A narrativa bíblica recorda que quando os discípulos de Jesus sugerem ser mais adequado “despedir a multidão para que possa ir aos vilarejos e campos vizinhos procurar hospedagem e comida” (Lc 9,12), escutam por resposta um importante desafio: “vocês é que devem dar-lhes de comer” (Lc 9,13). Obviamente, emergem dúvidas, sejam estas financeiras, logísticas, etc. Por quê? Como? Por qual caminho?
A compreensão consciente para resolução de situações econômicas emergenciais e, por que não pensar, permanentes, requer articulação, organicidade, diálogo, diagnóstico da realidade vigente e propostas de ação eficazes no construto de um processo gestor de sustentabilidade e libertação às pessoas, comunidades, instituições e nações imbricadas no caminho a ser percorrido.
Francisco, Sumo Pontífice, em 1º de maio de 2019, assinara uma carta destinada a jovens economistas, empresários e empresárias do mundo inteiro, para lhes convidar à participar, em Assis, na Itália, do encontro “Economy of Francesco”. A inspiração proveio de São Francisco de Assis e de seu testemunho, à luz do Evangelho, de total coerência, inclusive nos planos econômico e social.
A metodologia de desenvolvimento do projeto, devido ao contexto pandêmico, precisou ser reorganizada e, neste sentido, entre 2019 e 2021, os mais de 3 mil jovens de 120 países dos cinco continentes que realizaram inscrições no desejo de viver a experiência “Economia de Francisco”, encontraram-se de forma online. Contudo, para tornar a sentir o sabor e a amora do pão partido é imprescindível encontrar-se rosto a rosto, olhar a olhar, na ciranda do compartir.
A pedagogia bíblica compartilhada por Lucas sugere que Jesus orientou os doze apóstolos para que pudessem organizar a multidão em “grupos de cinquenta” (Lc 9,14). Em seguida, “tomando os cinco pães e os dois peixes, Jesus elevou os olhos para o céu, os abençoou, partiu e entregou aos discípulos, para que servissem à multidão” (Lc 9,16). Por que, hoje, propor tal dinâmica?
Há um movimento internacional a gestar a Economia de Francisco que, no Brasil, recebera o nome de Economia de Francisco e Clara, pois, compreende ser fundamental o protagonismo feminino neste plano econômico às nações. Deseja-se refundar a economia mundial pela perspectiva da fraternidade para que seja possível superar modelos econômicos com crivo exploratório à “Mãe e Irmã Terra”, nossa Casa Comum e às pessoas.
Em Assis, portanto, mais de mil jovens, sendo cem destes brasileiros(as), provenientes dos 120 países presentes, estiveram sábado, 24 de setembro de 2022, na alteridade dialógica de olhares e sorrisos, com o Papa Francisco. A juventude brasileira expressa o “desejo de uma mudança profunda na abordagem estabelecida até agora para as relações econômicas”. Por fim, fez-se um pacto de ação mundial, assinado por Francisco e as juventudes. Para que pactuar? Pelo compromisso de colocar-se a serviço, com o vigor total da vida, de um processo capaz de transformar a economia vigente em uma “Economia do Evangelho. Uma economia que não deixa ninguém para trás, para construir uma sociedade na qual as pedras descartadas pela mentalidade dominante se tornem pedras angulares” (Vatican News), afim de que, pela partilha, todos(as) possam comer e fiquem satisfeitos (Lc 9,17).
Padre Leandro de Mello – @padreleojuventude. Passo Fundo, 27 09 2022.