RABISCOS SEMANAIS: Caminhar com os pés das juventudes!

 11/10/2022 - 14:17hrs
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Por natureza a Igreja é missionária e, por isso, compõe sua identidade o Evangelizar! Na sagrada escritura, o livro dos Atos dos Apóstolos faz recordar que, ressuscitado, Jesus, antes da ascensão aos céus, confia a comunidade dos Apóstolos um compromisso essencial: “recebereis a força do Espírito Santo, que descerá sobre vós, e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, por toda a Judeia e Samaria e até os confins do mundo” (At 1, 8).

A Igreja Católica, assim, dedica o mês de outubro às missões, pois, “não podemos nos calar sobre o que vimos e ouvimos” (At 4,20), testemunha a comunidade apostólica. Doravante, em 2022, propõe-se refletir, rezar e agir à luz do tema “sereis minhas testemunhas!” Faz-se, outrossim, memória à fundação da Congregação para a Evangelização dos Povos, há 400 anos (Propaganda Fide) e aos 200 anos da Obra de Propagação da Fé, que, abraça as Obras Pontifícias da Santa Infância e de São Pedro, por celebrar 100 anos.

A identidade missionária evangelizadora alicerça-se, pois, em três elementos fundamentais à vida socioeclesial: testemunhar, por toda terra, pela força do Espírito Santo! Quais serão, então, as implicações desta vocação ao projeto de vida das pessoas imbricadas na ação evangelizadora? No coração da práxis pastoral e missionária da comunidade de seguidores(as) do caminho reverbera a consciência de que Jesus Cristo é o primeiro chamado à missão de viver a Boa Notícia, porque é o “enviado do Pai” (Jo 20,21) e, neste sentido, sua integral “testemunha fiel” (Ap 1,5). Caminhar com Jesus requer, portanto, testemunho missionário pela participação profética, pessoal e comunitária, ao evangelizar!    

Sempre importante é recordar que “todo o batizado é chamado à missão na Igreja e por mandato da Igreja: por isso a missão realiza-se em conjunto, não individualmente: em comunhão com a comunidade eclesial e não por iniciativa própria. E ainda que alguém, numa situação muito particular, leve avante a missão evangelizadora sozinho, realiza-a e deve realizá-la sempre em comunhão com a Igreja que o enviou” (Papa Francisco). Por quê? “Evangelizar não é, para quem quer que seja, um ato individual e isolado, mas profundamente eclesial. Assim, quando o mais obscuro dos pregadores, dos catequistas ou dos pastores, no rincão mais remoto, prega o Evangelho, reúne a sua pequena comunidade ou administra um Sacramento, mesmo sozinho, ele perfaz um ato de Igreja e o seu gesto está certamente conexo, por relações institucionais, como também por vínculos invisíveis e por raízes recônditas da ordem da graça, à atividade evangelizadora de toda a Igreja” (Evangelii nuntiandi , n. 60). Recorda-nos, muito bem, à dimensão sinodal da Igreja: “comunhão, participação e missão!”

Ora, “a essência da missão é testemunhar Cristo, isto é, a sua vida, paixão, morte e ressurreição por amor do Pai e da humanidade” diz Francisco, bispo de Roma. Quem vive a missão é, por essência, testemunha martirial de Jesus Cristo, isto é, capaz de entregar tudo, mesmo a própria vida, por amor a vocação, dom de Deus, recebida pela graça do Espírito Santo; pois, aos marcados(as) com o sinal da fé cristã, “a primeira motivação para evangelizar é o amor que recebemos de Jesus, aquela experiência de sermos salvos por Ele que nos impele a amá-Lo cada vez mais” (Evangelii gaudium, n. 264). A saber, no peregrinar da práxis evangelizadora, o exemplo de vida e o anúncio do Evangelho são irmãos de caminhada, tal qual são as asas de um pássaro que alça voo.

Para caminhar aos confins da Casa Comum faz-se salutar propor-se ao primeiro passo, não é verdade? E por onde começar, então? “Levanta-te a vai!” (Lc 17,19). Basta a coragem de mirar o horizonte, erguer a cabeça, calçar-se com a realidade e, consciente, protagonizar uma “Igreja em Saída” para além do trivial, ou seja, surpreender-se à Civilização do Amor que descobre-se infindável, porque transpassa fronteiras, estruturas, instituições, porque aonde há vida existe missão e, ademais, ante a morte haverá sempre esperança à ressurreição!

Neste inspirador percurso missionário, em construção coletiva, exorta-se confiar à verdade de que “as crianças evangelizam as crianças”, as juventudes evangelizam as juventudes, adultos compartilham com adultos, anciãos com anciãos e todos(as), caminhando juntos(as), rezam, escutam e testemunham pela força do Espírito, a Palavra de Deus, porque “ninguém pode dizer: ‘Jesus é Senhor’ senão pelo Espírito Santo” (1 Cor 12, 3). “Nós, que nos deixamos conduzir pelo Espírito, é da fé que aguardamos a justificação, objeto de nossa esperança” (Gl 5,5), diz São Paulo.

No construto de alteridade pastoral, à luz do Evangelho, a práxis libertadora de assessoria juvenil missionária ensina caminhar com os pés das juventudes e, nelas, escutar a voz do transcendente! Há clareza, neste processo, de que a estrada tem poeira, barro e torna-se longa aos pés que resistem em seguir nos passos da juventude porque os olhos miram, por horizonte, o Reino de Deus. Peregrinamos, portanto, passo-a-passo, rumo à utopia concreta do bem viver que se traduz em esperança, apesar das agruras, na certeza de que, parafraseando o Sumo Pontífice, “receber a alegria do Espírito é uma graça; e é a única força que podemos ter para pregar o Evangelho, confessar a fé no Senhor,” pois, o verdadeiro protagonista da missão evangelizadora é o Espírito que age com seus dons, em cada pessoa, de forma justa, instante a instante e oportunamente à vontade do Pai.          

 

Padre Leandro de Mello – @padreleojuventude. Passo Fundo, 11/10/2022.

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