Nascer constitui um magnífico ato do existir. A vida constitui-se de concepção, nascimento, desenvolvimento e entrega ao mistério do morrer à plenitude do viver eterno. Aprendemos pela experiência de alteridade societária, seja familiar, escolar, eclesial, esportiva, laboral, etc. que há processos salutares ao saudável gestar humano e da biodiversidade. Chegar à luz do existir, consequentemente ao processo gestacional, traz à memória humana, desconfortos e surpresas importantes à concepção da personalidade psíquica, afetiva e social.
Quando, no construto de projetos e sonhos, propõe-se refletir acerca do aprender dar à luz, implica estar ciente, outrossim, quanto ao caminho à percorrer para alcançar, passo-a-passo, a grata alegria da realização pessoal e comunitária, sabendo-se haver possíveis intempéries no percurso. Elaborar, dialogicamente, planos com objetivos e metas sociopastorais com ênfase sociotranformadora, hoje, requer sinodalidade, coragem e criatividade, especialmente, ao acompanhar e assessorar jovens.
O contexto contemporâneo exige que Instituições, grupos organizados, comunidades eclesiais, movimentos populares e sociais articulem-se em prol das juventudes, principalmente ante as situações de vulnerabilidade, para que, como um todo, “a sociedade também seja mais maternal para que, em vez de matar, aprenda a dar à luz, para que seja promessa de vida” (ChV, n.75). É tarefa e missão da Igreja Católica, mas não sozinha, dialogar, promover ações, articular, ser propositiva à cultura do cuidado e do encontro que gera vida.
A sagrada escritura, a saber, faz memória à vocação do jovem Jeremias, chamado por Deus, ainda em seu processo gestacional: “antes de formar-te no ventre materno, eu te conheci; antes de saíres do seio de tua mãe, eu te consagrei e te fiz profeta das nações [...]. Não tenhas medo, pois, estou contigo para defender-te” (Jr 1,5-8). Descobrir-se vocacionado(a) à vida e ao bem viver corrobora expressivamente com as surpresas criativas do saber-se importante na construção de uma comunidade humana fraterna e amistosa, regada à esperança da eternidade.
A juventude, na ação evangelizadora socioeclesial, constitui-se como integrante fundamental à missão sociotransformadora do “status quo” contemporâneo que, constantemente, impossibilita o nascer para a Vida. Se nos primeiros séculos do cristianismo, à Igreja nascente, angariou-se especial atenção à juventude por sua força e vitalidade dentre a população eclesial e societária; hodiernamente, faz-se essencial à sustentabilidade da Boa Notícia, renascer tal elã, respondendo a histórica construção da práxis evangelizadora e libertadora que opta pelas juventudes e compreende-se capacitada para a renovação da comunidade humana e da sociedade. Para este peregrinar, “há uma estrada que passa por dentro de nós. Essa estrada é a esperança” (Mia Couto). Padre Leandro de Mello - @padreleojuventude. Passo Fundo, 19 07 2022.