No centro da maior operação já deflagrada contra o crime organizado no Brasil está o nome de Roberto Augusto Leme da Silva, mais conhecido como Beto Louco ou simplesmente Betinho. Apontado como o principal operador de um esquema bilionário de fraudes no setor de combustíveis, ele é suspeito de integrar diretamente o Primeiro Comando da Capital (PCC), atuando como elo entre o crime organizado e o mercado formal.
Beto Louco é descrito pelas autoridades como um estrategista com conhecimento profundo sobre legislação tributária, estrutura societária e movimentações financeiras. Segundo os investigadores, ele usou essa expertise para montar um esquema sofisticado de sonegação e lavagem de dinheiro que operava por meio de empresas de fachada, distribuidoras fantasmas e postagens simuladas de combustíveis, especialmente etanol e gasolina.
O modelo de atuação envolvia a criação de grupos empresariais com sócios laranjas, a abertura e fechamento rápido de empresas para burlar o fisco e o uso de fundos de investimento, fintechs e negócios no agronegócio para lavar os lucros obtidos com as fraudes. Parte do combustível era adulterado com produtos como metanol e repassado a milhares de postos pelo país, prejudicando consumidores e o meio ambiente.
A atuação de Beto Louco não se limitava ao comando operacional. Ele era o articulador central de alianças com outros empresários do setor, conectando grupos econômicos legalmente estabelecidos a uma teia criminosa. Entre os seus aliados estariam nomes com histórico de envolvimento em práticas ilícitas no mercado de combustíveis.
Estima-se que o grupo sob sua liderança tenha movimentado mais de R$ 52 bilhões entre 2020 e 2024, causando um rombo superior a R$ 7,6 bilhões em tributos federais e estaduais. A estrutura contava com logística própria, incluindo frotas de caminhões, usinas e imóveis, além de operar com apoio de operadores financeiros e consultores.
Na operação que desmantelou o esquema, foram cumpridos mandados em dezenas de cidades e apreendidos bens de alto valor, como carros de luxo, imóveis, aviões e fazendas, além de documentos que comprovam a atuação de Beto Louco como líder do núcleo empresarial da facção.
Segundo fontes da investigação, Beto Louco já havia sido citado em outras apurações por ligações com o PCC, mas desta vez sua participação ficou evidente como um dos cérebros da estrutura econômica da organização. Sua prisão e os desdobramentos da operação colocam sob nova perspectiva a capacidade do crime organizado de infiltrar setores estratégicos da economia formal.
Agora, o desafio das autoridades é impedir que o vácuo deixado por essa rede criminosa seja rapidamente ocupado por novos grupos e garantir que os bens apreendidos sejam revertidos em benefício da sociedade. O caso expõe de forma clara como o narcotráfico vem diversificando suas fontes de receita e penetrando setores legalizados com grande poder de movimentação financeira.
Créditos: G1