Compreender-se, estar e habitar, um mundo em constante transformação
faz-se salutar para dialogar acerca do existir e do sentido à vida, seja em
aspecto pessoal, familiar, comunitário ou social. A disposição para ponderar
elementos significativos à saúde integral do corpo societário molesta-nos
cotidianamente ante os infortúnios e contradições presentes na alteridade
político econômica, sociocultural e eclesial. Emergem, então, questões a
respeito da credibilidade no tocante a pessoas, grupos e instituições.
O Grupo de Análise de Conjuntura, CNBB, Padre “Thierry Linard” apresentou, em 21 de abril de 2022, uma proposta de diálogo e reflexão ante a “gravíssima e complexa realidade brasileira” ponderando ser importante observar de forma ampla a realidade que nos cerca enquanto habitantes da Casa Comum, comunidade humana. Pertinente é recordar que o Brasil, país Latinoamericano, sente os impactos mundiais e suas grandes mudanças. Na base vivencial mais profunda deste tempo, há fenômenos econômicos, sociais e tecnológicos trazendo concepções de “inconsistência e instabilidade” ao bem viver societário.
A análise aponta que: “talvez as questões mais evidentes da conjuntura mundial de 2022 decorram (i) do conjunto de guerras e conflitos que violentam povos e comunidades, ao lado de (ii) uma pandemia que ceifou milhões de vidas em todo o planeta, (iii) da recessão democrática e (iv) da destruição da Casa Comum, enquanto mudanças profundas são impulsionadas por revolução cientifico-tecnológica que define novos padrões técnicos para a produção econômica, impactando fortemente o mercado de trabalho e os padrões de consumo e de comunicação na sociedade humana”.
Vive-se, a saber, “a” crise de sentido, pois, dissolveu-se a concepção integral do ser humano, sua relação com a Criação e com o Sagrado. Ocasiona-se, então, uma despreocupação pelo bem comum e nutre-se, em demasia, a busca pela realização imediata dos desejos individuais. Abranda-se, neste momento histórico nacional brasileiro, um expressivo “impulso de morte” apesar das persistentes e profícuas ações pró vida. Há perspectivas?
É essencial, sempre, repetir que o cuidado à vida, à paz, à justiça e à fraternidade norteiam a ação sociotransformadora da Igreja Católica Apostólica. Nesta missão, a práxis evangelizadora juvenil traduz-se dentre os temas caros à Igreja, uma vez que preocupa-se com uma educação, à luz da fé, capaz de conduzir, acompanhar e salvar pessoas entendendo-as como protagonistas em suas comunidades. Papa Francisco recorda que “nenhum jovem está fora do alcance da graça e da misericórdia de Deus. Quantos jovens sentem a paixão de se opor e ir contra corrente, mas trazem escondida no coração a necessidade de se comprometer, de amar com todas as suas forças, de se identificar com uma missão!”
A Comissão Episcopal Pastoral para a Juventude, neste 2022, através da Ir. Valéria Andrade Leal, organizou a obra “Evangelização Juvenil: desafios e perspectivas” exortando-nos à “acreditar nos jovens”, pois, “no contexto em que vivemos, torna-se fundamental desmitificar a ideia inadequada de que muitas pessoas possuem a respeito dos jovens” (CNBB, p. 85). Cada pessoa, família, grupo, entidade e instituição é chamada à confiar, à acreditar na juventude.
A sagrada escritura narra significativas experiências na qual Deus olha com atenção e confiança para a juventude. No relato do anúncio do Nascimento de Jesus, por exemplo, o anjo Gabriel dialoga com a jovem Maria (Lc 1,26-38) que acolhe em seu protagonismo a missão de gestar a amorosidade de Deus à humanidade. Somos todas(os), assim como Deus, chamadas(os) à creditar confiança aos jovens e às jovens, acompanhando, escutando, dialogando, desafiando e construindo caminhos, pontes, germinando encontros profícuos e repletos de significado. “É preciso perseverar no caminho dos sonhos” (ChV, n.142). À contemporânea realidade que sonha reencontrar sentido ante as crises, responder-se-á pelo creditar jovem!
Padre Leandro de Mello - @padreleojuventude. Passo Fundo, 31 05 2022.