Grupo Planalto de comunicação

Do Rio Grande ao Pantanal: o Nordeste tem progresso, cultura, mas estradas intransitáveis! Acompanhe o artigo do comunicador Dilerman Zanchet, do Grupo Planalto de Comunicação

“Ó xente! Ceis não creditam no que passamos! ”

Assim poderia começar a narrativa da quarta-feira vivida entre Bahia e Piauí. Foram apenas 197 quilômetros percorridos, mas em estradas de chão batido que desafiam a resistência de qualquer viajante. Não se tratava de uma estrada comum. Aquelas rotas deveriam, em tese, conduzir a água potável para comunidades pobres, esquecidas, invisíveis aos olhos de quem governa.

A água chega, quando chega, em caminhões-pipa controlados pelo Exército. Mas mesmo esse controle depende da sorte e da sobrevivência de cada comunidade. Nossa aventura começou às seis horas da manhã e só terminou por volta das sete da noite, quando reencontramos o asfalto. Foram horas e horas a 10, 15, 20 km por hora, cruzando trechos praticamente intransitáveis. Resistência e coragem, marcas do gaúcho, se fizeram presentes. Mérito especial a Célio Jr., motorista atento e responsável, que nos conduziu até a segurança da estrada pavimentada.

O alívio da chegada foi imediato. “PelamordeDeus, essa nunca mais”, desabafou alguém do grupo. Mas sobrevivemos. E nosso destino seguinte foi Paranã, já no Tocantins, onde a cultura gaúcha ecoa em cada esquina. Lá, muitos moradores ainda cantam as canções de Teixeirinha, transmitidas de geração em geração como se fossem canções de ninar. Foi nessa cidade que pernoitamos, preparando-nos para seguir rumo a Gurupi, onde o CTG Querência do Norte nos aguardava.

Mas é preciso voltar ao trecho de chão. É inconcebível que um governo que se diz popular permita que milhares de famílias vivam à mercê da sorte. Em quase 200 quilômetros percorridos, não encontramos absolutamente nada de presença efetiva do poder público. O que existe, e em larga escala, é o Bolsa Família — que, no Nordeste inteiro, representa a principal fonte de renda para as camadas mais pobres.

Assim é fácil governar. Pergunte a qualquer empresário local sobre mão de obra e a resposta será direta: “difícil”, porque o assistencialismo impera. E o que aquelas pessoas produzem? Nada. Não por falta de vontade, mas porque não há condições mínimas: falta água até para cozinhar, quanto mais para cultivar.

E não disseram que o povo jamais seria abandonado?

Já no Tocantins, o cenário muda. O relevo é outro, assim como no Oeste baiano. As lavouras se multiplicam: algodão em colheita, milho sendo plantado, soja prestes a germinar. Ali pulsa o celeiro do Brasil, a região que move safras e garante produção.

Amanhã, conto mais. Porque a estrada ainda guarda histórias.

Por Dilerman Zanchet

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