O Plano Real completa 20 anos nesse início de julho. Foi a maior engenharia econômica realizada para debelar a inflação. Particularmente, era repositor de supermercado na década de 1980, no auge da inflação descontrolada. Chegávamos a aumentar preços duas vezes por dia. Aquela prática estava tão antipática perante o consumidor que foi decidido que as trocas de preços teriam que ser feitas no depósito. Um furo a mais, um furo a menos na gôndola do supermercado já não era novidade. Havia diversos “furos” nas prateleiras devido a falta de produtos. Faltava produtos por causa dos choques inflacionários. Assim: os governos lançavam diversos planos econômicos a base de congelamento de preços para tentar acabar com a inflação. Como os reajustes ocorriam todo o dia, ou toda a semana, quando se decretava um congelamento, o comerciante não podia mais aumentar o preço de seu produto, mas a indústria já estava praticando um preço mais alto. Certo que o comerciante não iria comprar da indústria por um preço mais alto de que aquele que ele poderia repassar ao consumidor. Com isso, a indústria quebrava e falta mercadoria no mercado.
O Plano Real abriu mão desse expediente de choque inflacionário e lançou uma moeda paralela, chamada de URV, Unidade de Referência de Valor. Havia uma tabela com o valor diário da URV. Essa tabela era usada por todos os operadores(as) de caixa. A moeda era convertida na URV do dia para fazer pagamentos. O valor diário da URV significava que os preços não estavam congelados. Era uma flexibilização controlada de preços. Em síntese, a possibilidade de reajuste de preços durante os 120 dias( 1º de março a 1º de julho de 1994) de vigência dessa moeda transitória. Nesse período, indústria e comércio se acomodaram com seus respectivos custos de produção, encontraram seus preços de equilíbrio e espantaram o fantasma da inflação.
Houve discussão no Banco Central sobre o nome da nova moeda. Chegou-se a cogitar o nome de LARIDA, para homenagear os economistas da Unicamp, Pérsio Arida e André Lara Resende, os mentores intelectuais dessa nobre engenharia econômica. No final, optou-se por Plano Real mesmo, modelo que tirou o país da hiperinflação e nessas duas décadas lhe deu muita credibilidade. O país perdera a credibilidade monetária porque a inflação significa o desgaste da moeda. Uma moeda tem funções básicas. Duas fundamentais são, servir de instrumento de troca e de referência e valor. Quando a inflação desgasta o valor do dinheiro, ele perde essas funções, porque o mercado fica sem a noção de quanto precisa para comprar determinado produto, ou seja, perde sua referência. E também deixa de ser um instrumento de troca, pois é melhor praticar a velha economia de escambo, trocar um boi por 20 sacas de feijão, se já não adianta pegar dinheiro que a cada dia vale menos.