Por Dilerman Zanchet
Migração e pioneirismo
O desenvolvimento do Centro-Oeste brasileiro, especialmente de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, não pode ser contado sem destacar a presença dos gaúchos. A partir da década de 1970, milhares de famílias deixaram o Rio Grande do Sul em busca de terras férteis e oportunidades no cerrado. Segundo estudos do IBGE, mais de um milhão de gaúchos migraram para a região nas últimas décadas, transformando não apenas a paisagem econômica, mas também a social e cultural.
Em Chapadão do Sul, município que se tornou símbolo da agricultura de alta produtividade, a memória dos pioneiros ainda está viva. Um exemplo é a trajetória de Júlio Alves Martins, que chegou da cidade gaúcha de Frederico Westphalen guiando um táxi, trazendo desbravadores e sonhos. Empresário, piloto e incentivador da aviação agrícola, Júlio foi um dos nomes que ajudaram a construir a base do agro local. Hoje, parte de sua história está preservada em um museu mantido por seu filho, Juliney, onde aviões, automóveis e documentos contam o início de uma jornada marcada por coragem.
Campo Grande: capital em expansão
Com 930 mil habitantes (IBGE, 2022), Campo Grande é a capital que reflete a força do Mato Grosso do Sul. Sua urbanização planejada e o crescimento equilibrado garantiram índices de qualidade de vida superiores à média nacional — o município tem um IDH de 0,784, considerado elevado (PNUD).
No campo, a pujança impressiona: em 2024, Mato Grosso do Sul colheu mais de 65 milhões de toneladas de grãos, com destaque para soja, milho, trigo irrigado, algodão e, mais recentemente, amendoim (Conab). A produção agropecuária responde por cerca de 30% do PIB estadual, consolidando o estado como um dos grandes celeiros do Brasil.
Bioparque Pantanal: ciência e turismo
Entre os marcos recentes da capital está o Bioparque Pantanal, inaugurado em 2022 e considerado o maior aquário de água doce do mundo. São 6,6 milhões de litros de água distribuídos em 32 tanques e mais de 380 espécies catalogadas. O espaço recebe, em média, 1.500 visitantes por dia, e já superou a marca de um milhão de visitantes desde a inauguração (dados do governo estadual, 2024).
Mais do que atrativo turístico, o Bioparque representa investimento em ciência, pesquisa e preservação do Pantanal — a maior planície alagável do planeta, patrimônio natural que cobre 15 milhões de hectares do território sul-mato-grossense.
O legado gaúcho
Os gaúchos ajudaram a introduzir técnicas de plantio direto, cooperativismo e modernização da produção, que transformaram o cerrado em uma das áreas mais produtivas do mundo. Além do impacto econômico, trouxeram também tradições culturais: o chimarrão, os CTGs (Centros de Tradições Gaúchas) e festas típicas, que hoje fazem parte da identidade local.
Em Campo Grande e no interior, esses traços são visíveis tanto na economia quanto na vida social. A migração sulista consolidou o Centro-Oeste como fronteira agrícola, mas também como espaço de integração cultural.
Do Rio Grande ao Pantanal
O projeto “Do Rio Grande ao Pantanal pelo Brasil”, que percorre estradas e cidades em busca de narrativas históricas e culturais, reforça esse elo entre regiões. A presença gaúcha no Centro-Oeste não é apenas um capítulo da história da migração interna: é parte essencial da construção de um Brasil mais integrado, produtivo e diverso.