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Brasil vai às ruas: protestos mobilizam população em todos os cantos

‘O Congresso é nosso’
Mais de cinco mil pessoas participaram do ato que, ao menos simbolicamente, representou o maior “feito” dos manifestantes em todo o Brasil. Após marchar pela Esplanada dos Ministérios e cercar o Congresso Nacional, em Brasília, a multidão conseguiu furar o bloqueio e subiu no prédio do parlamento, pela lateral do edifício. A PM respondeu com bombas, mas os manifestantes retornaram em maior número e ocuparam o local onde ficam as abóbadas invertidas. Eles gritavam frases como “aha-uhu, o Congresso é nosso”. Do lado de baixo, no gramado, manifestantes cantavam o Hino Nacional, segurando os celulares acesos.
Os senadores Inácio Arruda (PCdoB-CE), Rodrigo Rollemberg (PSB-DF), Paulo Paim (PT-RS) e Eduardo Suplicy (PT-SP) e o presidente em exercício da Câmara, André Vargas (PT-PR), tentaram negociar a saída dos manifestantes, mas a falta de uma liderança do movimento dificultou o diálogo. Houve princípio de tumulto mais cedo, quando o grupo invadiu o espalho d’água em frente ao Congresso.

Cerco à Assembleia do RJ
Depois de um começo de manifestação pacífico, a polícia e uma pequena parte dos mais de 50 mil manifestantes entraram em confronto na noite desta segunda-feira durante os protestos contra o aumento da passagem no Rio de Janeiro. O enfrentamento aconteceu em frente à Assembleia do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), que recebeu forte policiamento para evitar pichações. Os manifestantes fizeram fogueiras nas imediações do prédio e atearam fogo em dois carros, um no estacionamento funcional da Assembleia Legislativa e outro atrás da Alerj. Pelo menos 15 focos de incêndio foram contados pela reportagem do Terra. No fim da noite, um grupo de manifestantes conseguiu invadir o prédio da Alerj, quebrou janelas, ateou fogo na porta e tirou cadeiras de dentro do edifício.

Manifestantes atacam Assembleia Legislativa no Rio

Dezenas de PMs e funcionários ficaram presos dentro da Alerj, cercada por manifestantes. Eles negociaram com os que protestavam para sair com os policiais que ficaram feridos durante a invasão. Oficialmente, cinco estão machucados, mas havia informações de que até 20 PMs estariam feridos. Por volta das 23h15, a Tropa de Choque chegou ao local e usou bombas de gás lacrimogênio. Às 23h45, os policiais conseguiram deixar a Alerj.

Funcionários dizem que havia mais de 100 pessoas dentro do prédio. “Ficamos numa sala no segundo andar, presos. Eles jogavam muitas pedras do lado de fora. Está tudo arrebentado, janelas, portas. Algumas pessoas entraram em pânico. Tinham três PMs feridos com a gente. Nunca imaginei que pudesse acontecer isso. Eles quebraram tudo, é uma pena”, disse o supervisor dos ascensoristas, Robert Rodrigues.

Os manifestantes começaram a chegar ao local por volta das 19h50. A polícia montou dois cordões de isolamento com a ajuda de grades para impedir que os ativistas tivessem acesso à escadaria do prédio. O objetivo era evitar que as pichações ao prédio registradas nos protestos de quinta-feira se repetissem. Segundo a Polícia Militar, a tropa de choque foi chamada após uma tentativa de arrombamento. A polícia tentou impedir a entrada dos manifestantes com balas de borracha, e muitas pessoas tentam fugir do local.

