Na noite dessa quarta-feira, 5 de novembro, a literatura voltou a ocupar os bares de Passo Fundo com uma nova edição do Leituras Boêmias e Cevadas Literárias. A atividade, que integra a programação de retomada das Jornadas Literárias, foi realizada no Bokinha, na Rua Independência, reunindo o público em torno de uma proposta que alia literatura, música e convivência. O encontro contou com a presença dos escritores Patricia Souza de Lima e Ricardo Maurício Gonzaga, vencedores do Prêmio Sesc de Literatura 2024, que compartilharam suas obras, experiências e reflexões sobre o papel da literatura contemporânea. A música ficou por conta de Arthur de Faria.
A retomada do projeto marca um momento simbólico para as Jornadas Literárias, que vive um processo de reconstrução e renovação anunciado também na quarta-feira. Durante o evento, um dos coordenadores da Jornada, o professor da Universidade de Passo Fundo (UPF) Miguel Rettenmaier, destacou a importância de manter viva a tradição literária que acompanha Passo Fundo desde 1981, quando teve início a dinâmica que orienta a Jornada até hoje: trabalhar as obras antes do encontro com os autores, promovendo uma vivência mais profunda com a literatura. “Fico feliz com a retomada do Leituras Boêmias, que é esse momento em que nos encontramos para celebrar a literatura no bar, para conversar sobre literatura, conversar sobre arte e humanizar as nossas relações pela empatia, que é fundamental nesse momento”, disse.
Em um clima de celebração pelo reencontro, os participantes refletiram sobre o significado de se reunir para conversar sobre arte, literatura e música, especialmente após um período de desafios para a continuidade das ações literárias. “A Jornada está se restabelecendo de um momento muito difícil. Agora é hora de reconstruir juntos, de a comunidade ajudar a fazer a Jornada. Assim, juntos, vamos reestabelecer, recontextualizar, mudar o que for preciso e reafirmar nosso papel como Capital Nacional da Literatura”, completou Rettenmaier.
O que é literatura
Em meio a muita música e poesia declamados pelo público, os escritores Patrícia Lima e Ricardo Maurício Gonzaga compartilharam um pouco de suas obras e das vivências como escritores.
Patrícia é autora do livro de poesias O amor é um solo de jazz e coordena o clube de leitura Cevadas Literárias, que promove debates sobre literatura em bares. Sua obra vencedora do Prêmio Sesc Literatura, A glória dos corpos menores, é um livro de 11 contos, que aborda temas como envelhecimento, solidão e invisibilidade, além de experiências extremas da condição humana. Embora inclua temas como suicídio e feminicídio, o foco está na complexa relação dos personagens com a existência.
Ao falar sobre literatura, a escritora pontuou que, dentre muitas coisas, a literatura é a vida, a realidade, somada à imaginação transformadas por meio da linguagem. “É como se a vida fluísse por meio das palavras, e isso para mim é uma das coisas mais incríveis, que é justamente de onde eu venho, da leitura. E transformar de alguma forma a minha realidade, a minha percepção de mundo, é maravilhosa. Eu acho que a literatura é isso, essa transformação, essa alquimia”, disse.
Já Ricardo Maurício Gonzaga é, acima de tudo, um artista, que transita entre as artes visuais, o teatro e a literatura. Sua paixão pela palavra o levou a escrever contos, sendo duas vezes finalista do Prêmio Sesc de Literatura, e culminou no lançamento do romance Bololô: Gaiola Vazia, inspirado em um de seus contos premiados. O livro traz uma narrativa intensa e envolvente que acompanha a vida de Roque Perigo e seus irmãos.
Para ele, a literatura começa com a alegria de ler e, em seguida, com a alegria de escrever. “É uma espécie de oportunidade para quem entra nessa possibilidade de abrir novos mundos e os próprios mundos, a própria visão de mundo das pessoas e fazer uma ligação entre memória e imaginação, de modo que você possa compartilhar aquilo que você pensa em relação à vida com todos, com todos os leitores e leitoras”, completou.










