Lc 9,44). A sua morte foi tramada pelos diferentes grupos que lhe faziam frente: fariseus, doutores da lei, sacerdotes, anciãos do povo (Lc 22,2). Chama atenção a fala de Caifás narrada por João: é necessário que alguém morra pelo povo (Jo 11,5-52). A consequência das suas opções foi a perseguição (Jo 10,39) prisão, o julgamento rápido, a subida ao Monte Calvário com a cruz nas costas (Jo 18,1-19,42). Ele foi fiel até o fim
Porém, aconteceu algo de novo em relação a sua trajetória. Ele morreu, mas ressuscitou. Não ficou nas amarras da morte (Jo 20,6-8). Após a tragédia da cruz e dispersão do grupo era necessário um recomeço. Mas Jesus deparou-se com a dificuldade de mostrar ao grupo dos discípulos, dispersos após sua prisão, morte e ressurreição, que o projeto não estava derrotado e que eles deveriam dar-lhe continuidade. Cabia aos discípulos superar o medo e a insegurança que a perda gerara e retomar o projeto sem a presença de Jesus. Como fazer isso? A partir da convicção da ressurreição do Nazareno. Sem esta convicção nada seria possível e tudo perderia o sentido. A missão deveria continuar a partir da fé na ressurreição.
As aparições de Jesus crucificado-ressuscitado deveriam sanar o problema. Os evangelistas narram de diferentes formas estes momentos significativos. Mateus narra a aparição para as mulheres, a “mentira” contada pelos adversários sobre o roubo do corpo e o encontro de Jesus com os onze na Galileia. Alguns ainda tinham dúvidas. Dali os enviou em missão (Mt 28,16-20).
Marcos narra a surpresa das mulheres ao encontrarem o túmulo vazio. O anjo que ali estava afirmou a sua ressurreição e pediu que avisassem aos demais discípulos que Ele iria na frente para a Galileia a fim de encontrá-los (Mc 16, 1-8). Marcos narra também a aparição a Maria Madalena, a dois do grupo que estavam indo para o campo (Mc 16, 9-13). Estes anunciaram o encontro com Jesus. Todavia, o grupo dos discípulos não acreditou (Mc 16,13). Estavam ainda mergulhados na morte. Foi necessária a aparição de Jesus aos onze (Mc 16, 14) para que se dessem conta da nova realidade. Ao mesmo tempo, os enviou em missão (Mc 16,15-20). Convencidos da ressurreição se tornaram anunciadores do evangelho de Jesus.
Lucas narra a presença das mulheres no túmulo onde acreditavam estar Jesus. Ficaram surpresas ao verem remova pedra que fechava o túmulo e a ausência do corpo (Lc 24, 3). Dois homens vestidos com roupas brilhantes indagaram porque “procuravam entre os mortos quem estava vivo” (Lc 24,5). Ao anunciarem aos onze a notícia não tiveram crédito dos demais, exceto de Pedro que foi ao túmulo e viu o fato, admirando-se com o acontecido (Lc 24, 12). Lucas ainda narra o encontro com dois discípulos que iam para Emaús e no caminho encontraram com Jesus (Lc 24, 13-35), sendo convencidos da ressurreição e, novamente, a aparição ao grupo dos onze mostrando suas chagas e solicitando algo para comer (Lc 24, 37-41). Aproveita o momento para situar o grupo na narrativa da escritura a seu respeito (Lc 24, 44-46). Pediu que ficassem na cidade de Jerusalém até receberem a “força do alto”. Disse isto antes de subir ao céu (Lc 24, 44-53).
João relata a percepção da ressurreição em diferentes momentos. Primeiro por Maria Madalena, que chamou Pedro e João para testemunharem o fato (Jo 20, 1-10). Novamente com Maria, que foi convidada a anunciar que Ele, ressuscitado, estava subindo para junto do Pai (Jo 20,17). Aparece duas vezes quando o grupo estava reunido em casa, primeiramente mostrando seu corpo ferido, soprando sobre eles o Espírito Santo e os enviando para perdoar os pecados do mundo (Jo 20, 21-23). Depois, convidando Tomé a superar a incredulidade quanto ao testemunho da ressurreição dado por seus colegas (Jo 20,27). Foi acrescentado um apêndice no texto de João, momento em que Jesus se apresenta ao grupo que estava pescando. Ali reitera a missão de Pedro (Jo 21,19).
Os discípulos viram a morte do Mestre. Era um fato, apesar de doloroso, comum na época. Muitos líderes morriam crucificados. A novidade para eles foi a ressurreição de Jesus. Deveriam acreditar que Ele vencera a sua última barreira, a morte apontando para todos o caminho da eternidade. Acreditando deveriam testemunhar a sua proposta (At 2,24).
Acreditamos nessa verdade de fé. Em Jesus a morte foi derrotada. Em Jesus compreendemos nossa vocação para a vida eterna. Em Jesus renovamos o nosso compromisso de fé. Em Jesus a Páscoa se torna a celebração da vida que vence a morte. Jesus ressuscitou, aleluia!
Pe. Ari Antonio dos Reis