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Obrigado, Papa Francisco!

Pe. Ari Antonio dos Reis

No dia 21 de abril o Papa Francisco despediu-se da vida terrena para entrar na eternidade. Pegou a todos de surpresa como era o seu jeito de ser. Sempre surpreendendo.  Depois de alguns dias de cerimônias de despedida foi sepultado neste sábado na Basílica de Santa Maria Maior como desejo expresso enquanto em vida. Não podemos deixar de fazer memória do seu legado deixado para os católicos, os cristãos e toda a humanidade. Recordo a surpresa da sua eleição.

Naquele final de tarde, quando se apresentou para a multidão, pediu a bênção ao povo presente na Praça São Pedro como se buscasse a força do alto e daquelas pessoas para iniciar a sua missão. No último Domingo de Páscoa, dia 20 de abril, mesmo fragilizado, se apresentou na mesma praça para dar a Benção Urbi et Orbi. Era como se estivesse “devolvendo” a bênção pedida no início do pontificado antes de partir para a eternidade, depois de ter cumprido uma bela e grande missão. Como se dissesse: “fiz o que foi possível fazer. Volto para o Pai”. O legado de Francisco é amplo. Lembro aqui três grandes dimensões.

Primeiramente ele se apresentou à Igreja e à humanidade como um servidor. Não se apegou ao pontificado como estatuto de poder, pompa ou prestígio, mas para servir a toda a humanidade. Fez-se um servidor. O gesto que explicita o seu compromisso de ser servidor é a atualização do rito do lava-pés, efetuado pelo Mestre de Nazaré (cf. Jo 13,4-17), todavia com um acento muito forte de compromisso com os últimos da sociedade. Jesus também pedia isso ao discipulado naquela noite da Ceia Pascal. O Papa Francisco, no seu primeiro ano de pontificado, foi a um presídio lavar os pés dos encarcerados. Estava dando a tônica do seu caminho missionário. No gesto explicitou que a Igreja que serve deve ser também misericordiosa e disposta a perdoar. Condenar o erro sem perder a pessoa que erra.  E o seu ministério foi verdadeiramente de serviço a toda a humanidade com atenção especial aos mais abandonados, proposta traduzida no nome escolhido, Francisco.

Uma segunda dimensão do ministério do Papa Francisco estava no que é compromisso intrínseco da Igreja, anunciar o Evangelho, como afirmou São Paulo VI na Exortação Evangelli Nuntiandi (1976): a Igreja existe para evangelizar (EN 14). Entretanto, o Papa Francisco faz um acento especial, a Igreja deve evangelizar com alegria. Afirma  este princípio na Exortação Evangelii Gaudium (2013). Escreve já no primeiro parágrafo: “a Alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus. Quantos se deixam salvar por Ele são libertados do pecado, da tristeza, do vazio interior, do isolamento. Com Jesus Cristo, renasce sem cessar a alegria. Quero, com esta Exortação, dirigir-me aos fiéis cristãos, a fim de os convidar para uma nova etapa evangelizadora marcada por esta alegria e indicar caminhos para o percurso da Igreja nos próximos anos” (EG 1).Compreende-se que o encontro com Jesus atrai uma alegria imensurável e, uma vez acolhida, implica em ajudar outros a viverem esta mesma alegria porque o bem tende a se comunicar (EG 9). De um jeito popular afirma que ninguém evangeliza com cara de vinagre, mas com alegria e afeto para atrair a todos.

Uma terceira dimensão do ministério de Francisco foi o diálogo com a humanidade. Este foi propositivo. Lembro três preocupações que seguidamente lembrava. Primeiramente os migrantes. A sua primeira viagem fora do Vaticano foi a Lampedusa, no sul da Itália. Ali, local onde chegavam muito imigrantes vindos da África, denunciou o fechamento da Europa e do mundo à população que migrava em busca de melhores condições de vida. Denunciou a globalização da indiferença. Reiteradas vezes se pronunciou em defesa do direito das populações migrantes. Também se colocou ao lado dos empobrecidos. Sugeriu que no calendário litúrgico se assinalasse do Dia Mundial dos Pobres e pedia que a Igreja fosse pobre e para os pobres a exemplo de Jesus que se fez pobre para enriquecer a humanidade com sua pobreza. Ele mesmo dava o exemplo vivendo uma vida sóbria e não se abstendo do contato com os pobres. No diálogo com a humanidade e o mundo o Papa foi um incansável defensor da paz. Denunciou que o mundo vive uma “terceira guerra mundial aos pedaços” e também aqueles que se beneficiavam com as guerras e mortes de inocentes. Fez reiterados esforços para a reconciliação entre povos, assumindo profundamente seu compromisso com a paz. Na Carta Encíclica Fratelli Tutti (2020), sobre a amizade social explicita a profundidade, a riqueza e o valor da verdadeira amizade social, uma possibilidade real para toda a humanidade, porque enseja um amor que supera barreiras e fronteiras.

Escrevia acima que fomos pegos de surpresa. De fato, a sensação que se tem é que Francisco partiu muito cedo. Imaginávamos que ficaria mais tempo conosco. Todavia, fez o que tinha que ser feito e no tempo de Deus, considerando o tempo humano. Combateu o bom combate e partiu para a eternidade.

Cabe a nós agradecer todo o bem que ele fez por nós. Obrigado, Papa Francisco!

Pe. Ari Antonio dos Reis

 

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