Amigo é coisa pra se guardar do lado
esquerdo do peito (Milton Nascimento)
Dia 20 de julho é conhecido no Brasil como o dia do amigo. Em nível internacional a data é comemorada no dia 30 de julho. As comemorações teriam iniciado na Argentina a partir da iniciativa do professor de psicologia e filósofo argentino, Enrique Ernesto Febbraro. Ele teria se inspirado na chegada do homem à lua, em 20 de julho de 1969. O fato foi considerado por ele não apenas uma vitória científica, como também uma oportunidade de se fazer amigos em outra parte do universo. Da iniciativa utópica de Enrique Febbraro nasceu o dia do amigo.
Pe. Elli Benincá, de saudosa memória, nascido justamente no dia 20 de julho, escreve que a amizade pode nascer de uma simples saudação. Migra para outros estágios mediada pelo diálogo. O diálogo permite a troca de dons e também a auto entrega. Pelo diálogo recebo o outro e me dou ao outro. E isto faz bem para o ser humano. Jamais será peso, sim graça e satisfação.
A amizade exige cultivo, responsabilidade e compromisso com a pessoa, como explica o Papa Francisco: um amigo não é um conhecido, com quem se passa um bom bocado na conversa. A amizade é algo profundo. É necessária a paciência para forjar uma boa amizade entre duas pessoas. Muito tempo de conversa, de estarem juntos, de se conhecerem, e aí forja-se a amizade. Essa paciência na qual uma amizade é real, sólida.
Além desses elementos valiosos acima descritos ouso partilhar outros.
A amizade é marcada pela gratuidade que, por sua vez, nasce da empatia e da simpatia. São atitudes que se complementam e geram uma ponte sólida em direção ao outro. A gratuidade não deixa que a presença do outro seja um peso, uma dificuldade, algo difícil. É uma relação leve, porque os laços que ligam ao outro não são medidos ou pesados, são vivenciados, temperados pela gratuidade. Junto à gratuidade está a alteridade, capacidade de colocar-se no lugar do outro. Não é um exercício fácil, entretanto, é necessário. Permite que a pessoa saia do seu mundo e migre para o mundo e os sentimentos do outro. Não perderá a sua identidade, mas se compreenderá mais aberta e sensível à presença do outro. Jesus explicitou o princípio da alteridade ao dizer: façam com as pessoas o mesmo que vocês desejam que elas façam a vocês (Mt 7,12).
As relações de amizade se estruturam sobre a verdade. É a base sólida da amizade e esta desmorona na falta da verdade. Nenhuma amizade pode crescer fundamentada em mentiras. O tempo e os fatos da vida acabarão por desvelar situações de mentira e a presença do outro se tornará pesada e difícil, porque falta o sustentáculo da verdade. Ser verdadeiro e exigir a verdade por mais difícil que seja baliza uma relação de amizade emancipadora.
O caminho de amizade se ampara na responsabilidade pelo outro. Saint Exupéry descrevia o diálogo entre o pequeno príncipe e a raposa: se me cativas torna-se responsável por mim. Ser responsável pelo outro em mundo marcado por relações de irresponsabilidade e relacionamentos fluídos (Baumam) é um alento profético. E a responsabilidade compreende o cuidado do outro, o saber do outro, não como posse, mas como atenção, respeito e carinho. A responsabilidade no caso não é peso, mas uma condição que assumimos com leveza pelo valor que damos à pessoa do outro.
A amizade é compromisso. É uma aliança de palavras, afetos e carinho que não precisa ser explicitada a todo momento como se dependesse dessa visibilidade para continuar a existir. É algo precioso que não exige propaganda como se pensa hoje de forma equivocada, sobretudo pelo advento das redes sociais. O compromisso envolve partes e estas têm ciência da sua importância.
Façamos de nossas amizades algo libertador. Cuidemos de nossos amigos. E não esqueçamos de rezar pelos nossos amigos, um gesto simples, mas profundamente cristão.
Pe. Ari Antonio dos Reis