A jornada de trabalho 6×1 – em que o trabalhador atua seis dias por semana e descansa apenas um – é o modelo mais comum no Brasil para algumas categorias, especialmente em setores como comércio e serviços. Entretanto, a discussão sobre se esse formato ainda é o mais adequado ganhou força nos últimos tempos. Um novo movimento, impulsionado por experiências como o projeto da semana de quatro dias, questiona o impacto da jornada de 6×1 na saúde, na produtividade e no equilíbrio entre vida pessoal e trabalho.
Recentemente, um estudo conduzido pela organização “4 Day Week Brazil”, com o apoio da Fundação Getúlio Vargas, testou a redução da jornada para quatro dias em 21 empresas brasileiras. Os resultados chamaram a atenção: 61,5% das companhias observaram melhor execução de projetos, e 58% dos funcionários relataram maior facilidade para equilibrar a vida profissional e pessoal. Outros dados mostram que 82,4% dos trabalhadores sentiram mais energia, enquanto 62,7% tiveram redução no estresse, e 85,4% das empresas notaram maior colaboração entre colegas. Além disso, 72% das companhias registraram aumento na receita durante o período de teste.
Esses resultados desafiam o modelo atual de 6×1, mas não encerram a discussão. Há prós e contras tanto para empregadores quanto para trabalhadores, que precisam ser considerados para que uma mudança seja viável.
Benefícios e Desafios para o Empregador
Para as empresas, reduzir a carga horária para quatro dias pode parecer, à primeira vista, uma desvantagem em termos de produção e custos. Mas o estudo sugere o contrário: os colaboradores, ao trabalharem menos dias, mostraram-se mais engajados, criativos e produtivos, fatores que impactam positivamente no rendimento geral. Além disso, um ambiente com menos estresse e mais apoio ao bem-estar tende a diminuir a rotatividade, o que representa economia em processos de recrutamento e treinamento.
No entanto, alguns empregadores apontam desafios operacionais. No setor de comércio e serviços, a presença diária de funcionários é essencial para manter as atividades em andamento, e a mudança de modelo demandaria reestruturações logísticas e de escala, o que pode implicar novos custos. Em empresas menores, onde as margens de lucro são mais apertadas, o receio é que a adoção de uma semana mais curta acabe por prejudicar o faturamento.
O Lado do Trabalhador
Para os trabalhadores, a redução para uma semana de quatro dias representaria uma mudança que muitos consideram positiva. No modelo de 6×1, o cansaço acumulado após seis dias seguidos de trabalho pode levar ao esgotamento físico e mental, dificultando a manutenção de um equilíbrio saudável entre o trabalho e a vida pessoal. A experiência da 4 Day Week mostrou que colaboradores em uma jornada mais curta se sentiram mais motivados, menos estressados e tiveram mais tempo para cuidar da saúde, da família e dos hobbies, o que contribui diretamente para a qualidade de vida.
Ainda assim, nem todos os trabalhadores consideram a mudança ideal. Há quem prefira um formato com dias de trabalho fixos e um único dia de folga regular, por já estar habituado a essa estrutura e a uma rotina de seis dias por semana. Além disso, em alguns setores, como o de turnos contínuos, a adaptação para uma semana de quatro dias pode ser complexa, uma vez que as demandas precisam ser atendidas diariamente.
Reflexões sobre o Futuro do Trabalho
A discussão sobre a jornada de trabalho toca em questões amplas e relevantes: produtividade, saúde mental, direitos trabalhistas e competitividade econômica. A experiência da semana de quatro dias revela que há um potencial significativo de benefícios, mas para que a mudança seja efetiva, é fundamental que seja bem planejada, levando em conta o contexto e as necessidades de cada empresa.
Para alguns especialistas, é hora de avançar em propostas mais flexíveis, onde empregadores e empregados possam negociar e adaptar a jornada conforme a realidade e o setor de atuação. Para outros, a questão é mais complexa e requer cuidado, especialmente para evitar que mudanças na jornada possam impactar negativamente os setores mais vulneráveis da economia.
O modelo de trabalho, afinal, não é algo que precisa ser estático, e a jornada 6×1 pode não ser a única solução. A jornada de quatro dias sugere que novos arranjos são possíveis – e que repensar o formato de trabalho no Brasil pode beneficiar tanto trabalhadores quanto empresas.