Um dos grandes desafios da humanidade
e, especialmente dos que se compreendem cristãos, é conhecer Jesus e sua
proposta. Muito se fala e escreve sobre o Filho de Deus. Ele é também o centro
muitas pregações. Entretanto, cabe uma pergunta: realmente conhecemos Jesus
Cristo? Temos consciência da gravidade e das responsabilidades de sua proposta
quando a assumimos? O batismo permite este mergulho na proposta de Jesus e o
grande desafio para os cristãos é viver a cada dia a condição de batizados.
O Papa Francisco na Exortação Evangelli Gaudium afirma que: a Alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus. Quantos se deixam salvar por Ele são libertados do pecado, da tristeza, do vazio interior, do isolamento. Com Jesus Cristo, renasce sem cessar a alegria (EG 1). Pergunta-se pela possibilidade de experimentarmos essa alegria nos tempos atuais. Ou então em darmos o passo decisivo que aqueles homens (Mc 1,16-20) e mulheres (Lc 8, 1-3) deram, ao ponto de deixarem tudo para seguir o Mestre.
Certamente os olhos brilharam, o coração bateu mais forte e encontraram ali o sentido das suas vidas porque mesmo enfrentando as diferentes agruras do seguimento, se dispuserem a pregar o Seu nome a partir de uma experiência somente viável se lida à luz da fé. Realmente o encontro com Jesus para eles teve sentido.
Tudo teve seu início a partir do momento em que Jesus se dispôs a vir ao encontro da humanidade, encarnando-se em nossa história (Jo 1,14). Na carta aos Filipenses o apóstolo Paulo faz uma leitura teológica da decisão de Jesus vir ao encontro da humanidade para salvá-la. Sim, a decisão foi dele. E ao fazer-se homem, servo, e enfrentar a cruz, o fez em nome do seu desejo de se encontrar com a humanidade em vista da salvação (cf. Fil 2,5-11). O mergulho de Jesus em nossa história teve um propósito. O encontro com Ele é uma resposta pessoal ao propósito primeiro disposto a nós pelo Filho de Deus. Ele quis encontrar-se com o ser humano. Espera o ser humano.
O Documento de Aparecida sustenta que um dos lugares de encontro com Jesus está na Sagrada Liturgia. Neste sentido, neste tempo de Graça, as celebrações do Domingo de Ramos e o Tríduo Pascal permitem um encontro fundamental com o Nazareno, penetrando nos mistérios do Reino e expressando de modo sacramental a vocação de discípulos missionários (cf. DAp n. 250).
Assim, a celebração de Ramos faz a memória da entrada de Jesus na cidade de Jerusalém montado em um jumentinho, meio de locomoção das pessoas pobres. Foi acolhido pela multidão com ramos verdes. Diziam que Ele era bendito, pois vinha em nome do Senhor. Neste dia fomos motivados a também acolher Jesus em nossas vidas. Nos encontramos com Ele e sua proposta, dispostos assumir as consequências do discipulado, ou seja, a cruz descrita na narrativa da Paixão.
Depois de alguns dias na cidade Jesus celebrou a ceia da Páscoa com o discipulado. Esta memória é celebrada na quinta-feira santa, primeiro dia do Tríduo Pascal, e revelada na Sagrada Escritura através da carta de Paulo aos Coríntios (1 Cor 11,23-26). Na mesma noite, segundo o Evangelista João, Jesus lavou os pés dos discípulos ordenando que aquela deveria ser a prática deles em relação à humanidade (Jo 13, 12-17). Jesus deixa-nos dois legados sagrados, seu corpo e sangue sacrificados pela nossa salvação; o ordenamento do serviço como prática intrínseca à missão dos seus seguidores. Costuma-se rezar a Vigília Eucarística neste dia. Todavia não deve passar da meia-noite. Acolhamos este momento litúrgico não como teatro intimista, mas sim como mistério e memória da nossa fé. A acolhida nestas condições fortalece o encontro com Jesus.
Na sexta-feira santa faz-se a memória da Paixão e Morte de Jesus. Neste dia a Igreja não celebra sacramentos e os templos são despidos de todos os ornamentos. Reza-se a Via-sacra, a reflexão e prece a partir do caminho doloroso de Jesus. Na Celebração da Paixão, conduzidos pelos textos da Sagrada Escritura, especialmente a narrativa da Paixão, os cristãos entram em diálogo com o mistério de Jesus na sua atitude extrema, dar a vida pela nossa salvação, como afirmou no texto de João: dou a minha vida pelas minhas ovelhas. É costume fazer a procissão do Senhor Morto. Tem o acento da devoção popular. É também oportunidade de ajudarmos os cristãos a viverem o encontro com Jesus diante da realidade da morte.
O sábado santo se caracteriza pelo silêncio orante. Jesus está no sepulcro. Assim como na sexta-feira santa não tem celebração dos sacramentos. Quando o sol se põe os cristãos se reúnem para a Vigília Pascal que tem início com a bênção do fogo novo, o acendimento do Círio Pascal e a proclamação solene da ressurreição do Senhor. A liturgia da Palavra motiva a comunidade celebrante a mergulhar na história da salvação desde a criação culminando com a narrativa da ressurreição do Senhor. Nesse dia faz-se a renovação das promessas do batismo, momento em que os cristãos reiteram, o ato de acreditarem no Senhor. A Vigília Pascal sustenta que a última realidade sobre Jesus não é da morte, mas da vida que ressuscita. Jesus ressuscitou. Proclamamos esta verdade naquela noite santa. Segue o Domingo da Ressurreição, a característica litúrgica marcante da fé cristã.
Lembremos dessas possibilidades valiosas de encontro com o Senhor Jesus. Participemos tendo-as como um momento de graça. Aquele que veio até nós, espera para encher-nos de alegria e sentido de viver.
Pe. Ari Antonio dos Reis