Jose Fernando Gomes dos Reis e Samuel Rosa de Alvarenga ao compor e questionar: “quem não sonhou em ser um jogador de futebol?” elucidam uma interrogação que perpassa o imaginário sociocultural brasileiro, tornando-se conteúdo à canção – “É uma partida de futebol” – entoada pela banda Skank. O Brasil, quando refere-se ao futebol, é reconhecido mundialmente, não é verdade? Há milhares de crianças, adolescentes e jovens, meninas e meninos, nutridos pela esperança da arte esportiva em seus projetos de vida.
A prática esportiva, em suas múltiplas modalidades, traz à saúde inúmeros benefícios e, ainda, corrobora na sociabilidade, organização, disciplina, participação ativa, etc. Há, pelo país, incontáveis projetos sociais, públicos e privados construídos sob a ótica esportiva com objetivos que condizem à política do bem comum sociocultural, econômico e lúdico das pessoas alcançadas. Sabe-se, contudo, que a ampla realidade nacional com seus caracteres e marcadores de desigualdade social gesta significava apreensão à formação integral da população infanto-juvenil.
As mídias sociais, e suas diversas plataformas, conectam pessoas e contextos oportunizando situações benéficas e, também, passíveis de constrangimento, ações inapropriadas aos princípios morais e éticos societários. O esporte, unido as mídias sociais, tem fabuloso potencial quando trabalhado em prol da coletividade social. Todavia, a carestia de habilidades educativas e técnicas, pode gerar expressivo desconforto aos sujeitos imbricados no processo, especialmente, aos jovens.
No que tange o fator futebol, por exemplo, há consenso à regra a respeito do uso de luvas pelo jogador(a) responsável por guardar as redes, goleiro(a). Por via de regra, outros atletas estão desautorizados ao uso de luvas, salvo à necessidade de proteção física em situações marcadas por baixas temperaturas. Atletas europeus, não raramente, usufruem de luvas para proteção das mãos durante os jogos. Graças a conectividade, hoje, é-nos permitido acompanhar, em tempo real, as mais inusitadas situações e contextos aos quais somam-se partidas de futebol, clubes, torcidas e afins.
Ademais, revisitando a canção do Skank, cabe-nos refletir, a saber, o porquê mesmo que “bola na trave não altera o placar. Bola na área sem ninguém pra cabecear. Bola na rede pra fazer o gol. Quem não sonhou em ser um jogador de futebol?” Isto é, que luvas, necessárias à nação brasileira, serão capazes de garantir a sustentabilidade da utopia concreta de reconhecer-se e construir-se campeões, não somente nos gramados, mas, sim, em todos os campos da vida societária? Seriam “luvas de pedreiro”, como sonhou Iran Santana Alves, criador de conteúdo e influenciador digital brasileiro?
O jovem, nascido em 07 de novembro de 2001, no povoado de Tábua, em Quijingue, município interiorano da Bahia, quebrou recordes de engajamento social, em 2022, através da produção, mesmo que amadora, de conteúdos virtuais ligados ao futebol latino-americano e europeu. Na companhia de amigos, Iran, conquistou milhões de seguidores(as) nas redes sociais, inclusive, a própria conta oficial da rede Instagram, ao publicar vídeos simples e lúdicos, recheados de criatividade, envolvendo futebol e bordões (“Receba” e “Obrigado, meu Deus”).
A alegria eufórica e contagiante de Iran, ao encantar e inspirar milhões de internautas, em contrapartida, profeticamente traz denúncia à comunidade social brasileira e internacional acerca da realidade socioeconômica, política e cultural maltratada por altos índices de desigualdade e exploração. Este jovem, assim como seus amigos e familiares, foram penalizados na grande área do campo educativo, de infraestrutura social e de políticas públicas.
O jovem repleto de habilidades, esportivas e midiáticas, que traz nas mãos luvas de pedreiro, joga como atacante e faz gols incríveis, é verdade. Porém, no campeonato do direito universal ao conhecimento, houve “bola na trave” ou quem sabe a ausência de políticas públicas impossibilitou que houvesse alguém na área para cabecear, entende? “Mas que beleza é uma partida de futebol!” É tempo, portanto, de ousar e lançar-se à arte coletiva e articulada que acredita na participação a qual todos(as) juntos(as) são bons atletas com habilidades para levar “o time todo pro ataque” e vencer com as luvas da educação!
Padre Leandro de Mello - @padreleojuventude. Passo Fundo, 05 07 2022.