Com o primeiro domingo do Advento iniciamos um novo Ano Litúrgico, o tempo propício de preparação para o Natal. O Concílio Vaticano II, na Constituição Sacrosanctum Concilium, afirma que a Igreja “no decorrer do ano, expõe todo mistério de Cristo, desde a Encarnação e a Natividade até a Ascenção, o dia de Pentecostes e a expectativa da feliz esperança da sua volta gloriosa” (102). O Concílio insiste afirmando que Cristo é o centro da liturgia, como sol ao redor do qual giram, a bem-aventura Virgem Maria, os mártires, todos os santos que “no céu cantam a Deus o perfeito louvor e intercedem por nós” (104).
No início do Ano Litúrgico a liturgia convida a Igreja a renovar o anúncio a todos os povos com as palavras: Deus vem! Quando falamos da presença de Deus não se usa o passado Deus veio nem o futuro Deus virá, mas sim o presente: Deus vem. Trata-se de anunciar a presença contínua de Deus. Uma ação que aconteceu, que acontece e que acontecerá pois esta é a característica essencial de Deus.
O prefácio do Advento reza: “Revestido da nossa fragilidade, ele veio a primeira vez para realizar seu eterno plano de amor e abrir-nos o caminho da salvação. Revestido de sua glória, ele virá uma segunda vez, para conceder-nos em plenitude os dons prometidos que hoje vigilantes esperamos”. Entre a primeira vinda e a segunda está o tempo presente, o nosso tempo a ser vivido de forma vigilante como exortam os textos bíblicos da liturgia dominical. “Ficai atentos e orai a todo momento”. (Jeremias 33,14-16, Salmo 24, I Tessalonicenses 3,12.4-2 e Lucas 21,25-28.34-36). A liturgia do Advento nos primeiros dias acentua a última vinda de Cristo e nos dias mais próximos do Natal recorda o acontecimento de Belém, convidando a viver o presente.
Junto com as orações das celebrações litúrgicas a Igreja convida a humanidade ir ao encontro do “Deus que vem” com as boas obras. Elas são essenciais e inseparáveis da oração. Recorda a oração da coleta do 1º domingo do Advento: “concedei aos vossos fiéis o ardente desejo de acorrer com as boas obras ao encontro do vosso Cristo que vem, para que, colocados à sua direita, mereçam possuir o reino celeste”. O Advento é um tempo adequado a ser vivido em comunhão com todas os que esperam um mundo mais justo e mais fraterno. O nome do Messias, segundo a profecia de Jeremias, é: “O Senhor é a nossa justiça”. Nesta busca encontram-se homens de todas as nacionalidades e culturas, cristãos e não cristãos, crentes e não-crentes. Todos tendo em vista o bem comum, embora com diferentes motivações, desejam um futuro de justiça e paz.
O caminho do Advento fala de esperança fundamentada em Jesus Cristo. Na história da humanidade tantos projetos que se apresentaram como solução definitiva dos problemas humanos desmoronaram. Por isso, olha-se o futuro com desconfiança, com medo e, por vezes, com pessimismo. Precisamos de uma esperança confiável, que só se pode encontrar em Jesus Cristo. A carta aos Hebreus afirma que ele “é o mesmo ontem, hoje e sempre”. Ele abraça todas as dimensões do tempo, porque morreu e ressuscitou, enquanto partilha a nossa precariedade humana. Jesus Cristo não diz respeito somente aos cristãos, mas a todos os homens, porque ele é o centro da fé e o fundamento da esperança.
Somos convidados a viver intensamente o tempo presente, não somente como tempo marcado pelas horas, dias e anos, mas como uma ocasião favorável da nossa salvação, dando um sentido que preenche os vazios. Advento é tempo de espera e de esperança eterna. É tempo de alegria, de um júbilo interior. O que alegra é o Deus que vem, aquele que se fez Menino.
Dom Rodolfo Luís Weber – Arcebispo de Passo Fundo