No final do Ano Litúrgico, a liturgia oferece textos bíblicos com ensinamentos apocalípticos e escatológicos (Malaquias 3,19-20, Salmo 97, 2 Tessalonicenses 3,7-12 e Lucas 21,5-19). Falar de escatologia sempre é um risco, porque todo discurso, com frequência, é identificado e compreendido com catástrofes que anunciam o fim do mundo, a recompensa dos justos e punição eterna dos maus. Na verdade, os textos bíblicos, principalmente o Evangelho, têm uma perspectiva bem diferente. Se trata de assumir a responsabilidade de viver e de agir bem no tempo presente. Pois, o tempo presente é o crucial e a hora é agora, não amanhã.
A palavra apocalipse, na Escritura, não significa “desastre”, mas “revelação” de uma coisa desconhecida: “Revelação de Jesus Cristo” (Ap 1,1). “Essas palavras de Jesus revelam não algo de estranho e oculto, mas o sentido profundo da nossa realidade presente: elas tiram o véu que nossos medos e nossos erros nos colocaram diante dos olhos, e nos permitem ver aquela verdade que é a Palavra definitiva de Deus sobre o mundo (escatológico = que diz a palavra última e definitiva)” (Silvano Fausti – Uma comunidade lê o Evangelho de Lucas).
O ensinamento escatológico de Jesus no Evangelho é desencadeado pelo anúncio da destruição do esplêndido Templo de Jerusalém, construído por Herodes durante 10 anos, iniciado no ano 20 a.C., mas as decorações se estenderam até o ano 64 d.C. e, sua destruição aconteceu no ano 70 d.C. Depois, Jesus fala de guerras entre povos, terremotos, fome, pestes, perseguições e outros tantos sofrimentos. O foco da pregação de Jesus não está em prever estes acontecimentos, pois todos nós os podemos constatar e ver diariamente na história da humanidade, passada e presente.
A questão que Jesus coloca aos cristãos e para todas pessoas de boa vontade é como viver em tempos de crise e de destruição? Como comportar-se quando as forças vitais parecem desaparecer num contexto onde, por toda parte, despontam destruição e decadência. Onde se apoiar quando as estruturas, exemplificado no Templo, são destruídas? As perguntas colocadas a Jesus indicam a dificuldade de as pessoas entender o que estava ensinando. Certamente, nós perguntaríamos do mesmo modo. “Mestre, quando acontecerá isto? E qual vai ser o sinal de que estas coisas estão para acontecer?” Jesus aponta dois caminhos para nós vivermos bem o tempo presente.
Diante da pergunta do “quando” e de “quais sinais”, Jesus aponta o primeiro caminho: “cuidado para não serdes enganados, porque muitos virão em meu nome dizendo: “Sou eu”! e ainda: O tempo está próximo”. Os textos bíblicos citam falsos profetas induzindo o povo ao erro e verdadeiros profetas apontando para o caminho certo. Na ânsia de salvar a própria pele, ensinamentos mirabolantes entusiasmam. Falsos profetas usam o nome de Deus, têm aparência de fidelidade, mas na verdade oferecem caminhos que distanciam de Deus. O enganador atrai a atenção sobre si mesmo, quer fazer dos ouvintes seus seguidores e não está interessado no bem dos outros.
O segundo caminho indicado por Jesus “é permanecendo firmes que ireis ganhar a vida!” Tribulações, tragédias, problemas e perseguições fazem parte da condição humana. Quando as dificuldades aparecem é muito forte a tentação de abandonar ou se acomodar no caminho da vida cristã. A solução de abandonar o caminho é falsa. Somente quem persevera consegue alcançar a meta. Por isso, faz-se necessário uma dupla fidelidade: a Deus que é a origem e a meta do peregrinar no mundo e ao próximo com quem se caminha.
Portanto, todos os ensinamentos escatológicos e apocalíticos não têm por objetivo mostrar que o mundo está chegando ao seu final, mas em direção ao objetivo. O importante é a relação que a meta final tem com o nosso caminho atual. “Quando” e quais “sinais” sobre o fim do mundo? Jesus “se recusou e se recusará sempre a responder. Veio nos ensinar que o mundo tem no Pai o seu início e o seu fim, e nos chama a viver o presente nessa ótica, a única que dá sentido à vida” (Silvano Fausti).
Dom Rodolfo Luís Weber – Arcebispo de Passo Fundo











