O mês de outubro assinalou a lembrança de uma dimensão muito cara à Igreja, a ação missionária. Neste ano foi proposto como lema: “Ide, convidai a todos para o banquete” (Mt 22,9). O banquete lembra a festa da alegria. Na Sagrada Escritura lembra o encontro pleno e definitivo de todos com o Salvador. A ação missionária é o convite permanente à peregrinação para este grande banquete com o Mestre de Nazaré.
A Igreja nasceu com o compromisso missionário, constitutivo da sua identidade, como assegura o decreto Ad Gentes, promulgado no Concílio Vaticano II (1963-1965). Segundo o decreto: a Igreja peregrina é, por sua natureza, missionária, visto que tem a sua origem, segundo o desígnio de Deus Pai, na missão do Filho e do Espírito Santo (AG 2).
Segundo o evangelista Mateus, depois de ter enfrentado a cruz e ressuscitado, Jesus encontrou-se com os discípulos na Galileia, onde havia começado a sua atividade evangelizadora. Mesmo diante das dúvidas de alguns (Mt 28,17) os enviou em missão para fazer todas as nações discípulas batizando e ensinando, dando-lhes certeza da sua presença até o final dos tempos (cf. Mt 28, 18-20). Marcos (Mc 16,15), Lucas (24,47-48) e João (20,21), também apresentam o envio missionário dos discípulos em vista do anúncio do nome e da proposta de Jesus.
Esta atividade fez-se compromisso primeiro e irrevogável da Igreja. De parte dos discípulos a exigência maior era o testemunho fiel e convicto. Depois de terem sido presos, sofrido açoites e diferentes ameaças, os apóstolos Pedro e João afirmaram: “não podemos deixar de testemunhar o que vimos e ouvimos (At 4,20). Tal convicção expressa pelos apóstolos, exemplificada acima, é um critério para a ação de todos os cristãos missionários. A ação missionária exige convicção. Isto porque a missão é sempre uma urgência pela sua grandeza e necessidade. Sendo urgência compreende o testemunho convicto da pessoa. Todavia na ação do missionário e da missionária, compromisso pessoal, é toda a Igreja que está presente, segundo a dimensão comunitária da fé cristã.
Ela envolve alguns compromissos perenes e inadiáveis que se constituem um processo.
O primeiro deles é o encontro com Jesus. É uma experiência pessoal, única e intransferível para outrem. Somente o encontro com Jesus, um encontro verdadeiramente transformador na vida da pessoa, assim como os discípulos viveram, permitirá isso. São João relata este passo (Jo 1,35-42). João e André foram apresentados a Jesus por João Batista. Eles foram e ficaram com o Mestre, ou seja, fizeram a experiência de estar com Ele; conheceram Jesus. E a experiência foi tão significativa e intensa ao ponto de saírem dali dizendo: encontramos o Messias (Jo 1,41). A convicção de fé, de anunciadores de Jesus, missionários de Jesus, só nasce da experiência de o conhecermos, de estarmos com Ele, através da sua Palavra.
O segundo passo é o conhecimento de Jesus. A missão compreende antes de tudo conhecer Jesus. Hoje conhecemos Jesus através dos Evangelhos, segundo uma sóbria exegese e hermenêutica sobre Ele. Tomemos cuidado com as informações equivocadas sobre Jesus que desconhecem um sóbrio fundamento evangélico. É necessário falar sobre Jesus a partir de um verossímil conhecimento dele. É honestidade teológica e missionária. Vale aqui o alerta do próprio Mestre: pode um cego guiar outro cego? Não cairão os dois no mesmo buraco (Lc 6,39). Sejamos fiéis a Jesus e honestos com nossos interlocutores, aos quais nos dirigimos para falar de Jesus Cristo. A convicção do testemunho vem de uma experiência fundante e única.
O terceiro passo é amar Jesus. O missionário é uma pessoa que ama. Ama Jesus e ama os interlocutores da missão. O amor sem limites perpassa a obra missionária. À medida que conhecemos Jesus vamos amando o Filho de Deus e este amor nos leva a apresentá-lo a outras pessoas para que experimentem a alegria que o missionário experimentou ao conhecê-lo, como descreve o Papa Francisco: “a Alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus. Quantos se deixam salvar por Ele são libertados do pecado, da tristeza, do vazio interior, do isolamento. Com Jesus Cristo, renasce sem cessar a alegria” (EG 1).
Os passos anteriores levam decisão valiosa de anunciar Jesus para quem ainda não o conhece. O anúncio de Jesus é constitutivo da identidade cristã. É como dizia o Apóstolo Paulo: ai de mim seu eu não anunciar o Evangelho (1Cor 9,16). É um compromisso que nasce na pia batismal e confirmado pelo Sacramento da maturidade, “porque o bem tende a se comunicar e toda a experiência autêntica de verdade e de beleza procura por si mesma, a sua expansão”(cf. EG 9).
É a oportunidade de participar do banquete no qual Jesus quer que todos tomem parte.
Pe. Ari Antonio dos Reis