Não esqueça dos pobres (Dom Claudio Hummes)
Nesta semana perdemos o Cardeal Claudio Hummes, franciscano gaúcho que serviu a Igreja em diferentes missões. Partilho aqui quatro momentos marcantes na missão de Dom Claudio que foram extremamente significativos para a Igreja e para a sociedade.
O primeiro momento aconteceu quando era bispo na diocese de Santo André, região do ABC paulista, grande polo metalúrgico. Na época enquanto pastor daquela Igreja particular foi solidário com os metalúrgicos em processo de reinvindicação de melhorias salariais. O gesto foi emblemático pelo contexto político e social do Brasil. O apoio de um bispo católico à pauta dos trabalhadores metalúrgicos foi extremamente significativo. Deixa-nos como legado o compromisso com justiça social.
Anos mais tarde assumiu a arquidiocese de Fortaleza e, posteriormente, São Paulo, quando foi escolhido cardeal por São João Paulo II. Dom Claudio, na maior cidade do Brasil, dedicou grande tempo e energias a articular, como parte do compromisso evangelizador eclesial, o serviço da caridade, todavia uma iniciativa organizada e voltada ao cuidado efetivo dos mais pobres. Ensinou a importância da caridade organizada.
Foi chamado a Roma para assumir o setor responsável pela Congregação para o Clero tendo também como responsabilidade a formação presbiteral, ou seja, o acompanhamento da formação dos futuros presbíteros. Insistia na necessidade de serem pastores e missionários a serviço do Evangelho. Ficou nesta missão até sua renúncia, por ter completado 75 anos. A formação presbiteral é muito importante para a Igreja e Dom Claudio deu sua contribuição neste processo ao mesmo tempo importante e delicado. Dom Claudio ensina-nos o amor pela Igreja e a consciência da centralidade da sua missão no mundo.
Retornando ao Brasil assumiu outra função extremamente significativa, a Comissão Episcopal Especial para a Amazônia, ligada à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB. Ali Dom Claudio exerceu com amor e dedicação o espírito missionário, sonho de juventude, viajando pelas dioceses que compõem a Amazônia legal, conhecendo as diferentes realidades e dando apoio inequívoco aos povos que habitavam aquela região, sobretudo os povos indígenas. Dom Claudio não hesitava em defender a Amazônia e os povos da Amazônia. Esta defesa acontecia frente aos outros bispos e também diante da sociedade. A Amazônia se tornou a causa ministerial de Dom Claudio e isto lhe fez muito bem e foi, ao mesmo tempo, uma grande dádiva para a Amazônia. Enquanto presidente da Comissão Episcopal Especial para a Amazônia contribuiu na criação da Rede Eclesial Pan-amazônica reunindo as dioceses dos países com presença na Amazônia. Sem dúvida estas duas entidades significam uma grande força para as Igrejas particulares com atuação na região em nome do Evangelho e Jesus Cristo. Contribuiu para colocar os povos da Amazônia como protagonistas dos debates eclesiais. Explicitou de várias formas seu carinho pelos povos da Amazônia.
Por fim assinalo, um fato que o próprio Papa Francisco faz questão de recordar por ocasião da sua escolha para o pontificado. Dom Claudio, que estava sentado ao lado do então cardeal Jorge Mário Bergoglio, disse “não esqueça dos pobres”. A lembrança de Dom Claudio influenciou no nome escolhido: Francisco, o santo dos pobres, chamado a reconstruir a Igreja de Cristo. E o papa tem levado à frente.
E importante lembrar um serviço inestimável prestado por Dom Claudio ao povo da Arquidiocese de Passo fundo. Em momentos turbulentos ele se dispôs a vir a esta cidade para escutar os presbíteros e agentes de pastoral. Assumiu a missão com grande respeito e consideração pelos seus interlocutores. Aquilo que sínodo provoca em nós Dom Claudio o fez: escutou. Foi uma escuta atenciosa e comprometida que fez muito bem a este povo.
Nestas tantas missões, assumidas com humildade e simplicidade, deu o testemunho de homem comprometido com o Reino, que foi o sentido da sua vida. Está em sintonia com o texto da carta de Paulo a Timóteo proclamada na celebração das exéquias: combati o bom combate, acabei minha carreira guardei a minha fé (2Tm 4,10).
Pe. Ari Antonio dos Reis