Do lado de fora, o cenário era de caos, com carros e orelhões destruídos e incendiados. Várias agencias bancárias foram depredadas. Na rua da Assembleia, o cenário era de destruição. Além dos vidros quebrados, as agências foram pichadas pelos manifestantes. Algumas lojas do centro começaram a ser saqueadas. Enquanto registrava a ação de quatro pessoas que quebravam uma agência bancária nas proximidades da Alerj, o repórter do Terra André Naddeo foi agredido e assaltado. “Eles estavam destruindo uma agência do Itaú e eu estava fazendo foto com celular”, disse. Ele foi cercado e questionado se estava filmando a ação. “Quando fui tentar argumentar, ele me deu um soco na barriga, o celular caiu no chão e eles saíram correndo com o aparelho”, disse.

Vandalismo de minoria em Porto Alegre
Em meio à manifestação pacífica de cerca de 5 mil pessoas, a ação de um grupo reduzido causou destruição e transtornos na região central de Porto Alegre (RS). Após manifestantes quebrarem os vidros de uma revenda de automóveis da Honda, a Polícia Militar usou bombas de gás lacrimogênio e balas de borracha. O Batalhão de Operações Especiais (BOE) esperava a passeata em frente ao prédio do jornal Zero Hora, da RBS (afiliada da Globo). Segundo o BOE, nove pessoas foram detidas. A maior parte dos ativistas gritava “sem vandalismo, sem violência”.

A polícia forçou o trajeto dos manifestantes até a avenida João Pessoa e, na avenida Azenha, a manifestação foi dispersada. Um grupo que se manteve no local ateou fogo a objetos, como um contêiner de construção, outro de lixo, um telefone público e uma caixa de correio. Um ônibus também foi incendiado. “Eles não fizeram nada conosco, apenas exigiram que a gente saísse. Eu abri as portas e deixei todos os passageiros saírem”, diz José Gusmão, motorista do veículo. O condutor diz também que o coletivo não estava lotado, mas tinha um bom número de pessoas.

O grupo quebrou os vidros e depois tentou virar e queimar outro ônibus na Azenha, que estava vazio. A polícia usou bombas de gás e os manifestantes correram. Os bombeiros chegaram para apagar os focos de incêndio.

Os manifestantes se dispersaram após o primeiro confronto, mas a violência continuou. Ocorreu um reagrupamento no bairro da Cidade Baixa, onde queimaram diversas lixeiras e quebraram vitrines de banco. Conforme avançava, o grupo realizava novas depredações de lojas e bancos. Nos arredores do Palácio Piratini, sede do governo gaúcho, os manifestantes entraram em confronto novamente com a polícia, que reagiu com mais bombas de efeito moral e gás.

Porto Alegre foi uma das primeiras cidades brasileiras onde o aumento anunciado no preço da passagem gerou uma onda de protestos. Após uma série de manifestações, uma decisão judicial suspendeu o reajuste.

Dilma defende legitimidade de manifestações
Pressionada pelos protestos que se alastram pelo País, a presidente Dilma Rousseff não apareceu em público nesta segunda-feira. Por meio de mensagem transmitida a jornalistas da ministra da Comunicação Social, Helena Chagas, a presidente declarou que “as manifestações pacíficas são legítimas e próprias da democracia”. “É próprio dos jovens se manifestarem”, afirmou a presidente no pronunciamento.

À tarde, Dilma recebeu o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, em reunião que não constava em sua agenda oficial. O ministro fez um relato sobre os protestos pelo Brasil. “Ela está encarando isso como uma questão normal da democracia”, afirmou a ministra. Helena Chagas não relatou impressões de Dilma sobre as vaias sofridas durante a abertura da Copa das Confederações no último sábado. “Isso não tem relevância”, limitou-se a dizer a ministra.

Outras cidades
Organizações como o Movimento Passe Livre estimam a ocorrência de protestos em cerca de 200 municípios brasileiros nesta segunda-feira. Houve registro de confrontos em Curitiba (PR) e Belo Horizonte (MG). Em Maceió (AL), um estudante foi baleado durante a manifestação. Segundo a Polícia Militar, o homem tentou furar o bloqueio feito pelos ativistas em uma rua, quando os manifestantes começaram a bater e empurrar o veículo. O motorista teria então disparado contra o jovem.

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