RABISCOS SEMANAIS: Rincão Sagrado!

Postado por: Leandro de Mello

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A Revolução Farroupilha registra-se à historicidade gaúcha com glórias e agruras memoradas, anualmente, através dos Festejos Farroupilhas. Paixão Cortes, Cyro Ferreira e Fernando Vieira foram os tradicionalistas que, em 1947, estando em Porto Alegre, retiraram uma centelha do fogo simbólico da pátria para acender, pela primeira vez, o candeeiro crioulo e construir, gradativamente, um processo cultural capaz de expressar a coragem, a união dos povos, revisitar a história sul brasileira e reverberar a manifestação amorosa gaúcha pelo chão rio-grandense.

            A Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, por meio da Lei 4.850 de 11 de dezembro de 1964, oficializou a Ronda Gaúcha, então, rebatizada como Semana Farroupilha e celebrada de 13 a 20 de setembro. Consequentemente, em 1996, o 20º dia de setembro torna-se o Dia do Gaúcho. Neste 2022, para as atividades culturais, escolheu-se o tema “Etnias do gaúcho: Rio Grande, terra de muitas terras”, traduzindo a diversidade presente na composição do povo gaúcho.

Fernando Espindola e Thomas Facco, integrantes do grupo musical Alma Gaudéria expressam, em canção, o tema proposto: “O gaúcho é um só povo, mas de muitas etnias [...]. Parece que todo o mundo mandou seus representantes que escolheram este chão e se tornaram imigrantes. Viva o nosso Rio Grande. Viva todas etnias. Está na diversidade a nossa grande magia. Obrigado aos que vieram nos fazer acreditar que um pouco de todo o Mundo se encontra ‘Num só lugar’”.

Perdurou-se por uma década a Guerra dos Farrapos contra o Império, desde o amanhecer de 20 de setembro de 1835 até seu desfecho em 1º de março de 1845, registrando-se como a mais longa revolta civil brasileira, mesclada de honras e injustiças ao povo, suas tradições, cultura, política, economia e fé. Ponche Verde, a saber, salvaguardou o primeiro passo para celebrar a paz frente aos conflitos, impedir que municípios como Passo Fundo e Piratini tivessem suas populações dizimadas, uma vez que serviam de corredores para as tropas e propiciar que, hoje, possa-se fazer a opção pedagógico cultural de revisitar o processo histórico presente no itinerário das diversas etnias, culturas e povos originários, sobreviventes e viventes do Rio Grande do Sul.

            À luz da caminhada cristã, inspiramo-nos recorrer à experiência das primeiras comunidades apostólicas para melhor traduzir quão significativa manifesta-se a diversidade e integração de culturas e povos que, à luz da fé, selam o compromisso de unir-se para construir uma sociedade múltipla, repleta de elementos simbólicos, cores, idiomas e rostos que se encontram e dialogam em prol do bem viver. Graças a riqueza multicultural preservada desde outrora, hodiernamente, é-nos permitido conhecer expressivas fontes e acervos rio-grandenses ao compartilhar histórias e memórias farroupilhas. 

A narrativa bíblica recorda que “ao chegar o dia de Pentecostes, estavam todos reu­nidos no mesmo lugar. De repente, veio do céu um ruído, como se soprasse um vento impetuoso, e encheu toda a casa onde estavam sentados. Apareceu-lhes então uma espécie de línguas de fogo, que se repartiram e pousaram sobre cada um deles. Ficaram todos cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem. Achavam-se então em Jerusalém judeus piedosos de todas as nações que há debaixo do céu. Ouvindo aquele ruído, reuniu-se muita gente e maravilhava-se de que cada um os ouvia falar na sua própria língua” (At 2,1-6).

Há, diga-se, teorias diversas acerca da origem do termo ‘gaúcho’, pois, a historiografia advém de regiões diferentes, como da Patagonia no sul da Argentina, da região Pampeana, ou da chamada Banda Oriental. Barbosa Lessa, na obra Rodeio dos Ventos, propõe que o primeiro registro do termo deu-se em 1787 por ocasião da demarcação de limites Brasil-Uruguai. Salutar, contudo, apresenta-se a construção cultural confeccionada processualmente nos trilhos do tempo, no cancioneiro, na arte, na dança, na poesia, na memória latente e explícita do povo sulino que “como aurora precursora do farol da divindade” festeja, consciente, a experiência comunitária de quem “conservou a fé” (2 Tm 4,7), a cintilar na chama crioula, e segue cultivando tradições e costumes neste Rincão Sagrado. 

 

Abençoado, em Paz, Dia do Gaúcho!

 

Padre Leandro de Mello – @padreleojuventude. Passo Fundo, 20 09 2022.

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