RABISCOS SEMANAIS: Coragem e avante!

 19/04/2022 - 11:00hrs
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Encontrar-se compõe o exercício de humanização, interação, sociabilidade e, por que não dizer, construção comunitária de projetos com vistas à utopias concretas. Há 50 anos, no Brasil, a Pastoral da Juventude constrói caminhos de evangelização e almeja, diuturnamente, peregrinar à Civilização do Amor pela participação, organização, articulação, metodologia, espiritualidade e formação integral, nas quais, as(os) jovens são partícipes protagonistas.

A emergência sanitária, o necessário isolamento social, dentre outras situações contextuais, corroboraram para que inúmeras ações pastorais sofressem significativo esmorecimento. Aos grupos de jovens tal impacto revelou-se amplamente preocupante, pois, os vínculos amistosos, o contato semanal, a troca de experiências e escuta da Palavra, o Evangelho, em comunhão fraterna, ficaram em demasiado prejudicados. Conscientes da realidade desafiadora, na convicta missão, de acompanhar jovens e seus processos de autonomia sociopolítica, econômico cultural e eclesial cabe questionar: Como trabalhar, atualmente, a mística de reencontro da juventude neste contexto de retorno dos grupos pós pandemia?

Perpassados 750 dias, isto é, mais de dois anos, portanto, desde o primeiro lockdown (confinamento), agora, faz-se essencial retomar o peregrinar, mesmo que árduo e gradual. A vivência saudável de um grupo de jovens alia-se, sobretudo, aos laços afetivos e comunitários estabelecidos que, por sua vez, dependem de contatos físicos, reais, semanais. Há diversas comunidades com importante experiência de acompanhamento e incentivo aos trabalhos e grupos juvenis. Todavia, naquelas comunidades, as quais, as críticas, os conflitos e o apoio limitado ou inexistente prevalecem, a sobrevivência do elã juvenil padece e muito.  

A experiência pascal traduz à vida cristã o processo de construir alternativas, à luz do Evangelho, e ousar seguir com esperança realizando passagens de situações desprovidas de sinais vitais para novos e profícuos horizontes. Míria T. Kolling escreve em canção: “A Páscoa não é só hoje, a Páscoa é todo dia. Se eu levar o Cristo em minha vida, tudo será um eterno aleluia!” A narrativa bíblica sugere que fora através da inquietude do sepulcro vazio (Lc 24,1-12; Jo 20,1-10) que a comunidade de seguidores(as) de Jesus Cristo descobre-se pascal, ou seja, consegue discernir a experiência da ressurreição e lança-se à missão apostólica de testemunhar.

Ter-se-á que, neste período, construir processos e reconstruir vínculos sociais e comunitários, dedicando tempo às reuniões frequentes, à mística do encontrar-se e compartir, ao despertar de novos participantes, contando com a experiência daqueles(as) que optaram em perseverar na dinâmica da vida em grupo, fortalecendo os grupos de base. Fazer memória à história revela-se uma opção pedagógica metodológica salutar para, no presente, abrir janelas futuras.

A Itália, por exemplo, protagonizou na segunda-feira, 18 de abril, sua “primeira peregrinação nacional dedicada aos adolescentes”, reverberou Padre Davide Brusadin, encarregado regional da Pastoral Juvenil em Triveneto. Com o objetivo de “viver uma experiência de comunhão fraterna e de fé”, adolescentes e jovens, entre 12 e 17 anos, prepararam-se através de “dois encontros durante os quais entenderam o que significa seguir o Senhor e qual é a verdadeira essência de caminhar juntos" para que, então, fosse possível organizar um encontro ampliado.

“Siga-me” propunha o tema chave ao encontro realizado na Praça São Pedro e suas adjacências pela inspiração bíblica de João Evangelista (Jo 21,1-19). No percurso de preparação ao encontro, ao menos 57 mil jovens e adolescentes italianos inscreveram-se para participar da vigília na qual fora possível acompanhar as partilhas dos(as) jovens Alice, Matteo, Samuel e Sofia acerca de suas histórias sobre luto, enfermidades e “pouco desejo de viver” transformadas em coragem e luz à vida (Vatican News).

Papa Francisco, presente no encontro juvenil, propôs uma reflexão após atenta escuta aos jovens: “Não tenham medo da vida, por favor! Tenham medo da morte, da morte da alma, da morte do futuro, do fechamento do coração. Disto vocês devem ter medo. Mas da vida não, a vida é bela. A vida é para ser vivida e para doá-la aos outros, a vida deve ser compartilhada com os outros, não para fechá-la, fechá-la em si mesma.” E, por fim, acrescentou que os(as) jovens podem não ter a experiência dos adultos, mas em compensação têm “faro”. “Vocês têm faro: não o percam! O faro de dizer ‘isto é verdade, isto não, isto não está certo’, o faro para encontrar o Senhor. O faro da Verdade [...]. Coragem e avante!”

 

Padre Leandro de Mello - @padreleojuventude. Passo Fundo, 19 04 2022.

 

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