A vida real e vida virtual: um discernimento necessário

Postado por: Ari Antônio dos Reis

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Este texto está chegando até você, leitor, através de um mecanismo eletrônico, fruto da inteligência humana. As transformações na área das comunicações têm empreendido uma grande revolução nas formas de comunicação e relacionamento humano o que implica também na forma que se lê o mundo.  Por muito tempo as relações humanas se deram pela proximidade física. A comunicação se dava pela palavra proferida, também acentuada pela gestualidade, as expressões corporais. Desta interação nasceram relações de afeto, matrimônios, articulações políticas e entendimentos necessários ao ser humano e certamente ao desabrochar humano. A proximidade física permitia a comunicação e o entendimento. A distância física era algo a ser superado.  

O ser humano buscou outras formas de interação. Usou-se a comunicação escrita, considerada um meio eficaz por muito tempo. Posteriormente surgiu o telégrafo, o telefone, a radiodifusão e a comunicação passou a ser ampliada e qualificada. Nos tempos atuais e fruto do avanço tecnológico surgiram as diferentes redes sociais. Elas ampliaram as possibilidades de comunicação, permitiram que mais pessoas usufruíssem e têm ditado uma nova forma de relacionalidade entre os seres humanos, agora de forma virtual. O meio virtual permite a pessoas comunicar-se com pessoas de diferentes lugares e ao mesmo tempo superando o limite da distância.

O processo de relação com os que estão distantes quando não compreendido com maturidade pode levar a um estreitamento do olhar social, levando a perda de sensibilidade com os sujeitos que estão no cotidiano da vida. Por isso, além dos distantes, é necessário visualizar aquelas pessoas que estão ao nosso lado, carentes do diálogo, da escuta, da troca de experiências e clamando por fraternidade. O Dicastério para a Comunicação, órgão do Vaticano que reflete o tema afirma: “ser próximo nas redes sociais significa estar presente nas histórias dos outros, especialmente de quem sofre. [...] Significa defender uma visão integral da vida humana que, atualmente, abrange o mundo digital. Com efeito, as redes sociais podem ser um modo de chamar mais atenção para tais realidades e construir a solidariedade entre aqueles que estão próximos e distantes” (Rumo à presença plena: uma reflexão pastoral sobre a participação nas redes sociais” Rpp).

Certamente, o fenômeno trouxe comodidade ao ser humano e também ampliou suas possibilidades de interação em um mundo globalizado. Todavia, passou a orientar novas formas de comportamento e relações, agora marcadas pela virtualidade. Por muito tempo compreendeu-se por virtual aquilo que poderá vir a ser, algo em potencial, que ainda não é a realidade. O contato via rede de internet não é real no sentido da presença física, da proximidade corpórea.  Hoje, podemos dizer que há uma interdependência entre o real e o virtual, uma necessita da outra. A dinâmica entre elas é com um tênis de mesa, ora o real necessita do virtual, ora o virtual necessita da real. 

Moises Sbardelotto, pesquisador da área lembra que: “atualmente, fica cada vez mais claro que o digital não se opõe ao real nem é meramente “virtual”, mas vivemos uma experiência onlife” (um online interligado em nossa vida), ou seja, a vida humana está cada vez mais ligada às redes sociais, de forma direta (pelas plataformas de bate papo, aplicativos etc.) e indireta (pelas ações do nosso dia a dia que envolvem o uso de tecnologia, exemplo, o uso de um caixa eletrônico, o GPS do carro...). Entretanto, com fazer deste meio de comunicação que está enraizado na vida humana um caminho de aproximação?

Compreende-se que a proximidade acontece na sua plenitude pela aproximação física, mediada pelo uso dos sentidos. A virtualidade não permite este processo face a face, olho no olho e com isso fica impedida uma caminhada de relacionalidade e conhecimento pessoal, base de uma amizade sóbria e saudável. Pe. Elli Benincá, professor de filosofia, escreve que a amizade nasce do encontro, da proximidade física, da troca de informações fundada em uma confiança mútua que se aprofunda à medida da caminhada que se faz.

Nas redes sociais nada é fenômeno isolado, tudo tem uma estratégia. Estratégias de vinculação de informações, de formação de consciência e até de desinformação (as fakes news) que propiciam a dificuldade de relacionalidade entre os sujeitos. A culminância disso leva ao individualismo e ao “cegamento” da sociedade frente à sensibilidade com o próximo. Sente-se certa facilidade em ter “empatia” com uma catástrofe do outro lado do mundo (que também é importante), mas, dificuldade de sentir compaixão com o irmão faminto e caído na porta de casa. O compromisso é o mesmo porque ali está o Cristo sofredor (Mt 25,31). E o compromisso com a verdade está na relação “olho no olho” e também na relação mediada por uma rede social.

Por fim, as relaçãoes humanas devem ser o foco de todo processo de relacionalidade, onde seja possível criar laços de amizade e faternidade. Deste modo as redes sociais devem ser um meio de condução ao encontro físico e de sociabilidade com as pessoas. Sabe-se que, a sociedade está inserida neste novo campo de ralacionamentos, por isso, é fundamental  refletir sobre o bom uso destes e a usabilidade na prática do cotidiano, conduzindo sempre ao encontro com o próximo e a fraternidade entre os seres humanos.

Pe. Ari Antonio dos Reis

Seminarista William Viinicius Preto

 

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