Domingo celebra-se o dia dos pais. Celebrar significa tornar célebre, solene, um acontecimento porque ele é importante. A paternidade é importante. Por ocasião do dia dos pais a Igreja no Brasil assinala o início da Semana da Família, demarcando a consideração e respeito pela vida familiar na estruturação da vida da pessoa, da vida comunitária e da sociedade. É mister que se cuide da integridade das famílias.
Deus ama tanto as famílias que escolheu uma família para se encarnar na história da humanidade, a Família de Nazaré. Por isso, todo o ano, no mês de agosto, a Igreja no Brasil dedica uma semana para a prece e reflexão em torno desta grande riqueza, a vida familiar, porque esta Igreja doméstica é um lugar valioso para seus membros amadurecem na fé e seguimento de Jesus Cristo.
Todavia, o objeto deste texto é um dos pilares da vida familiar, a vocação à paternidade. Ao refletirmos a paternidade nos inspiramos no testemunho do bom e justo José declarado, o Pai de Jesus Cristo, segundo o Papa Francisco aquele que teve a “coragem de assumir a paternidade de Jesus e deu um nome (Mt 1,21), colocando-se a serviço do plano da salvação.
A vocação à paternidade é uma forma de contribuir para a obra salvadora de Deus e São José ensina assumir este compromisso. Outra inspiração de José foi sua capacidade de ação diante das situações adversas na vida da sua esposa e do Salvador: acolheu a esposa grávida e deu a Jesus um nome e o direito a um pai segundo a normativa humana (cf. Mt 1,24-25); por ocasião do nascimento, na cidade de Belém, não havendo lugar nas hospedarias, arrumou um conforto possível na gruta, para que o filho viesse ao mundo com o mínimo de dignidade humana (cf. Lc 2,6); quando o filho estava com a vida ameaçada foi célere ao fugir para o Egito tirando da ameaça de Herodes (cf. Mt 2,14).
Ele exerceu a paternidade superando a ilusão dos gestos de heroísmos pirotécnicos, mas fazendo o possível diante da sua condição humana, com justiça e bondade, para que seu filho vivesse bem e com integridade. Nesse sentido é inspiração para o exercício da paternidade hodiernamente. Quantos “Josés” dos tempos atuais fazem de tudo para que seus filhos e esposa vivam com dignidade com o pouco que têm. A paternidade como dom assume três dimensões que se complementam.
A paternidade biológica que é dada pela própria natureza. É próprio da natureza do homem o instinto paterno. Entretanto é algo a ser cultivado com zelo, responsabilidade e carinho. É bonito quando um pai vê suas características biológicas expressas no filho ou na filha. Sente que ali estão seus traços. Estes são dados pela natureza e exprimem sua responsabilidade em relação àquelas vidas que Deus lhe deu para cuidar.
A segunda dimensão é a paternidade afetiva. Diferente da paternidade biológica, esta é um processo permanente de cultivo, que vai se fazendo pela proximidade e pelo amor entre pai e filhos. Os testes de DNA comprovam a paternidade biológica, o amor e o carinho atestam a paternidade afetiva. Estes não são dados geneticamente, mas são frutos de cultivo diário como escreve o Papa Francisco: toda a família é um pastoreio misericordioso. Cada um, cuidadosamente desenha e escreve na vida do outro (Al 322).
Sobre a presença da figura paterna na vida dos filhos afirma que nada substitui a figura do pai, mesmo que isso não transpareça: a verdade é que os filhos têm necessidade de encontrar um pai que os espera quando voltam dos seus fracassos. Farão de tudo para não admitir, para não o revelar mas precisam dele. Não é bom que as crianças fiquem sem pais e, assim, deixem de ser crianças antes do tempo (AL 177). A paternidade afetiva é um caminho que se faz a cada dia e os passos são dados a cada dia segundo a experiência de cada família.
A terceira dimensão da paternidade é a espiritual e talvez em crise devido ao assalto de um mundo marcado pelo pragmatismo e terceirizações de todos os tipos. Pragmatismo porque a premência pela sobrevivência e a busca dos bens materiais são assumidos como primeira urgência. Terceirizações porque está um curso um processo de abdicação da educação dos filhos, sobretudo a educação da fé.
Quando os avós assumem esta tarefa, e tem acontecido em muitas famílias, há alguma esperança. Mas nem sempre acontece. Em outros casos as crianças crescem em um “limbo” espiritual. A paternidade espiritual passa pela presença e pelo testemunho; e o testemunho se funda nas palavras e nos gestos que ficam gravados na mente e no coração. Jamais serão esquecidos porque vêm de alguém que é significativo, o pai.
Roguemos que os pais possam exercer estas dimensões da paternidade confiando esta grande missão ao amor e força de Deus. Seu bom exercício fortalece toda a estrutura familiar.
Que bom José, na bondade, justeza e silêncio inspire os pais a assumirem estas dimensões da paternidade.
Pe. Ari Antonio dos Reis