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Analfabetismo funcional no brasil continua a afetar quase um terço da população Estagnação nos índices preocupa especialistas e mostra que o país ainda enfrenta grandes desafios na qualidade da educação

Foto: Pinterest

O analfabetismo funcional segue sendo um dos principais entraves sociais e educacionais do Brasil. Dados recentes do Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf) mostram que, em 2024, cerca de 29% da população entre 15 e 64 anos se enquadra nessa condição. Isso significa que quase três em cada dez brasileiros, mesmo sabendo ler e escrever palavras simples, não conseguem compreender textos mais longos, interpretar informações básicas do dia a dia ou realizar cálculos elementares. A situação é praticamente a mesma registrada em 2018, revelando uma estagnação preocupante e um retrocesso em alguns grupos específicos.

A definição de analfabetismo funcional vai além da incapacidade absoluta de ler ou escrever. Ela descreve pessoas que frequentaram a escola, muitas vezes por vários anos, mas não desenvolveram habilidades suficientes para aplicar a leitura, a escrita e a matemática em situações concretas do cotidiano. Em termos práticos, são cidadãos que enfrentam dificuldades para interpretar uma bula de remédio, compreender instruções de trabalho, analisar uma fatura de energia ou tomar decisões financeiras de forma segura. Essa limitação compromete não apenas a vida individual, mas também o desenvolvimento social e econômico do país.

O levantamento do Inaf mostra que, entre os analfabetos funcionais, 7% são considerados analfabetos absolutos, incapazes de ler palavras ou frases simples. Outros 22% estão no nível chamado rudimentar, onde conseguem localizar informações muito básicas, mas sem conseguir realizar interpretações ou operações mais complexas. Além disso, 36% dos brasileiros estão classificados no nível elementar, com apenas alguma autonomia em tarefas simples, enquanto apenas 10% atingem o nível considerado proficiente. Em outras palavras, apenas um em cada dez brasileiros consegue usar plenamente a leitura e a escrita em diferentes contextos.

O impacto da pandemia de covid-19 agravou a situação em determinadas faixas etárias. Entre os jovens de 15 a 29 anos, por exemplo, a taxa de analfabetismo funcional aumentou de 14% em 2018 para 16% em 2024. As dificuldades de acesso ao ensino remoto, a falta de equipamentos adequados e a interrupção prolongada das aulas presenciais ajudaram a ampliar as desigualdades educacionais, principalmente nas famílias de baixa renda.

O perfil sociodemográfico dos analfabetos funcionais revela ainda desigualdades profundas. Segundo os dados, 65% deles estão na faixa etária entre 40 e 64 anos, mas o problema também atinge de maneira significativa adultos mais jovens. A escolaridade é outro fator determinante: 38% dos analfabetos funcionais estudaram apenas até os primeiros anos do ensino fundamental, enquanto 27% chegaram a concluir essa etapa. Ainda mais preocupante é o dado de que 25% concluíram o ensino médio e mesmo assim não alcançaram um nível adequado de compreensão. Há também 9% com diploma de ensino superior, o que mostra falhas graves na qualidade da formação.

As desigualdades raciais também estão presentes. Pretos e pardos representam 58% dos analfabetos funcionais, enquanto brancos correspondem a 39%. A renda familiar aparece como outro fator determinante: 76% dos analfabetos funcionais vivem em famílias que recebem até dois salários mínimos. Em termos regionais, o Nordeste concentra o maior percentual, com 42% de sua população nessa condição, enquanto as regiões Sul e Sudeste apresentam índices menores, mas ainda expressivos.

No campo digital, mesmo com a expansão do acesso à internet, as limitações permanecem evidentes. O Inaf mostra que 73% dos analfabetos funcionais acessaram a internet nos últimos três meses, mas 60% deles não conseguiram realizar tarefas digitais mais complexas, como interpretar informações bancárias ou utilizar ferramentas de trabalho remoto.

Esses números revelam não apenas uma questão educacional, mas também social e econômica. Pessoas que não conseguem compreender plenamente a leitura e a escrita enfrentam dificuldades para conseguir empregos mais qualificados, têm limitações no acesso a serviços de saúde e informação e estão mais vulneráveis a fraudes e à desinformação. Em nível macroeconômico, o analfabetismo funcional impacta diretamente a produtividade e a competitividade do Brasil no cenário global.

Nos últimos anos, políticas públicas têm buscado enfrentar o problema, mas os resultados ainda são insuficientes. Programas de Educação de Jovens e Adultos (EJA) seguem ativos, assim como iniciativas como o Programa Brasil Alfabetizado. Entretanto, especialistas apontam a necessidade de maior investimento na formação de professores, criação de estratégias mais atrativas para jovens e adultos que abandonaram a escola, além de políticas integradas que unam educação, assistência social e renda. Para eles, o desafio exige continuidade, metas claras e um compromisso de longo prazo, algo que historicamente tem sido prejudicado pela descontinuidade de projetos em diferentes governos.

O Brasil avançou na redução do analfabetismo absoluto, que em 2024 chegou ao menor nível histórico, com 5,3% da população de 15 anos ou mais incapaz de ler ou escrever sequer palavras simples. Mesmo assim, são 9,1 milhões de pessoas nessa situação. Quando somado ao universo dos analfabetos funcionais, o cenário demonstra que o país ainda convive com enormes barreiras para garantir a todos os cidadãos o pleno acesso ao conhecimento.

Superar o analfabetismo funcional é mais do que uma meta educacional. É condição fundamental para assegurar cidadania, reduzir desigualdades e permitir que cada indivíduo participe de forma ativa da sociedade. O caminho para isso passa pela valorização da escola, do professor e, sobretudo, pela compreensão de que a alfabetização plena é um direito humano básico, que precisa ser tratado como prioridade nacional.

Reportagem: Redação
Grupo Planalto de Comunicação

 

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