Casos de violência sexual são atendidos por profissionais de saúde do Hospital São Vicente de Paulo (HSVP) de Passo Fundo. Segundo a enfermeira Claudia Deon, do Núcleo de Vigilância Epidemiológica (NVE) da instituição, de janeiro a julho deste ano foram atendidos 24 casos de vítimas suspeitas de violência sexual, sendo 15 casos de crianças e adolescentes. Em 2014, o NVE notificou e investigou 32 casos, sendo 24 crianças e adolescentes. O atendimento à criança com suspeita de abuso e violência sexual é complexo e envolve diversos especialistas. Pensando em esclarecer dúvidas, nesta quarta-feira, 12 de agosto, profissionais do HSVP participaram da palestra Um olhar especial sobre a violência sexual, ministrada pela psicóloga Karine Bona, que atua no CEPIA (Centro de Estudos de Proteção à Infância e Adolescência).
Inicialmente, a coordenadora da SAMI (Sociedade de Auxílio à Maternidade e à Infância) e CEPIA, Laura Bordignon relatou o trabalho realizado pelas entidades, destacando a importância de falar sobre a difícil realidade da violência sexual, abuso e maus tratos contra crianças e adolescentes, para profissionais de saúde que atendem estas vítimas no hospital. Somente neste ano, Laura informou que o CEPIA atendeu 200 casos de crianças e adolescentes de Passo Fundo e região, com suspeita de abuso. “Percebemos que neste ano está diminuindo a faixa etária das crianças atendidas. E como sabemos que apenas 1 em cada 10 crianças contam o problema, precisamos falar sobre o assunto, para que os profissionais tenham condições de trabalhar melhor esta questão”.
A psicóloga Karine apresentou o conceito preconizado pela OPA-OMS, o qual diz que o abuso ou maltrato abarca toda forma de maus tratos físicos e ou emocionais, abuso sexual, abandono ou negligências, exploração comercial ou de outro tipo, que resulte em dano real ou potencial para saúde, sobrevivência, desenvolvimento ou dignidade da criança no contexto de uma relação de responsabilidade, confiança ou poder.
O objetivo da palestra, segundo Karine, é trabalhar a identificação da ofensa ou violência sexual. Ela explica que o termo ofensa não é tão pesado e não rotula tanto a vítima, por isso está sendo adotado por juristas. “Nosso propósito é sanar as dúvidas das pessoas que atendem esse público no hospital. Nós precisamos ter um parecer mais coeso sobre os casos de ofensa sexual para que estes não reincidam. Sabemos que 20% dos casos apresentam marca física do abuso, então significa que a maioria das vítimas vem para o atendimento médico por outros motivos, como queda, mal-estar, enjoos, por isso precisamos trabalhar forte para que os profissionais saibam identificar o abuso sexual”, enfatiza a psicóloga, ao reiterar que a identificação do problema é mais importante que o próprio atendimento, visto que muitas crianças vítimas de abuso passam pela unidade de saúde e ninguém fica sabendo.
Quanto a fatores que possam contribuir para identificação da ofensa sexual, Karine alerta para que os profissionais prestem atenção no relato das mães. “Temos que prestar atenção para saber o que elas querem que a gente escute. A criança não irá falar abertamente para o profissional, por isso temos que treinar para tentar identificar o problema. Quando formos falar com a criança, precisamos entrar na sala para escutar o que a criança tem a dizer. Temos que parar e escutar, sem tentar fazer análises e sem nos envolvermos”.
A psicóloga ressalta que é importante saber que o abuso sexual tem um contexto extra e intra familiar e que, geralmente, o que mais acontece é o intra familiar. “O abuso se estabelece com um familiar muito próximo da criança. Ela não se aproxima de ‘bicho-papão’, a criança tem proximidade com o pai, o irmão”, pontua Karine. Ela cita alguns fatores desencadeadores de violência, como conflitos do casal, características da própria criança ou adolescente, histórico de vida dos pais, dificuldade de impor limites aos filhos, falta ou excesso de trabalho, comportamento rebelde ou distúrbios comportamentais da criança e a necessidade de educá-la.
Informações sobre o trabalho do CEPIA podem ser obtidas pelo fone (54) 3314 8994.